terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Psicólogos e psiquiatras divergem sobre personalidade de Suzane von Richthofen

Parte dos especialistas acha que a ré tem problemas mentais.
Em outubro, juíza negou benefício do regime semiaberto à jovem.

Médicos, psicólogos e assistentes sociais tentam descobrir a seguinte resposta: Suzane Richthofen, a jovem que participou do assassinato dos pais, em 2002, é uma pessoa fingida, dissimulada? Ou está realmente arrependida do que fez? Para a Justiça, ela ainda não está recuperada e não deve sair da cadeia. Os especialistas têm opiniões divergentes.

O que pensa Suzane Richthofen, sete anos depois de ter participado da morte dos pais? Especialistas em desvendar a mente humana tiveram que encontrar uma resposta. Durante entrevistas com dois psiquiatras, dois psicólogos e uma assistente social, a jovem pediu uma segunda chance e disse que não vai voltar a aceitar propostas erradas.

O psicólogo e professor de criminologia da USP Alvino Augusto de Sá foi designado pela Justiça para acompanhar os depoimentos. “Na entrevista, ela se mostra arrependida, que foi realmente uma grande desgraça que se abateu sobre a vida dela, sobre a vida dos pais dela”.

Exame
 
A ex-estudante de direito, que está presa na cadeia feminina de Tremembé, no interior de São Paulo, já cumpriu pouco mais de seis anos - um sexto da pena. Assim, teria direito ao regime semiaberto, no qual o preso sai da cadeia durante o dia para trabalhar e só volta à noite.

Antes de tomar uma decisão, a Justiça exigiu o chamado exame criminológico, que incluiu, além de entrevistas com a jovem, uma série de testes psicológicos e psiquiátricos. “Há certas características de personalidade que não mudam, como, por exemplo, se a pessoa é agressiva, se a pessoa tem um conflito psicológico muito profundo de relação com os pais”, explica o psicólogo.

Em Tremembé desde 2007, Suzane tem 26 anos, frequenta cultos evangélicos. Trabalha na oficina de costura da cadeia, pega livros com frequência na biblioteca e fuma cerca de 15 cigarros por dia. Os funcionários a consideram uma presa exemplar.

Uso de drogas

Aos psiquiatras, psicólogos e assistente social que acompanharam as entrevistas, Suzane contou ter usado drogas como maconha, cocaína, ecstasy e solventes, sendo incentivada, segundo ela, por Daniel Cravinhos, então namorado.

A jovem também o culpou de ter planejado o crime. Ela disse que levava uma vida de princesa, tinha tudo o que queria, mas que, como os pais dela eram contra o namoro, Cravinhos a convenceu a participar do crime.

Hoje, a jovem acha que já pode sair da cadeia, porque estaria recuperada, amadureceu e aprendeu o valor da família. A psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva, autora de livros sobre transtornos mentais, não concorda. “Uma menina universitária, inteligente e esperta conclui exatamente como deve agir e se portar para que possa receber os benefícios da lei”.

Opiniões divergentes

Uma pessoa que conhece bem a rotina de Suzane Richthofen afirma que ela é manipuladora. Disse ao Fantástico que a jovem escolhe duas presas para lhe dar proteção e que, em troca, oferece ajuda dos advogados dela. Quando essas companheiras conseguem, por exemplo, o benefício de deixar a cadeia, Suzane escolhe outras presas como protetoras.

“Só mostra esse poder de articulação e de sedução. É totalmente condizente com a personalidade dela, sem surpresa nenhuma”, afirma a psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva. Os psicólogos que examinaram Suzane avaliaram que os relacionamentos da jovem seriam precários, infantis, atendendo exclusivamente às suas demandas pessoais. Suzane também teria reações imprevisíveis e conduta dissimulada. Em outras palavras, um comportamento falso, fingido.

E mais: os valores éticos e familiares dela, segundo os psicólogos, seriam produto de um discurso pronto, sem autenticidade. “Os psicólogos utilizaram as duas técnicas mais indicadas no caso. Foram avaliadas, com toda seriedade, e se tornou um exame imbatível pela sua qualidade, pela maneira como foi feita”, elogia Alvino Augusto de Sá.

De acordo com o professor da USP, os psiquiatras que participaram do exame criminológico não tiveram a mesma opinião dos psicólogos. Os médicos concluíram que Suzane não sofre de doença mental e que, em liberdade, dificilmente cometeria outro crime.

Decisão

O resultado do exame psicológico serviu de base para a Justiça tomar uma decisão. Suzane, arrependida ou não, ainda deve ficar mais tempo na cadeia, longe do convívio social. Na decisão, de outubro deste ano, disponível na íntegra na internet, a juíza Sueli Armani cita as principais conclusões do exame, como a facilidade que Suzane tem de perder o controle emocional.

A sentença afirma que a aparente fragilidade da jovem constitui flagrante dissimulação e que o bom comportamento na cadeia pode ser intencional, por conveniências próprias, visando à obtenção de benefícios. A juíza negou a concessão do regime semiaberto a Suzane Richthofen. Ou seja, ela vai continuar presa. A defesa da jovem já entrou com recurso na Justiça.

O professor de criminologia da USP acredita que um dia a presa pode até ter uma vida normal, fora da cadeia. “Se ela tiver uma boa assistência terapêutica, acho que tem condições de um dia voltar mais consciente, mais segura, mais resistente à frustração”, aposta Sá.

Fonte: G1.

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