Nesta sexta, dia 18 de outubro, oGlobo Repórter irá tratar de um assunto que envolve muita polêmica e cria muitos problemas para pessoas de todas as idades: oBullying.
No ambiente escolar, o Globo Repórter fala também sobre se os professores podem ajudar os alunos em caso de perseguição. O que fazer então quando a vítima é o professor?
O programa vai ao ar nesta sexta, na Globo, após a novela Amor À Vida.
‘Amigos se afastaram’, diz vítima de bullying por problema na coluna
Tatiane viveu uma infância tranquila até os oito anos, mas um problema na coluna obrigou a jovem a enfrentar uma mudança com sabedoria de adulto.
Osório, Rio Grande do Sul. Terra onde o vento sopra sem dó. Até os 8 anos, Tati viveu aqui uma infância tranquila. Mas um problema na coluna transformou seu corpo. E a criança teve que enfrentar a mudança com sabedoria de adulto.
"Eu ía continuar sendo a mesma pessoa, com um ossinho a mais nas costas, somente", diz Tatiane.
Jundiaí, interior de São Paulo. É farra na hora do recreio. Paulinho e Carol são novatos nesta escola. Acolhidos pela turma com muito carinho.
Carol: Eu não queria ser outra pessoa, queria ser do jeito que eu sou.
Globo Repórter: Tá bom assim?
Carol: Tá bom assim.
Globo Repórter: Tá bom assim?
Carol: Tá bom assim.
Globo Repórter: Você se acha gordinho?
Paulinho: Não, não acho!
Paulinho: Não, não acho!
Tati, Carol e Paulinho provaram cedo o gosto amargo do preconceito.
"Muito preconceito! Muitos amigos se afastaram, porque, ‘ah, ela é a corcundinha! Corcundinha de notre-dame!, tartaruga’", diz Tatiane Picinatto, monitora de educação especial.
Paulinho, 8 anos: Na minha escola, me chamavam de gordinho.
Globo Repórter: E você fazia o quê?
Paulinho, 8 anos: Chamava a professora, a diretora, mas elas não faziam nada!
Globo Repórter: Mas eu sei também que você pegava a sua mochila e...
Paulinho, 8 anos: ...atacava na bunda deles!
Globo Repórter: e eles paravam quando você fazia isso? E aí você ficava triste o tempo inteiro na escola?
Paulinho, 8 anos: Ficava, eu era um menino chateado, todos os dias.
Globo Repórter: E você fazia o quê?
Paulinho, 8 anos: Chamava a professora, a diretora, mas elas não faziam nada!
Globo Repórter: Mas eu sei também que você pegava a sua mochila e...
Paulinho, 8 anos: ...atacava na bunda deles!
Globo Repórter: e eles paravam quando você fazia isso? E aí você ficava triste o tempo inteiro na escola?
Paulinho, 8 anos: Ficava, eu era um menino chateado, todos os dias.
"Ninguém gostava de mim, eu chegava perto de alguém, saíam correndo", conta Carol, 10 anos.
Gozações e isolamento são coisas do passado. Nesta escola, bullying é assunto sério, coibido com firmeza.
"A tolerância é imprescindível, é saber exatamente até onde posso ir, até onde também o outro pode, conhecer o que o outro sente, e saber os limites também. Tolerar naquilo que é possível. Eu sou diferente de você, e você é diferente, né? E saber que não existe duas pessoas iguais”, conta Elaine Cardoso, diretora pedagógica.
"Eu nunca fiquei constrangida com nada. Eu sempre falei ‘se eu tenho, eu tenho que mostrar’. Não tenho que esconder. Se alguém perguntar, eu vou explicar; se alguém ficar olhando, eu vou perguntar se ela quer saber, vou procurar explicar", diz Tatiane.
Tati hoje é professora. Auxilia alunos com necessidades especiais a superarem os desafios.
Tati hoje é professora. Auxilia alunos com necessidades especiais a superarem os desafios.
