quarta-feira, 23 de abril de 2008

Falta de alimentos ameaça 100 milhões de pessoas, diz programa da ONU

Programa Mundial de Alimentos classifica crise como 'tsunami silencioso'.
Órgão já teve que suspender programa de ajuda no Camboja.

A falta de alimentos ameaça como um "tsunami silencioso" afundar na fome cem milhões de pessoas, anunciou nesta terça-feira (22) em Londres o Programa Mundial de Alimentos (PMA) das Nações Unidas.

"A insegurança alimentar não representa apenas uma ameaça para a fome, mas também para a paz e a segurança", declarou a chefe do PMA, Josette Sheeran, em entrevista coletiva em Londres, onde hoje participa de uma reunião de especialistas convocada pelo primeiro-ministro do Reino Unido, Gordon Brown, para analisar esta crise.


Maior desafio

Uma crise que o PMA não hesita em definir como o maior desafio ao qual enfrenta em seus 45 anos de história e que, como explicou Sheeran, afeta o trabalho desta agência da ONU de duas formas: encarecendo e, portanto, reduzindo a ajuda que pode prestar e a obrigando a congelar alguns programas.

Desta forma o PMA, com as mesmas contribuições que em junho passado, agora pode proporcionar 40% a menos de ajuda, pois alimentos como arroz, trigo e milho praticamente dobraram seu preço nos últimos meses.

Após este aumento foram encontrados fatores como a alta do preço do petróleo, o boom dos biocombustíveis, o aumento da demanda nos países em desenvolvimento e a mudança climática, que causa mais inundações e secas.


Urgência

O PMA, que previa para 2008 um orçamento de US$ 2,9 bilhões para prestar socorro a mais de 70 milhões de pessoas em cerca de 80 países, já fez em fevereiro passado um pedido de emergência de US$ 500 milhões a seus doadores para manter seus projetos diante das últimas altas dos preços da comida.

Entretanto, esta diferença aumentará para até US$ 755 milhões, declarou Sheeran, que era secretária adjunta de Estado de Assuntos Econômicos e Agrícolas dos EUA antes de ocupar o cargo máximo do PMA.

"Esta é a nova cara da fome, os milhões de pessoas que não estavam em uma categoria urgente por causa da fome há seis meses e agora estão", declarou a chefe do PMA, que também compareceu diante da comissão de Desenvolvimento Internacional do Parlamento britânico.


Decisão dolorosa

Como conseqüência desta situação, o PMA teve que tomar a "dolorosa" decisão de suspender um programa de alimentação escolar destinado a 450 mil crianças no Camboja, que começava em maio próximo, a menos que se alcance financiamento a tempo.

Porém, há outros programas de ajuda ameaçados no mundo todo.

Para enfrentar este novo "tsunami", "que atinge um maior número de pessoas em todos os continentes", a comunidade internacional deve, de acordo com Sheeran, dar a mesma "resposta global" que à tragédia causada pelo maremoto que sacudiu em 2004 o sudeste asiático, deixando 250 mil mortos.

"Necessitamos do mesmo tipo de ação e generosidade", disse a chefe do PMA, que abordará a situação com um plano de trabalho em três fases.


Três etapas

A curto prazo, tentará conseguir financiamento para programas de ajuda ameaçados. A médio prazo, oferecerá sua capacidade logística para redes de distribuição e, a longo prazo, apoiará uma reforma das políticas e assessorará os Governos envolvidos em programas de desenvolvimento agrícola.

Além disso, Sheeran apostou na colaboração de outros agentes, como outras agências da ONU, o Banco Mundial (BM), o Fundo Monetário Internacional (FMI), ONGs e Governos de todo o mundo para enfrentar esta crise.


G1, 23/04/2008.

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