segunda-feira, 15 de julho de 2013

Vida e morte, fluxo natural da existência

  João Baptista Herkenhoff
 
       A Academia Espírito-Santense de Letras elegeu dois novos membros, De uma das escolhas (a de Jeanne Bilich) cuidei em artigo anterior. Tinha preparado o espírito para, em artigo subsequente, falar sobre Jorge Elias Neto, sucessor de Athayr Cagnin, na cadeira número 2. Com esse duplo olhar, o périplo acadêmico, previsto para o momento, teria sido cumprido, neste território aberto que é a página de Opinião dos jornais. Mas eis que falece a acadêmica Beatriz Abaurre, alterando o contexto no qual o artigo planejado deveria ser inserido.
     Vamos então aos dois acadêmicos que devem ser homenageados hoje: o que entra e a que parte.
     Jorge Elias Neto, que é poeta, sucedeu a outro poeta - Athayr Cagnin. Destaco, neste artigo, dois livros de Jorge Elias: “Verdes Versos” e “Rascunhos do Absurdo”.
Como escreveu José Augusto Carvalho, no prefácio de “Verdes Versos”: “O poeta (...) traduz para nós o que sua sensibilidade descobre, com palavras que não saberíamos dizer, mas que conseguem penetrar fundo no nosso coração e na nossa alma.”
Colho, nas obras citadas, palavras que não saberia dizer, mas que me penetram fundo na alma: “Procurei ser um observador da história. Pensei sempre no amor. Tive de narrar, tantas vezes, a morte e a insolitude humana.”(Olhares). “A ilha me circunda. O mar e os canais a abraçam. O homem a asfixia. Ilha, tua essência é verde; a maioria de teus séculos foram verdes. Verde é a esperança de teu ressurgimento.” (Guananira). “O escrito, o exposto, essas meias verdes verdades, já não se escondem atrás de máscaras.” (Verdes versos). “Ousarei me enveredar pelas espirais do ócio? Não sei; os chapiscos das paredes me despertam as mãos. Ouso então o verso.” (Subterfúgio). “O risco, ora era frouxo, ora era tenso; seguia desmoldando intenções. Era corisco, não se deixava ferrar com palavras. Incorrigível, só tinha um temor: a descontinuidade. Criava-se no silêncio, não deixava rastros. Optou pela clandestinidade ao abandonar o traço.” (O risco).
Relativamente a Beatriz Abaurre o que sinto é uma grande saudade. Tive diuturno contato com ela na Academia. Não a festejava apenas pela publicação de livros, como “Geografia afetiva de uma ilha”, mas também por trabalhos de menor dimensão como, por exemplo, o conto “Ausência” que foi editado no site da Academia. Disse-lhe, a respeito deste: “Que conto magnífico! Suspense, frases torneadas, estilo escorreito e elegante. Você é contista das melhores.”
Acompanhei todo o itinerário intelectual de Beatriz, marcado pela beleza e elegância de tudo que saía de sua pena, pelo permanente desejo de servir à cultura, pelo amor à terra, pela fidelidade a valores éticos a que sempre serviu com devotamento e seriedade.
   Que grande perda!
 
João Baptista Herkenhoff, magistrado aposentado e escritor. E-mail: jbherkenhoff@uol.com.br Homepage: www.jbherkenhoff@uol.com.br CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/2197242784380520
 
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