"Como eu venci os meus, eu quero que eles também vençam os deles. Porque eles também são uma crianças normais. Com as limitações deles, mas especiais tanto quanto os outros", conta Tatiane.
Globo Repórter: E no começo, você sabia fazer as atividades da sala?
Hosana Cristina, 9 anos: Não.
Globo Repórter: E agora?
Hosana Cristina: Agora, eu sei.
Globo Repórter: E quem te ensinou?
Hosana Cristina: A professora Tati.
Globo Repórter: Faz tempo que vc conhece a Tati?
Hosana Cristina: Sim.
Globo Repórter: E você gostou dela logo de cara, porquê?
Hosana Cristina: Porque ela é muito bonita."
Hosana Cristina, 9 anos: Não.
Globo Repórter: E agora?
Hosana Cristina: Agora, eu sei.
Globo Repórter: E quem te ensinou?
Hosana Cristina: A professora Tati.
Globo Repórter: Faz tempo que vc conhece a Tati?
Hosana Cristina: Sim.
Globo Repórter: E você gostou dela logo de cara, porquê?
Hosana Cristina: Porque ela é muito bonita."
Outra criança, foi ainda mais inspirada.
"Quando eu fazia magistério, uma menina de apenas 6 anos chegou em mim e relatou o seguinte: ‘Tia! Eu sei que essa coisa que tu tem nas costas não é um problema, é as asas que você esconde pra ninguém saber que você é um anjo”, conta Tatiane.
O professor Jonathan é amigo de Tati desde sempre. Cresceram juntos. Ele lembra bem dos dias difíceis.
Jonathan: Sempre alvo de piadas, de risos, deboche, na escola, o professor tinha que estar intervindo, sempre essa situação de confronto.
Globo Repórter: Mas você defendia ela das...
Jonathan: Claro! Sempre! Sempre! Arrumei até muita briga na escola por causa disso.
Globo Repórter: Mas você defendia ela das...
Jonathan: Claro! Sempre! Sempre! Arrumei até muita briga na escola por causa disso.
Na casa da Tati, ganhamos um churrasco dos bons e entendemos um pouco mais essa história de superação.
Globo Repórter: O que vocês fizeram pra que ela ficasse tão forte? Tão resistente às críticas?
Fátima de Ávila, doméstica: Olha, tanto da parte de mim e do pai dela, tanto dos avós, sempre lutamos junto com ela pra enfrentar, tudo que a gente pode fazer por ela, fez! E a gente nunca disse assim, ‘não’. Quando falassem alguma coisa pra ela que eu não tivesse por perto, era pra dizer isso aí, ‘ó, eu não pedi pra ser assim, e eu tou bem, e eu não posso fazer nada, Deus me fez assim.’"
Fátima de Ávila, doméstica: Olha, tanto da parte de mim e do pai dela, tanto dos avós, sempre lutamos junto com ela pra enfrentar, tudo que a gente pode fazer por ela, fez! E a gente nunca disse assim, ‘não’. Quando falassem alguma coisa pra ela que eu não tivesse por perto, era pra dizer isso aí, ‘ó, eu não pedi pra ser assim, e eu tou bem, e eu não posso fazer nada, Deus me fez assim.’"
Globo Repórter: O olhinho do pai parece que até enche de água, né?
Anésio Picinatto, vigilante: É, não é fácil, né? Ver ela desse jeito?! Quem é que não gostaria de ter ela perfeita?
Globo Repórter: Mas o senhor tem uma filha muito forte, muito alegre, muito vibrante, um exemplo.
Anésio Picinatto: Ah não, isso não posso me queixar, é muito especial mesmo! É que nem diz, ‘é um anjo que caiu ali e ficou pra nós’.
Anésio Picinatto, vigilante: É, não é fácil, né? Ver ela desse jeito?! Quem é que não gostaria de ter ela perfeita?
