Ao tomar posse, em dezembro de 2006, o presidente do México, Felipe Calderón, reconheceu que "o crime organizado está fora de controle". Nesses poucos mais de três anos que se seguiram, 45 mil soldados do Exército e 29 mil policiais federais foram mobilizados para o combate às gangues do narcotráfico. As guerras entre as forças da repressão e os cartéis e entre estes deixaram cerca de 10 mil mortes (6.200 só em 2008). Perto de 60 mil envolvidos com entorpecentes (entre pequenos traficantes, membros graduados das "organizações" e matadores profissionais por elas contratados) foram presos. Setenta toneladas de cocaína, US$ 260 milhões e 31 mil armas (das quais 17 mil de grosso calibre) foram apreendidos.
O país vive a sua mais grave crise desde a Revolução de 1910. O crime organizado e a corrupção alcançam níveis assombrosos. Há poucos meses, o segundo homem do aparato judicial antidroga foi acusado de receber US$ 450 mil mensais de uma das máfias. Imagine-se o resto. Do outro lado da fronteira, documentos oficiais e pelo menos uma alta patente militar advertiram que o México, a 12ª economia mundial, pode representar um risco para a segurança nacional dos EUA, por estar próximo de virar um narcoestado e de fazer companhia ao Paquistão, como Estados falidos (failed states) em potencial.
Retrucam os mexicanos que o seu vizinho - maior mercado mundial de narcóticos e destino de 90% da cocaína que transita pelo México, um negócio de US$ 40 bilhões anuais - pouco faz para reduzir o consumo de cocaína (embora gaste nisso também cerca de US$ 40 bilhões e efetue 1,5 milhão de prisões por ano relacionadas com a droga).
A outra queixa mexicana é de que os Estados Unidos, ao permitir o comércio de armas, na prática municiam as gangues do pó: 90% dos seus arsenais (rifles semiautomáticos, metralhadoras, morteiros, granadas, fuzis de alta precisão e impacto) são contrabandeados dos EUA. Doze mil dos 107 mil pontos americanos de venda de armas funcionam nas proximidades da fronteira com o México, por onde entra uma média diária de 2 mil unidades.
Em visita ao país, esta semana, a secretária de Estado, Hillary Clinton, admitiu a "corresponsabilidade" americana sem meias palavras. "Nossa insaciável demanda por drogas ilegais alimenta o tráfico de drogas", reconheceu. "Nossa incapacidade para prevenir que armas sejam ilegalmente traficadas pela fronteira provoca a morte de criminosos, policiais, soldados e civis." Primeiro chefe de governo a ser recebido por Barack Obama, em janeiro, o presidente mexicano tinha proposto uma "parceria estratégica" contra o tráfico. Algo mais substancial do que o plano de US$ 700 milhões anunciado pela secretária de Segurança Interna dos EUA, Janet Napolitano, na véspera da viagem de Hillary Clinton.
O investimento em mais pessoal para controle da fronteira, serviços de imigração e alfândega, treinamento de policiais mexicanos e coordenação entre as respectivas agências federais faz parte da Iniciativa Merida, o plano de segurança para o México e América Central assinado pelo então presidente George W. Bush em 2007. O programa prevê um gasto de US$ 1,4 bilhão em três anos. Ciente, ao que parece, das limitações da iniciativa, Obama antecipou que, "se as medidas adotadas não forem suficientes, então faremos mais". O montante a ser gasto este ano equivale ao desembolso anual americano, entre 2000 e 2008, com o Plano Colômbia - o mais amplo e duradouro envolvimento dos EUA com a segurança de um país latino-americano na história recente. Ao custo de US$ 6 bilhões, foi concebido no governo Clinton para o combate às Farc e outros grupos narcoguerrilheiros.
