sábado, 21 de setembro de 2013

A importância do exercício aeróbico para o cérebro


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Somente na última década pesquisadores começaram a examinar se a prática da musculação poderia potencialmente acarretar benefícios para os elementos da função cognitiva, que envolve os processos mentais e as capacidades relacionadas à memória, à aprendizagem, ao pensamento e ao raciocínio. No entanto, os efeitos do exercício aeróbico sobre essas funções cerebrais têm sido examinados há muito mais tempo. Paralelamente, muitos estudos afirmam que o exercício aeróbico pode ser uma medida eficaz para preservar componentes da cognição.
Em conversa pelo telefone, o Dr. Kirk Erickson, pesquisador de renome mundial e professor daUniversity of Pittsburgh, me disse que ao longo dos anos houve muito mais estudos randomizados sobre os efeitos do exercício aeróbico do que da musculação sobre a função cognitiva.
“Consequentemente, estamos muito mais convictos do impacto do exercício aeróbico sobre o cérebro,” acrescentou o professor, que completou dizendo que, “no caso dessa modalidade física, há evidências determinantes apontando que tal pratica possui poderosos efeitos terapêuticos e protetores sobre o cérebro, o que pode potencialmente melhorar a cognição e também prevenir o declínio cognitivo.”
Muitos estudos envolvendo a prática do exercício aeróbico apontam para resultados convincentes nesta área. Um trabalho muito citado no meio da fisiologia do exercício é a meta-análise do professor Francesco Sofi, da University of Florence, que de forma contundente comprova os benefícios cognitivos que são decorrentes da prática do exercício.
O estudo, que foi publicado no Journal of Internal Medicine, avaliou o papel da atividade física em indivíduos sem demência, ou seja, pessoas com as funções cerebrais saudáveis, e concluiu que tal pratica proporciona uma proteção significativa e consistente contra o declínio cognitivo.
O Dr. Sofi apontou que 90% dos estudos que ele examinou em sua meta-análise envolviam atividades aeróbicas como, por exemplo, a caminhada, a marcha atlética, o ciclismo ou o jogging.
Na verdade, a pesquisa sobre o tema em discussão é robusta, e há algum tempo que já é reconhecida no meio da fisiologia do exercício. No entanto, as explicações sobre os principais mecanismos que são responsáveis pela melhoria da habilidade cognitiva, decorrentes da prática do exercício aeróbico, têm sofrido mudanças com o passar dos anos e ainda são debatidas intensamente.
Perguntei ao Dr. Erickson sobre as alterações das diferentes teorias, e ele afirmou: “Eu acho que o nosso conhecimento dos mecanismos básicos está em constante evolução. No começo, a nossa explicação para os efeitos protetores que a atividade física exercia sobre a cognição focava principalmente a circulação sanguínea, a vascularização e o fornecimento de oxigênio para as diversas regiões do cérebro. Porém, esta se modificou ao tomarmos conhecimento de que o exercício influencia de forma favorável os sistemas de neurotransmissores e os diversos fatores de crescimento no cérebro.”
Assim sendo, as tentativas de compreender melhor os mecanismos biológicos responsáveis por muitas dessas mudanças estão em pleno curso em diversas universidades internacionais. No entanto, querendo aprofundar mais o assunto, eu perguntei ao Dr. Erickson qual seria o rumo da pesquisa em tal área no futuro.
“Um dos temas em que os pesquisadores da área estão atualmente mais interessados é em averiguar o efeito do exercício sobre as beta-amilóides, que são consideradas uma das principais causas da doença de Alzheimer. Consequentemente, um número maior de pesquisas está começando a examinar se o exercício tem alguma ação sobre essas proteínas. Em caso de o exercício ter influência, também há interesse em determinar os mecanismos pelos quais a atividade física poderá combater as beta-amilóides.”
Com o envelhecimento, as funções cognitivas, tais como a atenção, a memória e a concentração, começam a funcionar com menos eficiência. Além disso, com o envelhecimento da população há uma pressão sobre a comunidade científica para encontrar formas de preservar estas habilidades. Consequentemente, o papel do exercício em sustentar algumas dessas habilidades mentais vitais pode tornar-se ainda mais importante.
De acordo com o Dr. Erickson, o exercício aeróbico parece ser eficaz na melhoria das funções cerebrais e na diminuição dos riscos que possam conduzir à demência. No final da nossa entrevista, solicitei ao Dr. Erickson que desse aos nossos leitores uma ideia da carga mínima de atividade física que ele considera necessária para uma pessoa começar a acumular benefícios protetores sobre a cognição. Com muita segurança e convicção, ele disse que as pessoas, na verdade, não precisam de uma grande carga de exercícios aeróbicos para começar a obter ganhos relacionados com a função cognitiva.
“Nós já observamos vantagens significativas, até mesmo em pessoas que estão cognitivamente saudáveis, com a implementação de protocolos de atividade física de intensidade moderada (60 a 70% da frequência cardíaca máxima), executados apenas três dias por semana e com uma duração de 30 a 45 minutos,” explicou ele.
Portanto, como os benefícios do exercício aeróbico são tão nítidos, me parece que há poucas desculpas para uma pessoa não incorporar regularmente este tipo de atividade física no seu dia-a-dia, com exceção obviamente daqueles para quem o exercício é contra-indicado por razões médicas. Além disso, a atividade física pode muito bem ser um dos instrumentos mais eficazes e acessíveis para homens e mulheres na prevenção contra diversos males. De fato, uma grande variedade de estados patológicos poderiam possivelmente ser combatidos e até mesmo interrompidos o quanto antes se optássemos por calçar nossos tênis de corrida com maior frequência. Porém, nunca é tarde para dar aquela caminhada ou corridinha.
Estadão. Ricardo Guerra. 10.09.2013.

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