Globo Repórter: Mas o senhor tem uma filha muito forte, muito alegre, muito vibrante, um exemplo.
Anésio Picinatto: Ah não, isso não posso me queixar, é muito especial mesmo! É que nem diz, ‘é um anjo que caiu ali e ficou pra nós’.
Globo Repórter: Se você tivesse que dar um adjetivo pra você, você daria o quê: normal ou anormal?
Tatiane: Normal!
Globo Repórter: Bonita ou feia?
Tatiane: Bonita!
Globo Repórter: Feliz ou triste?
Tatiane: Feliz!
Globo Repórter: A vida é boa ou ruim?
Tatiane: Maravilhosa!"
Tatiane: Normal!
Globo Repórter: Bonita ou feia?
Tatiane: Bonita!
Globo Repórter: Feliz ou triste?
Tatiane: Feliz!
Globo Repórter: A vida é boa ou ruim?
Tatiane: Maravilhosa!"
‘Errado são eles’, diz Mateus Solano a menino apelidado de "Félix" pela professora
Educadora, no interior de São Paulo, comparou aluno ao personagem vilão da novela. Menino não suportou as piadinhas e saiu da escola.
Todos vivem esse ritual. Chega o dia em que abandonamos o aconchego de casa, a proteção dos pais e partimos para a nossa primeira grande aventura: a escola.
É na escola que fazemos amigos, mas também entrentaremos a realidade: brigas, gozações, falta de lealdade. É daqui da escola que saímos para o mundo com mais segurança, ou com mais medo.
Nesta escola em Piracicaba, também no interior de São Paulo, aconteceu o impensável. A professora comparou um aluno ao personagem vilão da novela. Foi o suficiente para a turma passar a chamar o colega de “Félix”.
Globo Repórter: Como é que você conversou com ele a respeito de tudo isso?
Mãe do menino: Eu até falei, tentei argumentar que o artista é bonito, que chama a atenção, ‘será que não seria isso, filho?’ E ele falou, mãe, ‘eu não sou um idiota!’ E eu falei assim, ‘mas é que ele é bonito’, e ele falou assim: ‘Não!, eu sei o que ela quis dizer! Todo mundo da sala também!’", relata a mãe do menino.
Mãe do menino: Eu até falei, tentei argumentar que o artista é bonito, que chama a atenção, ‘será que não seria isso, filho?’ E ele falou, mãe, ‘eu não sou um idiota!’ E eu falei assim, ‘mas é que ele é bonito’, e ele falou assim: ‘Não!, eu sei o que ela quis dizer! Todo mundo da sala também!’", relata a mãe do menino.
O menino ainda tentou continuar na escola. Mas não suportou as piadinhas. Nunca mais voltou.
"Eu acho que ela, no papel de educadora, ela em momento nenhum deveria ter feito isso. Ele tem apenas 11 anos apenas, tem todo um futuro pela frente, entendeu? E isso daí, querendo ou não, mexe com o psicológico de qualquer criança! Até com adulto! Ser exposto ao ridículo diante de todo mundo ", diz a mãe.
O caso foi parar na Justiça.
"O que nós queremos é que o Estado sofra uma punição para que isto sirva de exemplo. Tanto ao Estado, que eduque melhor seus professores, buscando também que o Estado seja responsável em dar a esta criança um acompanhamento psicológico, para que ela possa melhorar essa situação que está vivendo hoje", explica o advogado Homero de Carvalho.
O responsável pela proteção escolar em São Paulo afirma que a Secretaria Estadual de Educação está acompanhando o caso, mas que ainda não pode se manifestar.
"Em relação a esse caso específico eu não tenho como me pronunciar especificamente porque ele se encontra judicializado nesse momento", diz Felipe Angeli, coordenador do sistema de proteção escolar de São Paulo.
E o que pensa a respeito o ator que encarna o vilão, na novela das nove? Mateus Solano diz que lamenta a mistura de vida real com ficção. E manda um recado para o menino que sofreu bullying em Piracicaba.
