sábado, 5 de abril de 2008

Excesso de abortos preocupa médicos cubanos

Em Cuba, o aborto foi legalizado em 1965. Em 2006, de cada 100 mulheres grávidas, 37 abortaram


Milena, de 19 anos, sorri nervosa e rói as unhas, mas ainda assim continua na fila para abortar em uma clínica de Havana. Os motivos? Está estudando e só conheceu o namorado três meses atrás.

Em Cuba, o aborto foi legalizado em 1965 e as mulheres são livres para decidir quando ter filhos e quantos serão. O país é considerado um dos mais avançados da região em matéria de planejamento familiar.

Mas o recurso indiscriminado do aborto preocupa os médicos, demógrafos e políticos de Cuba. Em 2006, por exemplo, 67.903 mulheres na faixa dos 12 aos 49 anos se submeteram a pelo menos um aborto, ou seja, de cada 100 mulheres grávidas, 37 abortaram.

Somente seis morreram em decorrência da interrupção provocada da gravidez.

"O aborto ainda é muito utilizado como método contraceptivo", disse à Reuters a ginecologista Celia Hernández, que trabalha em uma clínica comunitária em Havana.

A Sociedade Cubana de Desenvolvimento da Família informa que os abortos aumentam durante a adolescência, desencadeando problemas maiores.

Segundo dados oficiais, 70% das mulheres que passam por consultas sobre fertilidade para engravidar abortaram uma ou duas vezes durante a adolescência.

"Apesar das campanhas nas escolas e na televisão, os jovens de hoje não pensam como nós. São caóticos na questão da sexualidade", disse Hernández, ao terminar um procedimento de aborto ambulatorial, realizado nas primeiras semanas de gravidez.

Além do aborto, o Ministério da Saúde Pública provê gratuitamente desde pílulas anticoncepcionais e camisinhas até cirurgias para esterilização de homens e mulheres que as solicitarem.

Os médicos alertam sobre os riscos do aborto, como infecções ou hemorragias e até a morte. "Do ponto de vista médico, o ideal é não correr esse risco (...) Mas não se pode negar essa consulta a ninguém. Não estou aqui para dizer: Tu tens de parir", disse Hernández.

O alarme sobre a baixa natalidade e o rápido envelhecimento da população cubana foi dado depois que o número de habitantes do país caiu de 11.243.836, em 2005, para 11.239.536, em 2006 -- a primeira redução em 25 anos.

Desde a década de 1970, a taxa média de fecundidade é inferior ao nível estimado para a renovação da população.

Em 2025, um de cada quatro habitantes terá mais de 60 anos, tendência que agrava a falta de mão-de-obra e eleva os custos da assistência social e médica, que é gratuita em Cuba.


Fonte: Gazeta do Povo, 05/04/2008.

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