O chefe de cozinha Christian Robinson passou 12 dias terríveis na cadeia, antes de ter a chance de provar para um juiz sua inocência. Agentes da polícia de Denver, Colorado, cometeram uma série de equívocos na identificação de um traficante de drogas, que só foram esclarecidos com uma pequena ajuda do promotor, que informou o tribunal sobre algumas características do traficante. Robinson, então, baixou as calças e mostrou suas nádegas ao juiz que mandou libertá-lo.
A jornada de Robinson pelo sistema judiciário começou em 2010, em Las Vegas, Nevada. Ele foi bem-sucedido em uma entrevista para o cargo de chefe de cozinha de um grande hotel da cidade. Mas uma busca de seus antecedentes criminais revelou que havia um mandado de prisão contra ele em Denver, Colorado, por tráfico de drogas.
Robinson pegou um voo noturno para Denver e na manhã seguinte, bem cedo, foi à Delegacia de Polícia para explicar o erro. Os agentes de polícia que o atenderam acharam que havia diferenças entre sua aparência e a do traficante procurado pela Justiça. Robinson pediu a eles que fizessem comparação de impressões digitais, mas os policiais se negaram a fazê-lo. Em vez disso, por segurança, resolveram trancafiá-lo na cadeia mais próxima e deixar que um juiz decidisse o caso.
Robinson repetiu em vão que eles estavam prendendo o homem errado. Mas, no tribunal, o promotor o escutou e decidiu checar os autos do processo criminal. O homem procurado pela Justiça era, na verdade, o traficante Michael Cagle, que usava o pseudônimo de Christian Robinson. Descobriu-se, mais tarde, que a carteira de identidade de Robinson havia sido encontrada (ou roubada) por Cagle há alguns anos.
Ao ler os dados nos autos, o promotor informou que Cagle era seis anos mais novos, mais gordo, embora houvesse uma ligeira semelhança entre os dois, porque ambos eram carecas. Além disso, Cagle tinha várias tatuagens no corpo. Havia uma tatuagem bem grande do Scooby-Doo em suas nádegas. Nesse ponto, Robinson se levantou, baixou as calças e mostrou suas nádegas ao juiz, ao promotor e a quem mais quisesse examiná-las. Alguém examinou e não viu nem sinal de tatuagem nas nádegas de Robinson.
As investigações prosseguiram para se descobrir como tamanho erro poderia ter ocorrido. E a bomba estourou nas mãos de uma funcionária da polícia de Denver. Quando ela preparou o processo de denúncia de Robinson, havia na papelada o nome de Michael Cagle e o pseudônimo Christian Robinson. Ela pegou o primeiro nome que viu, o de Christian Robinson.
Porém, o número de identificação criminal de Robinson não batia com o que estava nos autos – o número era de Cagle. Assim, ela fez uma busca no sistema de identificação criminal da polícia e encontrou o número de Robinson. O chefe de cozinha havia sido identificado criminalmente há alguns anos, porque cometera um pequeno delito. Assim, a funcionária substituiu o número de Cagle pelo número de Robinson.
Quando se apresentou à delegacia de Denver, na tentativa de limpar seu nome, Robinson não convenceu os policiais de que havia um erro de identificação, porque ele não sabia nada sobre o real traficante, sobre o caso e nem mesmo sobre o fato de que Cagle já havia sido preso e confessado o crime. Os policiais chegaram a comentar que pareciam diferentes, mas se ativeram ao que viam no computador: o nome de Robinson e seu número de identificação criminal.
Na semana passada, a cidade de Denver propôs um acordo a Robinson, em um processo civil de indenização por danos. Ofereceram a ele a quantia de US$ 88.530, um acordo sujeito à aprovação do conselho da cidade. Além disso, por ordem do juiz, a polícia da cidade terá de rever todo o seu processo de identificação de criminosos. Segundo a American Civil Liberties Union (ACLU), a cidade de Denver já pagou, recentemente, indenizações a seis pessoas identificadas erradamente, no valor de US$ 569.250.
Robinson e seu advogado não estão satisfeitos com o valor da indenização. Mas Robinson está satisfeito com sua atitude à frente do juiz. Ele declarou à ABC News e outras publicações: “I stood up and what saved my butt that day was my butt” (literalmente, “eu fiquei em pé e o que salvou meu rabo naquele dia foi meu rabo”).
Revista Consultor Jurídico, 11 de janeiro de 2015.
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