"O que eu quero dizer é: força, quer dizer, a gente passa por várias situações difíceis durante a vida, e bem difíceis, situações de exclusão social e exclusão de várias formas, e que isso seja importante pra te construir e pra te fortalecer, pra que da próxima vez não esmoreça, quem tá errado são eles, então, tá tudo bem com você. Fica bem, coragem, que vai tudo passar", diz o ator Mateus Solano.
Escola cria reuniões de convivência para resolver problemas de bullying
Alunos se reúnem com professor de “Convivência e Sociedade” e procuram rever atitudes consideradas agressivas por colegas de classe.
Na nova escola da Carol e do Paulinho, uma ideia simples vem dando bons resultados. Foram criadas assembleias de classe para resolver os problemas que afetam a todos, principalmente o bullying. Hoje, quem se queixa é o Leonardo. Ele não aguenta mais ser chamado de baixinho. Mas ele também não é propriamente um santinho.
"Às vezes, você dá uma pirada, começa a chamar os outros de mendigo, baleia, porco, por quê?”, diz Felipe, 11 anos.
"Às vezes, as pessoas levam na brincadeira, entendem que ou você não sabe o que tá falando, que você tá brincando com as pessoas, só que às vezes elas podem ficar magoadas", conta Helena, 11 anos.
"Às vezes eu me pergunto: Por que eu tô xingando eles?", admite Leonardo, 11 anos.
"Talvez, essa situação já esteja virando um hábito, um hábito do Léo falar qualquer besteira para vocês e aí, alguém se ofende e retribui e fica essa bagunça, numa situação desconfortável. Então, talvez, é uma coisa que tem que partir dos dois lados. O que vcs acham?”, pergunta o professor de Convivência e Sociedade Victor Augusto Silva.
"Minha mãe fala assim pra mim: às vezes a gente quer que o outro mude pra ficar mais confortável pra gente pra daí a gente não ter que mudar, então, eu acho que se cada um fazer a sua parte, ele parando de xingar, e as outras também parando de xingar, assim pode resolver o problema", diz Ana Raquel, 10 anos.
"Eu acho melhor a gente parar primeiro e depois ele parar, pra ele perceber que a gente tá evoluindo e que ele também terá que evoluir", sugere Júlia, 11 anos.
"Eu acho que tá resolvido, professor: Porque ele não xinga a gente, uma coisa da parte dele, e a gente não retribui; a gente fica quieto e que isso poderia dar certo, tipo, pra qualquer outro caso", diz Caroline, 10 anos.
Globo Repórter: E agora, como é que fica a questão?
Leonardo: Eu vou parar. Vou parar, então, quero que eles também parem de me chamar de baixinho, gorducho e dentuço, por favor!
Globo Repórter: Então, tá decretado que todo mundo vai viver em paz aqui?
Leonardo: Tratado de paz!
Leonardo: Eu vou parar. Vou parar, então, quero que eles também parem de me chamar de baixinho, gorducho e dentuço, por favor!
Globo Repórter: Então, tá decretado que todo mundo vai viver em paz aqui?
Leonardo: Tratado de paz!
É nesse ambiente que Carol e Paulinho encontraram a confiança e a segurança que tanto precisavam.
Globo Repórter: Por que você se sente melhor aqui?
Paulinho: Porque agora eu tenho amigos, amigas.
Paulinho: Porque agora eu tenho amigos, amigas.
Globo Repórter: Você deixou de ter medo, então?
Carol: Deixei!
Globo Repórter: Tá mais tranquila a tua vidinha agora?
Carol: Muito mais! Porque eu chego em casa feliz, porque todo dia tem novidade!
Carol: Deixei!
Globo Repórter: Tá mais tranquila a tua vidinha agora?
Carol: Muito mais! Porque eu chego em casa feliz, porque todo dia tem novidade!
