terça-feira, 8 de abril de 2008

Para delegado, transferência de “gordinhos” é saída para superlotação

O problema de superlotação na carceragem do 12º Distrito Policial de Santa Felicidade, em Curitiba, é evidente, conhecido e, de tão grave, pode resultar na interdição do xadrez na próxima semana. Nesta segunda-feira (7) eram 127 presos abrigados num espaço construído para apenas 24. A situação é tão caótica que os presos obesos estão tendo prioridade na hora de transferência. "Quando abre vagas no CTII (Centro de Triagem II, em Piraquara) damos preferências para condenados, membros de quadrilha e para os obesos", diz o delegado Rogério Martim de Castro. "Eu tenho 140 kg e sei que um gordinho ocupa muito espaço", contemporiza.

Brincadeiras a parte, Castro reconhece: "a superlotação ainda existe. Mas só podemos transferir presos quando abrem vagas. Como o ritmo de prisões é mais acelerado resulta na superlotação". O problema no 12ºDP se agravou no último mês - depois que a vigilância sanitária, por questões de higiene e superlotação nas celas, interditou o 11ºDP, na CIC. "Desde então estamos absorvendo os detentos do 11ºDP. Por dia, chegam cerca de 10 novos presos", argumenta o delegado.

As questões de higiene e de superlotação são percebidos também pelos integrantes da Comissão de Direitos Humanos da secção paranaense da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-PR). Os advogados estiveram na carceragem do 12ºDP na manhã desta segunda-feira (7) e constataram que a situação carcerária piorou no último mês. No início de março, uma equipe da vigilância esteve no xadrez e determinou uma série de mudanças, a ser feita num prazo de 30 dias, que termina no fim desta semana. De mudanças, somente a instalação de três exaustores para melhorar a umidade, a circulação de ar e a dissipação do calor dentro das celas.

A instalação do equipamento, no entanto, não deve evitar uma possível interdição - já que no 11ºDP foi feita a mesma obra e dias depois a carceragem foi desativada. Apesar da interdição, o delegado Gérson Machado confirmou que a superlotação resiste: "hoje são 125 presos, mas nas celas cabem menos de 40. Não entram mais presos e só saem os que conseguem alvará de soltura", disse o delegado do 11ºDP.

A advogada Izabel Kugler Mendes, secretária da comissão da OAB, relatou o que viu durante a visita no 12ºDP. "As condições de higiene estão péssimas. Os presos vivem numa insalubridade total", contou. Izabel disse ainda ter visto presos com tuberculose e um detento que na semana passada foi baleado na cabeça - ambos esperavam transferências. "O preso não tem tuberculose. Ele foi atendido por um médico. Isso é malandragem dos detentos. Todos querem sair daqui", diz o delegado. "As condições no CTII são melhores. Lá os presos podem receber visita, ficam no sol, jogam futebol", completou.

O delegado confirmou que o detento baleado na cabeça divide a cela com outros presos. " Este preso reclama de dores de cabeça, mas os médicos liberaram ele", explicou. Nesta terça-feira (8) o delegado espera a transferência de 10 presos. "Na lista estará esse rapaz que diz ter tuberculose e o preso baleado na cabeça. Além deles, quem for condenado, membros de quadrilha e, se sobrar ainda vagas, vão os gordinhos", concluiu Castro.


Gazeta do Povo, 08/04/2008.

Nenhum comentário:

Pesquisar este blog