Número de inquéritos é muito menor que a quantidade de crimes.
Taxa de esclarecimento de assassinatos na capital caiu para 47% em 2008.
O número de inquéritos abertos na capital é muito menor do que a quantidade de crimes que ocorrem na cidade. Os dados são da Secretaria da Segurança Pública. A falta de investigação alimenta a impunidade e preocupa principalmente quem está sob ameaça.
De acordo com especialista do Núcleo de Estudos da Violência (NEV) da Universidade de São Paulo (USP), a polícia acaba elegendo os casos que vai investigar. Não há um padrão. “Quando há uma forte pressão popular, quando há uma forte pressão da mídia, quando você tem muita pressão, você tem resultados. Quando você não tem o que acontece no dia-a-dia, você não tem os mesmos resultados”, disse Sérgio Adorno, pesquisador do NEV.
Segundo dados da secretaria, apenas 16% dos delitos cometidos em São Paulo são investigados. Nem todos os crimes violentos que a polícia tem obrigação de apurar têm inquéritos instaurados. Portanto, a possibilidade de esclarecer os culpados pelos crimes fica ainda menor.
De janeiro a setembro de 2008, foram registrados 110.497 crimes violentos (homicídio, roubo, latrocínio, estupro). No mesmo período, a polícia instaurou 70.635 inquéritos – nem todos relativos a esses crimes. ”Se eu comparo com outros países, eu acho que ainda se abre inquéritos em um número muito pequeno para os crimes violentos, em uma sociedade como a brasileira”, afirmou Adorno.
Para a Secretaria da Segurança Pública, o problema não é falta de policiais nem de equipamentos. “A gente ainda tem muita dificuldade aqui no Brasil de coletar a prova testemunhal, seja porque as pessoas têm medo, porque não têm interesse. Falta uma cultura cívica. Diferentemente dos outros países, talvez a gente tenha aí uma menor eficácia na resolução dos crimes, por conta dessas deficiências”, justificou Túlio Kahn, coordenador de Análise e Planejamento da secretaria.
O último relatório do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) mostra que a taxa de esclarecimento de assassinatos caiu. Em 2005, foi de 65%. E no ano passado de 47%. De acordo com o coordenador de análise e planejamento da Secretaria de Segurança Pública, esses números mostram que os casos mais fáceis de resolver já foram solucionados. Agora sobraram crimes mais antigos e mais difíceis de concluir.
A rotina em casa parece normal, mas há dois anos a família de Cristiana Yumi Kaneda vive um inferno. O rapaz com quem ela teve um caso e de quem engravidou quando esteve no Japão faz ameaças constantes. Ela fugiu dele e voltou para o Brasil. Ele veio atrás.
“Ele manda carro funerário. Ele manda coroas de flores, caixão. Teve uma vez que o cara subiu com uma coroa de flores, debaixo de chuva. Porque ele fala que a dona Isabel, minha mãe, morreu”, relata Cristiana. As ameaças vêm até por mensagens no celular. “Você vai morrer, não estou neste país de férias”, diz uma delas. Cristiana já registrou três boletins de ocorrência na delegacia de Rio Grande da Serra, no ABC Paulista, mas o rapaz continua atormentando.
A polícia instaurou dois inquéritos. E só depois do contato da reportagem do SPTV, o delegado que cuida do caso tomou uma decisão. “Estou aqui há pouco tempo e esses BOs são anteriores à minha gestão. Eu vou pedir a prisão preventiva do agressor”, disse o delegado Sérgio de Campos Simionato.
G1.
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