Globo Repórter: Aqui você se sente protegido?
Paulinho: Protegido muito, muito, muito! Muito protegido!
Paulinho: Protegido muito, muito, muito! Muito protegido!
‘Internet é a pátria dos covardes’, diz professora vítima de
cyberbullying
Comunidade foi criada na internet para perseguir a doutora em psicologia social. Sueli conta que 'transformavam tudo em uma cafajestice inominável'.
Se o bullying na vida real tem consequências graves, quando acontece no mundo virtual, o desastre é maior ainda. Uma difamação feita em uma rede social se multiplica em uma velocidade e com um alcance impossíveis de controlar. E o registro dessa agressão talvez nunca desapareça completamente. O efeito pode ser devastador e mortal.
Em 2010, um violinista americano teve sua intimidade homossexual revelada na internet. Três dias depois, ele se jogou de uma ponte. Tinha apenas 18 anos.
"No momento que nós entramos em uma rede como a internet, onde nós não temos mais o controle do alcance que foi aquele fenômeno, cria uma situação psíquica de desorganização pra pessoa que sofreu aquilo. Então, é como se ela não tivesse perspectiva de resolver a situação nunca”, explica Vera Blondina Zimmermann, psicanalista.
Aqui no Brasil, a morte recente do músico Champignon chocou fãs e amigos. O baixista da banda Charlie Brown foi alvo de críticas pesadas na rede. E segundo a família, isso pode ter sido decisivo para a atitude que tomou.
Vera Zimmerman: Essa situação de não ter uma possibilidade de certeza de que, ‘bom, eu resolvi isso, isso foi sanado’, gera um nível de angústia impossível de conviver.
Globo Repórter: E muito maior do que as consequências clássicas?
Vera Zimmerman: Muito maior!
Um perfil falso, grosseiro. Com erros de português e críticas maldosas. Uma falsa comunidade foi criada na internet especialmente para perseguir a professora Sueli.
"Toda forma de perseguição, de tentativa de me desmoralizar, moralmente, como pessoa, de me destruir como uma acadêmica, de achincalhar as minhas posições teóricas, De fazer piada com coisas ditas em sala de aula, e transformando tudo numa cafajestice inominável", desabafa Sueli Dermagian, professora universitária.
E quem eram os autores? Como saber?
"A internet é a pátria dos covardes. A covardia se esconde atrás do anonimato. É uma coisa absurda a forma pela qual as pessoas transformam um instrumento que é tão útil, que é tão importante, numa coisa que vira veículo do mal", fala Sueli.
Doutora em psicologia social, ela criou na Universidade de São Paulo o curso de Relações Humanas. Ao se tornar vítima de cyberbullying, foi como se transformar em personagem de seu próprio campo de pesquisa.
“Eu precisei reunir toda a minha pulsão de vida para lutar contra essas coisas que me aconteceram. Eu retardei o meu processo, eu demorei mais pra fazer a minha livre docência, eu perdi a chance de ser uma professora titular, que é o que todo mundo almeja”, diz a professora Sueli.
Globo Repórter: A direção da escola ficou sabendo? A direção da universidade? Isso tomou uma proporção oficial ou não?
Sueli: Não! Foi uma coisa que eu tive que lutar sozinha, que eu tive que contar, na verdade, com a ajuda dos alunos que me são caros.
Para se proteger, a professora registrou queixa na polícia, mas não pôde processar os agressores porque não sabe quem eles são. Por isso, defende a criação de leis rigorosas para regular a internet.
"Acho que o bullying, o assédio moral, todas essas coisas horríveis que têm acontecido, e para as quais a internet se presta muito, a pedofilia, os pedófilos adoram a internet! Deve haver uma punição, mas muito severa", acredita Sueli.
Jovem comparada a Freddy Krueger no trabalho pensou em se matar
"Ela passava para sala dela e começava a musiquinha do Freddy: ‘um, dois, Freddy vai te pegar’”, conta amigo que ajudou colega a superar momento ruim.
