Pesquisa de entidade ligada à ONU mostra que alunos sentem medo na hora do recreio.
Um levantamento inédito sobre as principais preocupações da população brasileira indica que o medo da violência está invadindo um território-símbolo da inocência: o pátio do recreio. Dados preliminares de uma pesquisa do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) revelam que 20% dos jovens em idade escolar sofrem com o clima de agressividade no local onde estudam – e o temor é reforçado durante o intervalo das aulas.
Desde o início do ano, o Pnud coleta por meio da internet respostas para a pergunta “o que precisa mudar no Brasil para a sua vida melhorar de verdade?”. Colheu ainda opiniões em audiências públicas realizadas em várias cidades brasileiras com a intenção de elaborar um conjunto de relatórios sobre as mazelas nacionais. Dos mais de 221 mil internautas que haviam participado do levantamento até o início da noite de ontem, cerca de 60% eram jovens com idade entre oito e 18 anos. Entre eles, as principais preocupações demonstradas foram a violência e a qualidade escolar da rede pública, reunindo cerca de 20% das manifestações cada uma.
– Mas alguns depoimentos nos impressionaram porque os alunos revelam que sentem medo na hora do recreio. Isso choca porque, até algum tempo atrás, as crianças faziam questão de ir para a escola justamente para brincar – avalia o coordenador nacional do trabalho, Flavio Comim.
Um dos relatos que se destacaram entre centenas de milhares de depoimentos remetidos pela internet é o de um estudante para quem “o recreio é horário de pânico” devido ao temor de agressões e de pressões psicológicas de colegas, conhecidas por bullying.
– Esse tipo de depoimento, embora não tenhamos números específicos de quantos são, parece indicar que a violência escolar pode ser maior e mais preocupante do que imagina a nossa sociedade – analisa Comim.
Escola de Viamão teve de suspender intervalo
A Escola Municipal Luciana de Abreu, de Viamão, recentemente se tornou um exemplo dos temores que envolvem o período de intervalo – quando os alunos interagem com maior liberdade, o que pode dar vez a rusgas e brigas, e os colégios ficam mais vulneráveis a invasões de pessoas de fora, como namorados e namoradas de estudantes, gangues e outros grupos. Durante 10 dias, o estabelecimento decidiu cancelar o período de recreio devido à ausência de um porteiro.
Conforme a vice-diretora da escola, Elisete Gonzales, o servidor tinha a função de inibir que pessoas estranhas procurassem invadir o pátio. Conforme uma professora, também ajudava a monitorar os alunos.
– Em um colégio próximo, houve um caso em que uns 25 jovens entraram na escola durante o intervalo. Há gangues que agem na área das escolas. Então, como estávamos sem porteiro, decidimos em reunião com os pais suspender o recreio – argumenta Elisete, ressaltando que o período foi retomado nesta semana, e a chegada de um funcionário hoje ao colégio deve regularizar a situação.
Durante o recesso, as crianças e adolescentes permaneciam o tempo todo dentro das salas e saíam 15 minutos mais cedo. Outro problema são as animosidades entre os próprios estudantes. Conforme a presidente do Conselho Estadual de Educação e diretora do Sindicato dos Professores do Estado (Sinpro/RS), Cecília Farias, ele não se resume às redes públicas estaduais ou municipais.
– Isso também é problema na rede particular, conforme os relatos que chegam até nós, embora não tenhamos testemunhado casos graves recentemente – observa.
Zero Hora.
Nenhum comentário:
Postar um comentário