segunda-feira, 28 de abril de 2008

Reconstituição de 7 horas reforça tese da polícia sobre culpa de casal

Para perícia, outra pessoa teria só cerca de 5 minutos para invadir apartamento, matar menina e limpar marcas.

As sete horas de reconstituição da morte de Isabella Nardoni reforçaram a convicção da polícia de que uma terceira pessoa não teria tempo suficiente para invadir o apartamento 62 do Edifício Residencial London, espancar e asfixiar a menina, cortar a tela de proteção com faca e tesoura, arremessá-la do 6º andar e, por fim, limpar a cena do crime. A cronometragem da versão apresentada em depoimento pelo casal Alexandre Alves Nardoni e Anna Carolina Jatobá mostrou que o suposto assassino teria cerca de 5 minutos para agir sem ser flagrado.

A medição feita na tarde de ontem por peritos do Instituto de Criminalística (IC) foi dividida em duas etapas. Primeiro, eles verificaram o tempo que Alexandre teria gasto para retirar Isabella dormindo do carro e carregá-la até sua cama, no 6º andar. Chegaram à conclusão de que isso levou 6min41s. Em seguida, a equipe do IC cronometrou o tempo que o pai teria levado para trancar a porta do apartamento, descer ao 2º subsolo, onde a mulher e os outros dois filhos o aguardavam, e retornar ao imóvel.

Como o casal não compareceu à reconstituição, peritos optaram por fazer "cronometragem favorável" aos acusados. Ou seja: fizeram tudo como se o elevador sempre estivesse nos andares. O percurso completo levou aproximadamente 13 minutos. O tempo coincide com outras provas técnicas colhidas pelo IC.

Os peritos já sabiam, por exemplo, que o GPS instalado no Ford Ka de Alexandre foi desligado às 23h36min11s. Quase 14 minutos depois, às 23h49min59s, os telefones dos bombeiros registraram o primeiro pedido de socorro, feito por um morador do 1º andar do Edifício London. "Para nós, não há mais qualquer dúvida: Alexandre e Anna Carolina foram os únicos adultos na cena do crime", afirmou um perito do IC.

Os resultados das cronometragens também contradizem a narrativa feita por Alexandre em seu último depoimento à polícia. Segundo ele, o elevador não estava no 2º subsolo naquela noite, mas chegou rápido. Ao subir, o pai diz ter apanhado as chaves de casa no bolso da bermuda. Na seqüência, acendeu as luzes de um vitral na entrada do apartamento, as da sala, do corredor e, por último, do quarto de Isabella. Alexandre ainda tirou os tamancos da menina, a cobriu com edredom e acendeu o abajur. Antes de descer, foi ao quarto dos meninos, recolheu brinquedos do chão e os colocou numa caixa branca. Por último, diz ter subido de chinelo na cama dos filhos para fechar a janela que estava aberta - daí, segundo ele, as pegadas encontradas pela perícia no lençol.

Em seu depoimento, Alexandre calcula ter ficado cerca de 5 minutos dentro de casa antes de voltar para buscar a mulher e os dois filhos. Já na garagem, teria permanecido mais 19 minutos.

A reconstituição começou às 10 horas, sob forte esquema de segurança e sem os três advogados do casal. Um dos momentos mais impressionantes foi às 13 horas, quando um perito de porte semelhante ao de Alexandre soltou pela janela boneca com peruca de cor e corte igual ao de Isabella e a roupa que a menina vestia ao ser morta (camiseta azul e legging branca). O perito se debruçou com os braços estendidos no corte de 47, 5 centímetros feito na rede de proteção, soltou a mão esquerda da boneca e continuou segurando a direita. Em seguida, largou a boneca, que ficou suspensa no ar por alguns segundos, presa apenas por fios de náilon.


Estadão, 28/04/2008.

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