terça-feira, 8 de abril de 2008

Triste retrato das escolas sul africanas

No meu último dia de férias na África do Sul, quando deixava a Cidade do Cabo, rumo às Ilhas Maurícius, me deparei com uma triste manchete no jornal local The Star. "Shocking Report on School Behavior: Hit me, hit me, rape me" dizia a matéria, ilustrada com uma foto de jovens negros que pareciam se divertir em uma escola fisicamente deteriorada. O título se refere a uma relatório organizado e divulgado pela Comissão de Direitos Humanos da África do Sul sobre violências nas escolas públicas na região da Cidade do Cabo. A frase "hit me, rape me" (me bata, me estupre), segundo o documento, é usada em brincadeiras de crianças de 7 anos nas escolas. "Essa brincadeira demonstra o tamanho e o nível da brutalidade que os jovens têm sofrido e quanto se tornou endêmica a violência sexual na África do Sul", diz o relatório.

Segundo a comissão de Direitos Humanos, só 25% dos crimes ocorridos nas escolas são denunciados ou reportados de alguma maneira. O trabalho concluiu que há cada vez mais facas e armas de fogo nas escolas. Estudos mostram que mais de 25% dos assaltos registrados nas comunidades ocorrem em estabelecimentos de ensino.

Outra lamentável e revoltante conclusão do documento é o aumento no número de casos de alunas que sofrem violência sexual exercida por professores, muitas vezes em troca de notas. Criou-se até um termo para designar o crime: STM (sexually transmitted marks) ou notas sexualmente transmissíveis, em português. Um outro estudo usado como referência para o trabalho da comissão mostra que de 1.227 meninas abusadas sexualmente nas escolas, 8,5% foram vítimas de professores.

O relatório aponta como razões da grande violência nas escolas a pobreza do país, a presença de gangues e traficantes nos estabelecimentos, a falta de regras claras para coibir a indisciplina dos alunos. A comissão aponta ainda o bullying, fenômeno que cresce também em escolas brasileiras, como o percursor para formas mais sérias de violência. Caracteriza-se bullying aquela perseguição ou chateação exagerada que sofrem algumas crianças por parte dos colegas, normalmente em função de uma personalidade peculiar ou comportamento diferenciado.


por Renata Cafardo, Blog A Boa (e a má) educação.

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