segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Corrupção no Brasil

Há poucos dias do último turno das eleições de 2010, não menos cansados de divulgar desvios e ações corruptas dos partidos que disputam essa eleição, as agências de notícias publicam o relatório anual da ONG Transparência Internacional, divulgado no dia 26.10.10. Esse relatório indica que a percepção de corrupção no setor público do Brasil se manteve inalterada desde o ano passado, embora o país tenha subido em um ranking sobre o tema.

O Brasil ocupava no ano passado o 75º lugar entre 180 países no Ranking de Percepção da Corrupção da Transparência Internacional. Na lista deste ano, em que foram relacionados apenas 178 países, o Brasil ocupa a 69ª posição, juntamente com Cuba, Montenegro e Romênia. Dinamarca, Nova Zelândia e Cingapura, dividem a primeira colocação, com 9,3 pontos. Contudo, avalia-se que a subida do Brasil no ranking seria apenas um reflexo da deterioração de outros países e não deve ser interpretada como um avanço do país, explicou à BBC Brasil Alejandro Salas, diretor regional para as Américas da Tarnsparência Internacional. 

O tema da corrupção sempre ganha destaque em momentos eleitorais para desqualificar os adversários. Mas não são somente as acusações dos concorrentes à Presidência que denunciam a corrupção nas instituições públicas, o filme lançado neste mês, “Tropa de Elite 2”, também traz esse tema à tona. Aliás, para quem não tiver um olhar mais aguçado parece que o único inimigo do famoso “Capitão Nascimento” é o sistema corrupto. 

Há uma grande influência, principalmente da mídia, em levantar a corrupção como o problema central e que a solução é punir os corruptos.

Apesar de não ser o único problema das instituições brasileiras e muito menos a raiz das dificuldades que elas encontram para serem verdadeiramente democráticas, é verdade que a corrupção deve ser combatida. O ‘Tropa de Elite 2” é um registro muito bom da corrupção presente na polícia e do crescimento das milícias no Rio de Janeiro, que arregimentam votos nas favelas.

Em recente entrevista (26.10.10) concedida à agência de notícias G1, Paulo Lins, escritor do romance “Cidade de Deus”, que inspirou o livro, comenta sobre as UPPs e milícias no Rio: “As ocupações (UPPs) são necessárias, mas na verdade nunca faltou polícia na favela. E só não funcionava porque existe esse crime de corrupção no judiciário, no legislativo e no executivo misturado ao racismo, pobreza e a falta de instrução há muito tempo no Brasil. A polícia e os professores sempre estiveram presentes na favela, porém os professores sem os recursos necessários e a polícia de modo corrupto e violento. (...) Não se pode esquecer que as milícias não são um fato novo em nossa realidade. (...) Foi de acordos para “limpar a área” que as milícias nasceram há cerca de quarenta anos atrás. E seria bom colocar em pauta a segurança privada que também é uma espécie de milícia e já tivemos vários crimes com pessoas que atuam nesse serviço. Geralmente é o mesmo tipo de gente que atua nas milícias. Hoje é esse monstro que tomou conta do Rio de Janeiro.” 

Nota-se um esforço dos mais diferentes setores da sociedade em denunciar os esquemas corruptos e punir os infratores. A Lei Ficha Limpa, LC n. 135/10, é um exemplo concreto que mobilizou muitos brasileiros no combate à corrupção.

Também, no dia 15.10.10, foi divulgado que a Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ)poderia votar projeto que aumenta penas para crimes de corrupção nas áreas de educação e saúde.
O projeto pretende aumentar a pena prevista no artigo 317 do Código Penal (Lei 2.848/40), que trata de crime de corrupção passiva, e o art. 333, crime de corrupção ativa, nos casos em que envolvam servidores da área da saúde e educação. Em ambos os crimes, atualmente, a pena de reclusão prevista é de dois a 12 anos, e multa.

Segundo o autor do projeto (PLS 35/90), senador Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR), utiliza, em sua justificação, dados da Controladoria-Geral da União (CGU) segundo os quais, no Brasil, a corrupção e a má gestão desviaram 25% dos R$ 1,6 bilhão repassados, nos últimos quatro anos, pelo Ministério da Saúde, a 1.341 municípios. Na área da educação, segundo dados da Federação das Indústrias de São Paulo, o Brasil perde com a corrupção 81% do respectivo orçamento, que corresponde a R$ 27,1 bilhões.
Diante das pressões por mais ética nas instituições públicas, a resposta usual do Estado, pelo Legislativo, é o aumento das penas do crime de corrupção. No entanto, as penas pouco funcionam para a efetividade do Direito Penal. Além disso, as possíveis “cúpulas corruptas”, que elaborariam os grandes esquemas, na maioria das vezes, não são atingidas pela repressão penal. Trata-se da dificuldade geral de punir os “crimes de colarinho branco”.

Para Salas, diretor regional para as Américas da ONG Tarnsparência Internacional, a redução da corrupção depende de mudanças individuais. “Em muitos países os indivíduos tendem a se ver como vítimas do sistema. Mas o indivíduo pode ser proativo e sair do ciclo da corrupção. Enquanto só esperarmos grandes mudanças por parte de governos, teremos essa pontuação baixa na maioria dos países.” O não conformismo é importante, individualmente é possível exigir mais e denunciar, no entanto, uma melhora efetiva somente se dará quando as insitituições de fato servirem ao povo.

Destaques do ranking
Colocação
País (es) Nota
Dinamarca, Nova Zelândia e Cingapura 9,3
Finlândia e Suécia 9,2
17º Barbados 7,8
21º Chile 7,2
22º Estados Unidos 7,1
24º Uruguai 6,9
69º Brasil 3,7
105º Argentina 2,9
146º Haiti 2,2
164º Venezuela 2,0
175º Iraque 1,5
176º Afeganistão e Mianmar 1,4
178º Somália 1,1


Fonte: Portal de Notícias do Senado; Agência de Notícias Uol; G1.

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