domingo, 20 de abril de 2008

Escola pode desenvolver capacidade humana para não-violência, aponta pesquisador

Brasília - A escola pode ser um instrumento estratégico e poderoso de combate à violência, ao estimular o desenvolvimento neurológico das crianças por meio de uma educação para a paz.

A opinião é de Luis Henrique Beust, diretor executivo da organização não-governamental (ONG) Anima Mundi, que desenvolve ações e estudos sobre desenvolvimento humano e social. Ele foi um dos palestrantes da Conferência Nacional da Educação Básica, realizada nesta semana em Brasília.

“Não se trata apenas de diminuir ou prevenir a violência na escola, mas também de preparar o aluno para combater a violência estrutural na sociedade e estabelecer laços de boa-vontade, de paz e de concórdia entre os povos”, ressaltou.

De acordo com o Beust, estudos recentes da neurobiologia fundamentam metodologia e práticas pedagógicas específicas a serem utilizadas no ambiente escolar para desenvolver nas crianças a porção do cérebro que pode torná-las menos violentas.

O pesquisador explicou que por muito tempo o homem teve apenas o cérebro reptílico, situado na base da nuca, onde estão localizadas as reações primitivas de fuga e ataque, mas à medida que evoluiu foram sendo desenvolvidas áreas ligadas às emoções e aos pensamentos. Por último foi originado o lobo frontal, chamado de cérebro angélico, relacionado aos bons sentimentos, à fraternidade, à criatividade e ao afeto.

Segundo ele, as crianças podem ser educadas para desenvolver mais o cérebro angelical do que o reptílico.

“As pesquisas mostram que quando a criança está sujeita a um ambiente de ataque, agressão, medo, o que comanda suas reações é o cérebro reptílico e a partir daí ela desenvolve maior número de conexões nervosas, de sinapses nessa área. Ou seja, o cérebro fisicamente se adapta à agressão."

"Por outro lado, quando é colocada num ambiente de paz, de acolhimento, de afeto, o lobo angélico funciona e a criança desenvolve capacidades imensas de ação social, de solução de conflitos, de criatividade positiva”, disse Beust.

Ele destacou que o melhor período para o estímulo é nos três primeiros anos de idade, cruciais para o desenvolvimento cerebral, mas os indivíduos estão maleáveis até os 21 quando o processo se consolida.

Segundo ele, uma das coisas fundamentais a ser ensinada às crianças é a empatia. “Quando a empatia não é apreendida nós temos, por exemplo, as pessoas que cometem assassinatos em série, que não conseguem entender a dor do outro.”

Como exemplo prático da atuação do professor no cotidiano escolar para favorecer a empatia, ele citou as situações em que uma criança bate na outra. Segundo o pesquisador, nessas situações, as crianças devem ser estimuladas a refletir em vez de ser punidas.

Para Beust, as pesquisas mostram que a violência é apenas uma das possibilidades do ser humano e não uma característica natural. “A violência não é intrínseca ao ser humano. Ela é uma possibilidade, que prevalece quando o ser humano é frustrado em suas necessidades de segurança, de afeto, de amor.”

De acordo com ele, além de formar cidadãos mais pacíficos, o ambiente de diálogo e carinho na educação é fundamental para o aprendizado. "Não é possível desenvolver o intelecto de uma criança sem amor, porque as capacidades cognitivas ficam embotadas”, afirmou.


Agência Brasil, 20/04/2008.

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