SÃO PAULO - Estudo feito pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) revela que 26% dos paulistanos (2,8 milhões de pessoas) sofrem com a síndrome do estresse pós-traumático, reflexo da violência urbana. Nos últimos 12 meses, 1,1 milhão de pessoas apresentaram os sintomas na capital, após terem sido expostos a algum tipo de episódio violento. A pesquisa ouviu 2.530 moradores de diferentes regiões da cidade.
O índice é semelhante ao de países em conflito. Nações em guerra civil, como Argélia, Camboja e Etiópia, apresentam taxas de 37%, 28% e 16%, respectivamente. E, pelas estatísticas criminais da capital, o cenário não é animador. No segundo trimestre deste ano, segundo estatísticas da Secretaria Estadual de Segurança Pública, houve 29.898 crimes violentos (estupro, latrocínio, roubo e homicídio).
Por mais de 30 anos, a professora aposentada Ângela Cassão, de 58 anos, dedicou sua vida à educação. Há três anos, o amor que tinha pelos estudantes e pelo ambiente escolar foi substituído por medo e pavor, depois de ter sido violentamente agredida por uma aluna de 13 anos.
- Só de ouvir o barulho de alunos, eu já me sinto mal, começo a suar frio. Com o tempo, deixei de sair de casa, de trabalhar, de me relacionar com as pessoas. Não sei ainda se vou conseguir voltar a trabalhar um dia - diz ela, que faz parte de um grupo cada vez maior da população paulistana que sofre de um reflexo invisível dessa violência cotidiana.
E a violência não pára. Neste sábado, quatro pessoas morreram em uma chacina em Carapicuíba , na Grande São Paulo. Segundo a Polícia, as vítimas estavam em uma oficina de motocicletas, na Estrada Tambori, quando um grupo chegou encapuzado e atirou. As vítimas foram levadas ao Pronto Socorro Sanatorinhos, mas não resistiram aos ferimentos. Uma testemunha que se escondeu no banheiro conseguiu escapar. