quarta-feira, 2 de abril de 2008

União gay estável já supera 200

Causou polêmica o anúncio, na semana passada, do “primeiro casamento gay do País”, a ser realizado no dia 10 de abril em São Paulo. “Não é possível. Eu registrei a minha união estável em fevereiro”, conta o professor Luiz Carlos Cappellano, de Campinas, interior de São Paulo. O corretor de imóveis Roberto Espírito Santo, de Brasília, também protesta. “Meu casamento teve certidão, Registro Civil e meu companheiro adotou meu sobrenome”, conta, referindo-se à cerimônia realizada em abril de 2004

Contudo, se depender das informações do Livro de Contrato de União Estável Homossexual - que também funciona como um banco de dados com registros de acordos do tipo fornecidos por nove entidades representantes de homossexuais ou de direitos humanos -, nenhum desses casos é pioneiro

Conforme o levantamento, já são mais de 200 uniões entre homossexuais no País e a primeira delas data do início de 2003

O casamento que causou polêmica é o do jornalista Felipeh Campos com o produtor de moda Rafael Scapucim e foi divulgado por vários veículos de imprensa na semana passada como a primeira união gay do País, a partir de informações da Vacom, assessoria da Marriages, empresa responsável pela cerimônia. A empresa informou também que a festa contaria com presença do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral Filho (PMDB), o que reforçou a idéia de ineditismo - e, portanto, importância - do evento

“É sim o primeiro casamento gay, pois é o primeiro que segue o figurino, com tudo protocolado: da lista de casamento ao bemcasado (o famoso doce de final de festa). Além disso, vamos ter uma cerimônia religiosa, no candomblé”, afirma Campos, que cita como inspiração para sua festa o casamento do cantor inglês Elton John. “Para mim, o casamento só está oficializado após uma grande festa”, afirma

No entanto, mesmo no aspecto da cerimônia religiosa, a informação sobre o pioneirismo do evento ainda é contestada. Segundo o antropólogo Luiz Mott, fundador do Grupo Gay da Bahia (GGB), há registros de cerimônias de “casamento” homossexual em terreiros de umbanda desde a década de 1970. “No Rio de Janeiro, há cerimônias de ‘casamento’ homossexual organizadas pela igreja Betesda”, acrescenta Márcio Marins, da Organização Não-Governamental (ONG) Dom da Terra. O grifo a “casamento” é pedido das próprias fontes

SÃO PAULO Em São Paulo, o primeiro registro oficial em cartório de união estável entre homossexuais data de 17 de junho de 2003, segundo a Associação da Parada do Orgulho GBLT. Se for considerada a cerimônia de “casamento” religioso, há casos mais antigos, como o de Mott, que oficializou em 1988 sua união com Marcelo Cerqueira, hoje presidente do GGB

“Foi uma cerimônia realizada pelo pastor Onaldo Pereira, no Sindicato dos Bancários, e na época reuniu cerca de 500 pessoas”, afirma, lembrando ainda do caso do ativista gay Cláudio Nascimento. Em março de 1994, Nascimento realizou, numa cerimônia simbólica ministrada pelo exseminarista católico Eugênio Ibipiano dos Santos, o casamento com Adauto Belarmino.


Fonte: Hoje Notícias, 02/04/2008.

Nenhum comentário:

Pesquisar este blog