Um escritório de advocacia não pode se dar ao luxo de escrever como os jornais. Isto é, seus textos não podem conter tantos erros de português ou falta de clareza e objetividade, como os que se veem nas publicações diárias. As bancas não podem, por exemplo, enviar ao juiz um memorando com o título "Erramos", para ser inserido nos autos. Por isso, o processo de revisão de textos tem especial importância. Um texto é uma espécie de espelho da casa — o primeiro reflexo da credibilidade. E é também a primeira indicação de profissionalismo.
O principal objetivo da seção "Erramos" da maioria dos jornais é restaurar a credibilidade do veículo. Pode parecer ridículo o reconhecimento público do jornal de que "o investimento para a Expo-2020 é de R$ 24 bilhões, não de R$ 24 milhões, como publicamos", feito pela Folha de S.Paulo, por exemplo. Mas isso não importa. O que pesa mais é a mensagem que o jornal transmite aos leitores de que está comprometido com a boa informação — e que, por isso, merece credibilidade.
Um texto de jornal produzido em Brasília pode passar pelas mãos de um editor local, um editor em São Paulo e mais um ou dois revisores em São Paulo, antes de ir para impressão. Mesmo assim, "a Folha publica 99 informações erradas por edição", segundo um levantamento do próprio jornal.
Idealmente, o processo utilizado pelos jornais deveria ser adotado também pelos escritórios de advocacia. Todo texto — petições, memoriais, notificações, contratos e cartas a clientes, por exemplo — deveria passar pelo escrutínio de um editor e de um revisor. Assim, todo escritório de advocacia — ao menos os de portes médio e grande — deveria contratar um revisor com uma alta dose de paixão pelo bom português, mesmo que saiba pouco de Direito.
O editor tem a função de cuidar, essencialmente, do conteúdo do texto. Observar como as ideias foram concatenadas, como o texto foi escrito (o estilo), se há sentenças ou parágrafos confusos, frases que não fazem sentido, palavras ou grupos de palavras que podem ser substituídas por uma palavra que carrega maior propriedade e, sobretudo, palavras, sentenças e ideias que devem ser cortadas, porque não fazem nenhum bem ao propósito do texto. Na firma, essa função deve ser exercida por um advogado, com condições de avaliar se o texto faz sentido e se cumpre os objetivos a que se destina.
O revisor faz o que o autor do texto ou um editor não conseguem fazer com competência: examinar a ortografia, as concordâncias verbais e nominais, a pontuação, o uso correto das preposições e todas as demais regras gramaticais. O autor do texto e o editor têm mais dificuldades para se concentrar na gramática porque há uma tendência natural de se focar no conteúdo e também no estilo. O revisor é treinado para se ocupar das particularidades do idioma.
As publicações diárias têm desculpas para a quantidade de erros em suas páginas: a pressa e o volume de trabalho são duas delas. A advocacia também tem deadlines, mas, muitas vezes, os textos podem ser concluídos a tempo de passar por um processo acurado de edição e revisão.
Para as firmas que não podem contratar um revisor, uma coleção de sites — Daily Writing Tips, LR Communicações Systems, About.com, LexisOne, entre outros — dão dicas para melhorar a revisão:
1. Use um corretor ortográfico. É uma correção mecânica e automática, que pode pegar erros de ortografia, de acentuação e até mesmo de concordância verbal. Mas não é confiável, porque muitos erros de digitação resultam em palavras existentes. Por exemplo, se você digitar "eros" em vez de "erros", o corretor não vai apontar o erro porque as duas palavras existem. Dicionários também continuam úteis, não só para conferir a grafia correta de uma palavra, mas também para se escolher a palavra mais precisa para se expressar uma ideia;
2. Peça a alguém para fazer a revisão do texto. O pior revisor é o autor do texto, porque ele se apega ao conteúdo e esquece da gramática, antes de chegar ao terceiro parágrafo. Outra pessoa, que vê o texto pela primeira vez, pode ser mais eficiente na busca de erros gramaticais — ou até mesmo de estilo. Se a revisão for feita em texto no computador, o revisor tem quetem de usar o rastreador de correções. É uma forma de submeter as correções à aprovação do autor do texto e, ao mesmo tempo, ajudá-lo a aperfeiçoar sua redação e seu estilo.