O plano foi mais bem-sucedido contra o terrorismo do que contra a droga. Embora a área plantada de coca na Colômbia tenha diminuído pela metade, voltou a crescer nos últimos dois anos. E a produtividade aumentou. "Acabar com o narcotráfico é impossível", argumenta o procurador-geral do México, Eduardo Medina Mora, numa visão compartilhada por muitos de seus compatriotas. "Trata-se de recuperar o poder econômico e os arsenais acumulados pelas gangues nos últimos 20 anos, para privá-las da capacidade de minar as instituições nacionais e de contestar o monopólio do uso da força do Estado mexicano."
Estadão, 29/03/2009.
O país vive a sua mais grave crise desde a Revolução de 1910. O crime organizado e a corrupção alcançam níveis assombrosos. Há poucos meses, o segundo homem do aparato judicial antidroga foi acusado de receber US$ 450 mil mensais de uma das máfias. Imagine-se o resto. Do outro lado da fronteira, documentos oficiais e pelo menos uma alta patente militar advertiram que o México, a 12ª economia mundial, pode representar um risco para a segurança nacional dos EUA, por estar próximo de virar um narcoestado e de fazer companhia ao Paquistão, como Estados falidos (failed states) em potencial.
Retrucam os mexicanos que o seu vizinho - maior mercado mundial de narcóticos e destino de 90% da cocaína que transita pelo México, um negócio de US$ 40 bilhões anuais - pouco faz para reduzir o consumo de cocaína (embora gaste nisso também cerca de US$ 40 bilhões e efetue 1,5 milhão de prisões por ano relacionadas com a droga).
A outra queixa mexicana é de que os Estados Unidos, ao permitir o comércio de armas, na prática municiam as gangues do pó: 90% dos seus arsenais (rifles semiautomáticos, metralhadoras, morteiros, granadas, fuzis de alta precisão e impacto) são contrabandeados dos EUA. Doze mil dos 107 mil pontos americanos de venda de armas funcionam nas proximidades da fronteira com o México, por onde entra uma média diária de 2 mil unidades.
Em visita ao país, esta semana, a secretária de Estado, Hillary Clinton, admitiu a "corresponsabilidade" americana sem meias palavras. "Nossa insaciável demanda por drogas ilegais alimenta o tráfico de drogas", reconheceu. "Nossa incapacidade para prevenir que armas sejam ilegalmente traficadas pela fronteira provoca a morte de criminosos, policiais, soldados e civis." Primeiro chefe de governo a ser recebido por Barack Obama, em janeiro, o presidente mexicano tinha proposto uma "parceria estratégica" contra o tráfico. Algo mais substancial do que o plano de US$ 700 milhões anunciado pela secretária de Segurança Interna dos EUA, Janet Napolitano, na véspera da viagem de Hillary Clinton.
O investimento em mais pessoal para controle da fronteira, serviços de imigração e alfândega, treinamento de policiais mexicanos e coordenação entre as respectivas agências federais faz parte da Iniciativa Merida, o plano de segurança para o México e América Central assinado pelo então presidente George W. Bush em 2007. O programa prevê um gasto de US$ 1,4 bilhão em três anos. Ciente, ao que parece, das limitações da iniciativa, Obama antecipou que, "se as medidas adotadas não forem suficientes, então faremos mais". O montante a ser gasto este ano equivale ao desembolso anual americano, entre 2000 e 2008, com o Plano Colômbia - o mais amplo e duradouro envolvimento dos EUA com a segurança de um país latino-americano na história recente. Ao custo de US$ 6 bilhões, foi concebido no governo Clinton para o combate às Farc e outros grupos narcoguerrilheiros.
O plano foi mais bem-sucedido contra o terrorismo do que contra a droga. Embora a área plantada de coca na Colômbia tenha diminuído pela metade, voltou a crescer nos últimos dois anos. E a produtividade aumentou. "Acabar com o narcotráfico é impossível", argumenta o procurador-geral do México, Eduardo Medina Mora, numa visão compartilhada por muitos de seus compatriotas. "Trata-se de recuperar o poder econômico e os arsenais acumulados pelas gangues nos últimos 20 anos, para privá-las da capacidade de minar as instituições nacionais e de contestar o monopólio do uso da força do Estado mexicano."
Estadão, 29/03/2009.
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