Pesquisa com mais de 11 mil jovens brasileiros mostra que 37% beberam pela primeira vez antes dos 13 anos. Em Maringá, garoto de 12 anos foi internado em coma alcoólico.
Para muitos adolescentes de 16 anos, consumir bebidas alcoólicas faz parte da rotina diária. Outros acreditam que o legal é beber até cair. Há também quem comece a beber com menos de 13 anos. Fatores como relações familiares ruins ou péssimas, pais que bebem demais, jovens e famílias que não seguem religião e desempenho escolar ruim contribuem para aproximar o jovem da droga lícita. Essas são algumas conclusões da pesquisa “Este Jovem Brasileiro”, desenvolvida pelo Portal Educacional em parceria com o psiquiatra Jairo Bauer, para compreender a relação dos jovens com as bebidas e estimular ações educativas que ajudem a minimizar comportamentos de risco.
A pesquisa contou com a participação de quase 12 mil alunos entre 13 e 18 anos de 96 escolas particulares de várias cidades do Brasil, que responderam anonimamente a um questionário online no período de 18 de maio e 6 de julho deste ano. O álcool foi tema da quinta edição do projeto, que já ouviu 42 mil alunos sobre os temas Comportamento e Risco, Valores e Atitudes, Relações Familiares e Sexualidade.
Em Maringá, o Centro de Atenção Psicossocial para Álcool e outras Drogas (CapsAD), que oferece tratamento ambulatorial para dependentes químicos, o levantamento epidemiológico dos pacientes não especifica a idade, apenas o tipo de doença, o que não significa que o número de adolescentes atendidos seja inexpressivo. “Me lembro do caso de um garoto de 12 anos que foi internado, no ano passado, em coma alcoólico”, diz Cíntia Zini, enfermeira do ambulatório. No entanto, segundo ela, apesar dos casos de uso abusivo de álcool e maconha, a droga de maior incidência entre os adolescentes é o crack.
O Conselho Municipal Antidrogas (Comad) também não dispõe de dados sobre a prevalência do uso de álcool entre adolescentes. Mas, segundo a psicóloga Maricelma Brégola, presidente do Comad, os resultados apresentados são muito semelhantes ao que se percebe no ‘olhômetro’, e não apenas entre as pessoas com menos de 18 anos. “A bebida alcoólica está na mesa do brasileiro como a água e o refrigerante”, diz ela.
A pesquisa realizada com os estudantes apontou que mais de 50% dos jovens que já beberam começaram com os amigos, mas 42% tiveram o primeiro contato com o álcool com familiares. Para Maricelma, esse resultado não surpreende. “A família permite que a criança experimente e normalmente o primeiro contato ocorre cedo. Em festas de aniversário de um ano e até de batizado têm bebida. E quem é que compra? Os pais. A festa é para eles, não é para as crianças”, diz.
Pedagoga alerta para os sinais
Com experiência de trabalho em escolas estaduais junto a alunos do ensino médio, a pedagoga Adriana Salvaterra Pasquini afirma que as notas baixas sinalizam com eficácia a existência de problemas. “Nenhum adolescente se envolve com drogas lícitas ou ilícitas sem antes apresentar sinais. Boletim com notas ruins merecem atenção”, diz ela. O pedido de socorro, de acordo com Adriana, sinaliza que no contexto familiar não está muito claro o lugar que o jovem ocupa. “Muitas vezes, é melhor ser lembrado negativamente do que ser totalmente esquecido.”
Na opinião da pedagoga, a falta de diálogo com o filho impede que os pais captem os sinais emitidos por ele. Em meio aos afazeres do dia a dia, conhecer amigos, namorados e os locais que os filhos frequentam acabam ficando em segundo plano. Quando, finalmente, a conversa ocorre, o envolvimento com as drogas já se deu. “A rebeldia é própria do jovem. Os amigos sabem muito mais da vida um do outro do que os pais, mas as experiências são as mesmas. Sem a mediação de um adulto, é cego guiando cego, eles vão cair no precipício”.
Distância
Em muitos casos, a distância entre pais e filhos é reproduzida entre escola e família. Para a pedagoga, as duas instâncias diferentes que lidam com o mesmo indivíduo precisam falar a mesma língua. Isso porque, depois do problema instalado, é comum a escola ser cobrada por atribuições que, na opinião de Adriana, não cabem a ela. “O papel da escola é a transmissão de conhecimento científico, não é educar. O aluno é temporário para a escola, mas o filho é eterno para os pais”, reconhece.
Distância
Em muitos casos, a distância entre pais e filhos é reproduzida entre escola e família. Para a pedagoga, as duas instâncias diferentes que lidam com o mesmo indivíduo precisam falar a mesma língua. Isso porque, depois do problema instalado, é comum a escola ser cobrada por atribuições que, na opinião de Adriana, não cabem a ela. “O papel da escola é a transmissão de conhecimento científico, não é educar. O aluno é temporário para a escola, mas o filho é eterno para os pais”, reconhece.
Muitas vezes, segundo a profissional, a sensação é de que a escola está de mãos atadas porque falta, por parte da família, confiança na escola, e ela não dispõem do respaldo dos pais para atuar. “É muito difícil lidar com a realidade de ver um ex-aluno envolvido em acidentes, homicídios, assaltos e até tráfico e pensar que se as orientações tivessem sido ouvidas, o futuro daquele jovem poderia ter sido outro.”
O contato diário com jovens concede a Adriana o respaldo para revelar que meninos e meninas estão ‘concorrendo’ entre si para ver quem está bebendo mais, e que o uso de álcool começa a ser percebido depois dos 14 anos, o que confere com os resultados apurados pela pesquisa “Este Jovem Brasileiro”: 30% dos estudantes ouvidos afirmaram que bebem com regularidade a partir de 14 ou 15 anos e o padrão de consumo entre garotos e garotas é muito parecido.
O Diário do Norte do Paraná. Cidades. 25/10/2009.
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