terça-feira, 23 de abril de 2013

Quando se criminaliza a vítima


Por Walter Takemoto* 
Um jovem estudante de comunicação foi assassinado em São Paulo na porta do prédio em que morava. Mesmo entregando o celular ao assaltante, um adolescente, Victor Deppman, foi baleado na cabeça e morreu. Esse brutal assassinato provocou reações imediatas de protesto e campanha em defesa da redução da maioridade penal, com apoio do governador do Estado e várias matérias nos meios de comunicação, passeatas nas ruas e outras manifestações.

"Se é possível uma comparação, eu diria que a morte de Itamar representou uma destruição ainda mais dolorosa de grandes esperanças depositadas em um jovem que, vindo de uma família humilde, iria ao final do ano concluir o curso superior em uma universidade pública"

Na cidade de Salvador (BA) no sábado pela manhã foi encontrado o corpo do também jovem Itamar Souza, que como o Victor também estudava comunicação, e iria concluir o curso de Produção Cultural na UFBA. Segundo a polícia roubaram dele "R$ 1,80, e dois celulares bem simples e um relógio também bem simples".
Sonhos
Victor e Itamar morreram de forma violenta, brutal, que destruiu os sonhos deles e de seus familiares. E se é possível uma comparação, eu diria que a morte de Itamar representou uma destruição ainda mais dolorosa de grandes esperanças depositadas em um jovem que, vindo de uma família humilde, iria ao final do ano concluir o curso superior em uma universidade pública. Provavelmente o primeiro da família a alcançar esse feito, que normalmente é reservado para a elite baiana.
Mas as diferenças entre esses dois jovens se aprofundaram com suas mortes.
Mídia
Se a morte do Victor ganhou destaque nacional, matérias no horário nobre da Rede Globo e em seus principais telejornais, servindo de exemplo para ampliar o desejo de muitos de ver atrás das grades crianças e adolescentes “marginais e assassinos”, o que quase sempre representa serem pobres, negros e favelados, a morte do Itamar ganhou um outro tratamento. No G1, portal da Rede Globo que hospeda a Rede Bahia, o título da matéria sobre a morte do Itamar tinha como chamada “Vítima e suspeitos iam fazer sexo grupal, diz polícia sobre jovem morto”, destacando o fato do Itamar ser assumidamente homossexual e inferindo que o seu comportamento foi responsável pela sua morte.
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E aí eu pergunto: alguém colocou nas matérias sobre a morte do Victor que ele morreu por ser branco, estudar em uma

"Não é possível que uma sociedade civilizada e democrática continue aceitando passivamente que manifestações homofóbicas sejam expressas impunemente"

faculdade particular com mensalidade elevada, usar roupas, celular e morar em um prédio que despertava a atenção de quem não podia ter nada disso, como o adolescente que o matou e, portanto, a ostentação é que provocou a sua morte?
A delegada entrevistada errou em sua declaração, mas o erro maior é da imprensa e do jornalista que escreveu a matéria, que com o seu texto reforça o discurso homofóbico de promiscuidade, comportamento de risco e imoralidade que os setores reacionários e obscurantistas esbravejam sempre que um homossexual é assassinado, criminalizando a vítima e inocentando o assassino.
Homofobia
Não é possível que uma sociedade civilizada e democrática continue aceitando passivamente que manifestações homofóbicas sejam expressas impunemente, pois um texto nos meios de comunicação, que é ofensivo e desrespeitoso, só é publicado por não se criminalizar crimes ainda maiores, como o assassinato de um ser humano.
E mais uma vez eu repito: o pastor Feliciano nada mais é que o boneco de ventríloquo dos que de fato dominam o nosso país.

 Walter Takemoto é educador
Caros Amigos. 20.04.2013.

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