Hoje, ela consegue sorrir, mas há pouco tempo Talita teve duas surpresas bem amargas. A primeira foi consequência de um abalo emocional.
"Foi um choque para mim. Acordar e ver o meu rosto cheio de acne, de uma hora para outra? É como você tomar um remédio e ter alergia. Foi a mesma coisa. De um dia para o outro", conta Talita.
A segunda surpresa veio no trabalho. "Ela passava para a sala dela e começava a musiquinha do Fred: ‘um, dois, Fred vai te pegar... Um, dois, Fred vai te pegar...’ E demorava coisa de cinco minutos, eu passava na sala dela, ela estava em cima do computador dela, chorando. Inúmeras vezes. ‘Ah, pega o rádio lá na mesa do monstrinho’. Inúmeras vezes eu ouvi isso", revela Antônio Bispo, técnico em manutenção.
A comparação era com o monstro do filme "A Hora do Pesadelo", e a tortura que durou mais de um ano. "Todos os dias, das 8 às 18 horas, eu ficava chateada, só chorava; não respondia às ofensas, mas ficava chateada”, diz Talita.
A repórter pergunta se Talita tentou falar com elas, entender o que estava acontecendo, procurar chegar em um ponto comum. “Não, porque elas nunca me deram oportunidade. Sempre que eu tentava me aproximar, elas me ofendiam", responde Talita.
Aliados mesmo, apenas dois colegas. "Pelo seu olhar masculino, você acha que essas moças faziam isso com ela por quê?”, pergunta a repórter. “Olha, sinceramente, era por inveja à beleza dela. Porque todo mundo lá sempre achou ela uma menina muito bonita, e aí, quando aconteceu isso com ela, foi a chance que eu tenho de mostrar para ela que ela não é isso”, diz Antônio.
"Muitas vezes a gente se falava, ou eu via ela e eu sentia assim: ‘a qualquer momento eu vou ouvir que a Talita morreu’. Eu tive essa sensação e falei para ela: ‘Talita, do fundo do meu coração, eu sinto que a qualquer momento vai acontecer isso’. ‘Mas eu tenho vontade! Eu tenho vontade de dormir e não acordar mais’", conta Solange Krethe, assistente financeira.
Os amigos impediram o pior. Aos poucos, a pele de Talita melhorou e ela se refez.
Para a médica, que acompanha o caso, a cliente ainda precisa de cuidados. "Até hoje ela ainda sofre. Mesmo depois do tratamento, com a melhora, com um bom resultado na pele, ela ainda sofre porque ela precisa trabalhar a parte emocional", declara a doutora Mayra Clemente, médica.
"Às vezes, eu tento esquecer, mas vêm as lembranças, parece que você escuta ainda as pessoas falando no seu ouvido, é difícil", diz Talita.
Cada dia é uma vitória, e hoje o grupo de amigos comemora.
Globo Repórter: Ela não decepcionou vocês?
Antonio: Não decepcionou, não. Acho que não era qualquer um que passava por isso, e aguentar tudo e permanecer na empresa ainda, com cabeça erguida, porque hoje ela entra na empresa com cabeça erguida e sai de cabeça erguida.
Globo Repórter: Você sabia que tinha essa força toda?
Talita: Não. Não imaginava. Não imaginava mesmo.
Globo Repórter: Agora, também, você está pronta para tudo?
Talita: Estou pronta para tudo. Isso foi só um aprendizado para mim.
O bullying é cada vez mais discutido nos tribunais. Até mesmo a Justiça do Trabalho já está envolvida com casos desse tipo, e são queixas tanto de empregados quanto de patrões.
Seu Adelson abriu um processo quando soube que estavam falando mal dele na internet. A acusação era grave. Dizia que a origem da rede de lojas de móveis e decoração que ele tem teria sido uma falência fraudulenta.
Adelson Basílio, empresário: Isso é muito humilhante. Você crescer bonito por um trabalho, é gratificante, mas você ser acusado que você cresceu em cima do trabalho dos outros, é humilhante. E isso eu não quero para mim.
Globo Repórter: O senhor nunca deu nenhum golpe na praça?
Adelson: Não. Graças a Deus não, e nem vou precisar dar.
A autora das acusações era uma moça que tinha trabalhado na loja por poucos dias, como projetista. Ao deixar a empresa, ela partiu para a difamação. Seu Adelson tentou de tudo para encontrar a ex-funcionária.
Globo Repórter: Ela sumiu?
Adelson: Sumiu. Simplesmente ela evaporou do mapa. Os endereços que constam não é dela, as coisam que têm não conferem, ninguém acha ela para ela responder judicialmente.
O que não sumiu foi o estrago que ela causou. As lojas perderam clientes, fornecedores e empregados.
“Uma vez postada uma denúncia, isso vira uma bola de neve?, pergunta a repórter. “É inacreditável! É como jogar um fósforo no mato seco. Isso pega fogo rápido. A imagem negativa de uma empresa é postada e isso cria um efeito devastador", declara Thiago Massicano, advogado.
Seu Adelson quer recuperar o prejuízo. Está pedindo indenização por danos morais. "Eu só queria que ela fosse responder para ela dizer o que levou ela a isso. Por quê? Porque é uma sensação que a gente tem de não ter agradado. Por que não agradou? Por que isso? Que eu não consegui entender até hoje", diz o empresário.
Mas o processo está parado porque nem a Justiça consegue encontrar a acusada.
‘O agressor tem medo’, diz médico sobre praticantes de bullying
Especialista explica que agressor destrói o outro para poder ser aceito. E meninas, vítimas de bullying, relatam experiências de trauma e superação.
Rica, famosa, Gisele Bundchen tem uma carreira brilhante! Mas no início, alguém chegou a dizer que com o nariz dela, ela não iria fazer sucesso.
Rafaela nem queria ser modelo, mas acreditou que o nariz seria um problema na vida dela.
"Comecei a achar que ele era grande. E aquilo foi mudando a percepção que eu tinha de mim mesma. Eu não conseguia me ver mais da mesma maneira”, conta Rafaela Silva Santos, assistente administrativa.
Tudo começou com os meninos da escola.
Globo Repórter: O que eles faziam com você?
Rafaela: Ah, eles faziam gestos, como se eu tivesse o nariz muito grande, falavam, ‘nossa, você está roubando o meu ar, não tô conseguindo respirar. Nossa, tá me fazendo mal. Nossa, esse teu nariz!’"
Resultado: Rafaela passou a adolescência tentando esconder o nariz.
"Rabo de cavalo, aquele que você puxa todo o cabelo, era muito difícil! Na verdade, eu sempre tentava deixar um pouco de cabelo perto do nariz, ou uma franja, alguma coisa que cobrisse, assim”, explica Rafaela.
Rafaela: A gota d’água foi quando atearam fogo no meu cabelo.
Globo Repórter: Dentro da escola?
Rafaela: Dentro da escola.
Globo Repórter: Quem que fez isso?
Rafaela: Uma menina, que na verdade eu nem conhecia, não sabia nem o nome.
Globo Repórter: E pegou fogo?
Rafaela: Pegou fogo no meu cabelo, tive que cortar um bom pedaço dele, mas acima de tudo, eu tive muito medo.
Rafaela mudou de escola, mas a fama do nariz chegou lá antes dela. E o bullying continuou. Foi só com o tempo, a ajuda de bons amigos, que ela se libertou.
Globo Repórter: Hoje você gosta do seu nariz?
Rafaela: Hoje eu gosto do meu nariz.
Globo Repórter: Você não mudaria?
Rafaela: Não. Nem que me pagassem a cirurgia eu mudava o meu nariz.
