quarta-feira, 2 de abril de 2008

Canções de paz para motivar as tropas

A medida pode ser impopular, mas ele não se preocupa com isso. No batalhão que comanda, a ordem é não entoar cânticos de teor beligerante. Especialista em Políticas Públicas de Segurança Pública pela Universidade Federal Fluminense (UFF), o tenente-coronel Carlos Eduardo Milagres Pereira, novo comandante do Batalhão de Choque da Polícia Militar do Rio de Janeiro, pesquisou as “canções de guerra” cantadas em cursos de formação da PMERJ e concluiu que algumas podem “transmitir imagens mentais diferentes do que é a missão da Polícia Militar”.


As “canções de guerra” são cânticos motivacionais para inspirar força aos alunos. Não são oficiais, mas são aceitas e informalmente incentivadas. Cada pelotão tem as suas. Segundo Milagres, aquelas que falam “em matar e explodir o inimigo” geralmente foram compostas por policiais oriundos das Forças Armadas.


Para o oficial, essas mensagens podem trazer conflito na formação do policial e devem ser substituídas por outras que falem da missão preventiva da polícia, da proteção do cidadão e do uso progressivo da força. “Há um conflito entre o que se aprende nos bancos escolares das Academias de Polícia e o que os alunos cantam”, afirma o tenente-coronel.


Para a sua monografia de conclusão do curso de pós-graduação na UFF, intitulada “Canções de Guerra – um signo bélico na formação do policial militar do Rio de Janeiro” (2002), Milagres pesquisou cânticos de pelotões em três organizações militares: o Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças 31 de Voluntários (CFap) da PMERJ, a Escola de Bombeiros Coronel Sarmento, do Corpo de Bombeiros do Estado do Rio de Janeiro, e o Centro de Instrução Almirante Nilciades Portela Alves (Ciampa), do Corpo de Fuzileiros Navais.


Foi solicitado aos pelotões selecionados pelos Comandos das unidades de ensino que cantassem os cânticos que mais lhes motivavam. Milagres concluiu que em alguns grupamentos da PM as canções têm mensagens mais próximas à missão dos fuzileiros do que à dos bombeiros, quando na verdade deveria ser o contrário. No final da matéria, transcrevemos a canção oficial do Batalhão de Choque, cuja letra exalta o trabalho em equipe e o zelo pela paz e a tranqüilidade, e trechos dessas canções chamadas "de guerra".


Cidadão em conflito com a lei não é inimigo de guerra


Segundo Milagres, no ethos militar os sacrifícios e triunfos frente ao inimigo são “falicamente enaltecidos e até recompensados”, enquanto as ações policiais junto à sociedade, menos ruidosas e mais cotidianas, não recebem o mesmo tratamento nem pela própria Polícia Militar, gerando uma dependência aos valores militares não policiais e conseqüentemente influenciando a atitude dos policiais.


Um exemplo de como os valores resultam em posturas distintas é a ação do policial frente ao cidadão em conflito com a lei. Independentemente da gravidade de seus delitos, ele possui direitos e garantias individuais respaldadas em lei, enquanto um inimigo de guerra tem direitos bem mais restritos. “A ação da Polícia Militar deve ser civil”, diz o oficial.


“Na formação do Policial Militar é fundamental que se estabeleça que a concepção de segurança pública não é exclusivamente militar, havendo a dimensão operacional concomitante com a dimensão civil, social, tendo que privilegiar a prevenção e a investigação para que a repressão venha a ser, um dia, menos importante”, escreveu no trabalho.


Milagres defende a reformulação da estrutura de ensino da PM de forma que seja reforçada a missão do policial como mediador de conflitos cotidianos da sociedade da qual faz parte, e a ação de repressão seja a exceção em sua função.


Questionado sobre como se sente à frente do Batalhão de Choque, responsável pela preservação e o restabelecimento da ordem pública e historicamente temido pela repressão a manifestações, Milagres disse não ver nenhum conflito. “O direito das pessoas é limitado ao direito dos outros. Qualquer cidadão tem o direito de se manifestar, mas não de causar transtornos ou prejuízos ao direito dos outros. Como representantes do Poder Público, nossa missão é preventiva, podendo fazer uso gradual da força para conter alterações”, esclarece.


A canção do Batalhão de Choque da PMERJ (oficial)

Autor: Coronel PM Amêndola/Sgt PM Everaldo


Para frente, sigamos com orgulho
Por ser um exemplo da Corporação
Nossa equipe trabalha em conjunto
Sempre cumprindo mais uma missão.


Se na paz a missão que nós temos
É zelar pela ordem e a tranqüilidade
E sabemos que a nossa Polícia
É quem mede o grau de civilidade


Nosso Batalhão de Choque
Não conhece ninguém forte
Sempre que solicitado
Não tem medo nem da morte


Para frente, sigamos com orgulho
Por ser um exemplo da Corporação
Os triunfos que tivemos temos que lembrar
E teremos esperança de outros ganhar,
Com esforço, disciplina e boa união,
Manteremos com ardor a nossa tradição


Nosso Batalhão de Choque com honestidade
Trabalhando e servindo em nossa cidade
Com o peito flamejante e amor varonil
Em defesa do nosso Brasil


As "canções de guerra" (não oficiais)


CFAP/PMERJ


“Quando eu morrer eu vou de FAL e de BERETTA
Vou lá no inferno dar três tiros no capeta
E o capeta vai ficar desesperado
Meu Deus do céu tira daqui esse soldado”


“Ataca, ataca, impõe o seu valor
Não tem medo da morte, ao inimigo causa horror
Nós somos da Primeira, nosso lema é vibração
Estamos sempre prontos a cumprir qualquer missão
Terceiro, CFAP”


“Olê mulher rendeira
olê mulher rendá
tu me ensina a fazer renda
que eu te ensino a guerrilhar
Mas se me der uma granada
eu largo minha namorada
Com um fuzil e uma granada
eu não preciso de mais nada
A noite é minha amiga
A chuva minha companheira
Por este solo que tu pisa
Eu patrulhei a noite inteira”


Centro de Instrução Almirante Nilciades Portela Alves (Ciampa), do Corpo de Fuzileiros Navais


“Fuzileiro, fuzileiro, donde tu vieste
Eu venho da montanha da terra do Medanha
Fuzileiro, fuzileiro qual é a tua missão?
É matar o inimigo e causar destruição”


“Quando eu morrer eu vou de FAL e de BERETTA
Chegar no inferno dar três tiros no capeta
Mas o capeta vai ficar desesperado
Meu Deus do céu tira daqui o guerreiro alado
Mas o capeta gritava e eu não saía
Este soldado é da 1a Companhia”


“Me pergunta de onde eu venho
Diz qual é a minha missão
Eu trago a morte e o desespero
E a total destruição
No cordel uma granada
Acionadores de tração
Quem vier atrás de mim
Só vai ouvir a explosão
E gargalhadas eu vou dar
Há! Há! Há! Há!"


Escola de Bombeiros Coronel Sarmento, do Corpo de Bombeiros do Estado do Rio de Janeiro


“Para salvar
Avançar
Enquanto o povo berra
É Deus
No céu
E Bombeiro aqui na Terra”


“Olhe pra mim
Se orgulhe de mim
Eu tenho aquilo que você sempre quis ter
Força, coragem, vibração, pode crer
Este é o lema do CFSd
Eu arrisco a minha vida pra poder salvar você”

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