quarta-feira, 23 de abril de 2008

Artigo - Juventude, violência, escola e bullying, Carlos Alberto Barcellos*

Quatro palavras fortes presentes no seminário acontecido na Unisinos nesse final de semana. Promovido pela ONG Diganaoaobullying, além de aprofundar um olhar sobre as temáticas, fortaleceu projetos que promovam a vida da juventude como resposta a uma vida sem significado.

O bullying, como expressão de uma parte velada da violência, está em todos os lugares. A juventude, por ser a pele mais sensível da sociedade, recebe essa carga de uma cultura que banaliza a vida. A pedagogia do cuidado e intervenções afetivas, ativas e efetivas ajudam na formação de um ser humano melhor. É nossa ação antibullying.

É preciso tecer um novo olhar sobre a juventude. Há uma moratória social que está a exigir de todas as instituições um claro compromisso com essa etapa de vida formadora de conceitos centrais, como ética e cidadania. O seminário foi nos envolvendo o dia todo. Mostrou a necessidade urgente que temos de estudar o "fenômeno juvenil" em todas as suas manifestações. Buscar entender as causas da violência entre os jovens, identificando as práticas do bullying construídas sobre todo tipo de preconceito.

Instaurar a justiça como cura é a resposta. Uma escola que constrói com sua comunidade educativa normas de convivência tem maior legitimidade em falar de respeito às diferenças do que aquela cujas regras nascem de gabinetes. Todos os jovens precisam de limites. Agradecem quando são capazes de perceber afeto no exercício da autoridade.

Enganoso pensar que os jovens não são capazes de fazer discernimento sobre aquilo que fazem. A escola precisa se capacitar para essa nova realidade. A violência é tema transversal, tanto quanto as ferramentas de educação para a paz. Os cenários de quem são os agressores e as vítimas são observáveis. Imaginemos situações recorrentes de gordura, sexualidade, magreza, defeitos físicos, um quadro presente em todos os lugares, independentemente da região social onde a escola se localize. Nesse ambiente, há alguém que agride incensado por seus pares. Vitimizados silenciosos com medo de assumirem suas dores. Uma realidade que é cruel. Sobra a grande massa, aqueles que testemunham e se calam. São os indiferentes à dor do outro. Nada que não vejamos todos os dias, pelos cantos de nossas cidades. A indiferença nos torna cúmplices.

Um dos efeitos mais notórios do bullying é a evasão escolar. Sinais como gravidez na adolescência, violência física trazida de casa, tortura psíquica pela não-aceitação do jeito como esse jovem é contribuem para jogar nas ruas jovens que usam a linguagem da violência como um grito de socorro.

Bendito sábado inquietante. Se acharmos que crianças e jovens não possuem futuro, que futuro elas terão? A resposta a essa pergunta está em nossas mãos.

*Professor



Zero Hora, 23/04/2008.

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