De bem com o próprio perfil, ela descobriu que era mais forte do que pensava.
"As pessoas que praticam o bullying, são as pessoas que mais precisam de ajuda. Quem é a vítima do bullying, na verdade é vítima de uma pessoa que tá insegura. Então, ela faz o outro menor pra se sentir grande. E aí, eu percebi que não adiantava guardar nenhum ressentimento, nenhuma mágoa das pessoas. Eu precisava entender que elas precisavam mais de ajuda do que eu.", diz Rafaela.
Dr. Maurício Souza Lima, hebiatra: O agressor tem muitas fragilidades.
Globo Repórter: Que ele esconde?
Dr. Maurício Souza Lima: Ele esconde dessa forma. No fundo, o agressor tem medo de não ser aceito. Então, pra ele poder ser aceito, ele destrói o outro. E com isso, ele passa a ser aceito de uma maneira que, se a gente for ver sobre a dinâmica de um relacionamento saudável, é completamente doente.
Uma risada gostosa! Marca registrada de Reginalda. Ela esbanja confiança e simpatia. Mas as lembranças da infância não são muito alegres. Aprendeu cedo como é difícil ser diferente.
Globo Repórter: Você era a maior de todas?
Reginalda: Era, na altura e na largura.
Na escola, era a vítima preferida dos meninos.
"Além de baleia assassina, tubarão, rolha de poço, falavam que se eu caísse não levantava mais, que ía ser rolando. E além de ter o problema da obesidade, e mais a afrodescendência, o cabelo curtinho, bem afro, eu ainda na época tinha uma alergia pelo corpo todo e, aí, pronto! Era o triplo da maldade porque eles me zoavam por tudo! Eles vinham, empurravam, chamavam, ‘Ah, baleia!’ Tentavam me derrubar, eram malvados mesmo", conta Reginalda Nunes, assistente de eventos.
E era isso, dia após dia.
"Eu enfrentava aquilo. Eu era forte na frente das pessoas, eu era fraca só pra mim. Eu chegava em casa e chorava escondido", revela Reginalda.
A mudança de escola trouxe mais do que alívio, surpresa.
"E eu cheguei a ficar assutada no outro colégio que eu fui porque as pessoas me tratavam bem. E aquilo pra mim foi chocante. Nossa! Como assim? Porque no colégio anterior tinha uma roda de meninas e eu táva lá no meio, os meninos chegavam e cumprimentavam todas as meninas com beijinho e comigo eles pegavam na minha mão, como se eu não fosse uma menina, entendeu?", conta Reginalda.
Depois, a vida trouxe novos e bons impresvistos. Jorge e Reginalda se conheceram pela internet. Ele se apaxionou antes de saber como ela era.
Globo Repórter: Você não tinha nenhuma foto dela, ali na conversa, nada?
Jorge: Não.
Globo Repórter: E quando você viu?
Jorge: Ah, quando eu vi achei ela bonita.
Ele também viveu a angústia do bullying.
Globo Repórter: Você partiu pra cima do garoto?
Jorge: Na verdade, ele partiu pra cima de mim e aí eu mostrei pra ele como as coisas funcionavam.
Globo Repórter: E aí, ele parou?
Jorge: Parou. Nunca mais mexeu comigo. E nem ninguém.
Para Reginalda, as dificuldades não terminaram. Agora, são na vida profissional. Na disputa por um emprego, perdeu a vaga para outra candidata. Loira e magra.
"Era visível a atitude da entrevistadora com relação ao meu peso. Ela fazia perguntas inconvenientes em relação, por exemplo, à dieta, a coisas que não tinham nada a ver com aquele momento ali”, lembra Reginalda.
“Eu sabia que as minhas qualidades, meus cursos, eu sabia falar, tinha as qualidades pra aquela vaga, e ela foi aprovada e eu não fui. Naquele dia eu me senti muito ofendida", desabafa a assistente de eventos.
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