Para sociólogo colombiano, é preciso construir um pacto nacional para reduzir a criminalidade.
O sociólogo colombiano Hugo Acero viajou de seu país até o Brasil para falar sobre formas de combate à criminalidade. Um leitor mais desatento poderia perguntar: que autoridade tem essa pessoa para discutir esse tema em nosso país? Cabe então esclarecer que ele foi um dos responsáveis pela redução de até 75% de crimes como furtos, assaltos, agressões e assassinatos na capital colombiana na última década. O que fez a Colômbia? Teve vontade política e atitude para enfrentar o problema. O estudioso esteve em Londrina ontem, justamente no dia em que a FOLHA estampou em sua manchete que os casos de homicídios no primeiro trimestre deste ano aumentaram 56% em relação aos mesmos três meses do ano passado.
É importante lembrar que nossos vizinhos da América Latina têm ainda uma séria questão a resolver: neutralizar os terroristas das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Os louros que alcançaram foram contra a violência urbana, que sufocava tanto a capital Bogotá quanto outras cidades do país de meados dos anos 90 até poucos anos atrás. Segundo números divulgados por Acero, os homicídios no centro do poder colombiano em 1993 chegavam a 80 por cada grupo de 100 mil habitantes/ano. No ano passado, esse índice fechou em 18 mortes anuais para cada 100 mil habitantes. Em Medellín, as 186 mortes para cada 100 mil habitantes/ano em 2003 baixaram para 26 em 2007. Na Colômbia como um todo, os assassinatos foram reduzidos de 70 em um universo de 100 mil pessoas/ano em 2003 para 18 no ano passado.
Acero veio a Londrina, convidado pelo deputado federal Luiz Carlos Hauly, para falar sobre a experiência colombiana para representantes de associações de moradores e autoridades da área de segurança pública. Mas o sociólogo, que já foi secretário de Segurança Cidadã de Bogotá - semelhante às secretárias de segurança pública do Brasil - frustrou quem esperava algo bombástico. ''Tanto Bogotá quanto Medellín diminuíram (os delitos) porque o presidente e todos os outros responsáveis assumiram a responsabilidade e exigiram respostas da Polícia e da Justiça'', citou Acero, que hoje é consultor da Organização das Nações Unidas (ONU) para o tema segurança.
Mas as autoridades colombianas também tiveram que tomar medidas antipáticas como o aumento e a criação de novos impostos para bancar o plano anti-violência. ''Bogotá era uma cidade onde mais de 30% dos contribuintes não pagavam os impostos. Hoje, são apenas 6%. Com o passar do tempo, tivemos de criar novos impostos. Em algumas cidades, se criou um imposto na telefonia móvel. Os mais pobres pagam US$ 0,50 ao mês e os mais ricos pagam de US$ 1 a US$ 2,00 ao mês.'' Com isso, está sendo possível capacitar e equipar a Polícia, erguer escolas de qualidade e levar saúde, saneamento básico, cultura e esporte para as localidades mais pobres. ''A grande maioria das vítimas e atores da violência são jovens entre 14 e 34 anos'', lembrou Acero.
O estudioso apontou que, embora a experiência tenha dado excelentes resultados na Colômbia, cada país deve estabelecer mecanismos próprios para enfrentar a violência. O primeiro, e principal passo, seria a construção de um pacto nacional para reduzir a violência e delinquência, ''independente dos partidos políticos''. ''Não se pode enfrentar nem reduzir a violência se as forças de segurança não trabalham de forma coordenada, se os organismos não se comunicam.''
Fonte: Folha de Londrina, 02/04/2008.
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