Se o revisor também estiver exercendo a função de editor e encontrar palavras maumal usadas, títulos que podem ser melhorados, parágrafos confusos ou fora de lugar, é melhor apontar as falhas ao autor do texto — e até mesmo sugerir alternativas — do que se meter a reescrever e fazer bobagens. É por isso que, nas publicações diárias, se vê tantos títulos que não correspondem ao que está escrito nas reportagens.
3. Faça a revisão em um texto impresso. É um procedimento antigo, ainda o favorito de muitos revisores. Fazer a revisão em um formato diferente ajuda. Alguns escritores, quando fazem a revisão de seu próprio texto no computador, preferem mudar o formato — o tipo e o tamanho das letras — para tentar se desapegar do conteúdo. Mas a revisão no papel é menos cansativa do que no computador. E tem a vantagem de se poder colocar uma régua logo abaixo da sentença que está sendo lida.
4. A concentração é a chave. Em alguns casos, é possível deixar para fazer a revisão horas depois da finalização do texto — ou no dia seguinte. Para textos com deadline apertado, como os das publicações diárias, essa é uma recomendação impossível de ser atendida. Mas, quando há tempo, essa recomendação é útil, porque o intervalo pode ajudar a mente a se afastar do conteúdo. Quem não pode deixar para depois tem de achar maneiras de se concentrar — incluindo não ser interrompido por pessoas, telefonemas etc. Essa é outra causa de muitos erros nas publicações. Nas redações, é quase impossível se concentrar.
5. Leia o texto em voz alta. Em um lugar compartilhado por muitas pessoas, isso pode ser uma prática inconveniente. Talvez possa ser feito "a meia voz". No entanto, realmente ajuda a encontrar erros, principalmente os de concordância, quando a frase é um tanto longa. A busca por erros de concordância, aliás, deve ser sistemática, porque eles dói no ouvido — quer dizer, [os erros] doem... Ler bem devagar é uma alternativa. Mais uma alternativa: usar o dedo indicador para apontar cada palavra que se está lendo.
6. Leia o texto de trás para a frente. É uma recomendação um tanto estranha, mas é feita por todos os sites de revisão consultados. A razão é que o cérebro processa correções automáticas na leitura de um texto, com o qual ele já está familiarizado e, por isso, passam despercebidos. O texto intero pode ser lido de trás para a frente ou isso pode ser feito por sentenças — "sentenças por feito ser pode isso ou frente a para trás de lido ser pode intero texto o". Dá para perder a grafia errada de "inteiro"?
7. Revise uma coisa de cada vez. É uma recomendação para perfeccionistas. Há quem tenha disposição e tempo para fazer revisões separadas de estrutura de sentenças, de concordâncias, de ortografia, de acentuação e de pontuação. Difícil é encontrar tempo para fazer tudo isso. Sai mais em conta contratar um revisor profissional. Há revisores que trabalham por tarefa ou empreitada.
8. Cheque todos os nomes e todos os números, separadamente. Essa conferência merece ser feita em separado, porque erros na grafia de nomes ou em valores ou datas podem ser desastrosos. Imagine uma carta dirigida a um cliente que a firma está se esforçando para conquistar, com a grafia errada de seu nome. Errar um nome é, possivelmente, o maior "crime" que um redator pode cometer — em alguns casos, podem ser punidos com "pena de morte" (para o relacionamento entre o cliente e o advogado). Para jornais, pode resultar em processo, embora possa não gerar danos (veja texto).
9. Mantenha uma lista de seus erros ordinários, especialmente de digitação. E, especialmente, aqueles que resultam em outra palavra existente no idioma e que não serão detectados pelo corretor ortográfico. Faça uma busca, no editor do Word, por essas palavras, porque elas podem escapar à revisão visual.
10. Defina uma "política de revisão" para a firma. O advogado e escritor Robert Unterberger, que treina advogados em redação e revisão de textos, afirma que isso é tão importante para as firmas que elas deveriam se ver como "editoras". Afinal, todo o material escrito produzido pelas firmas é importante.
Fonte: Consultor Jurídico
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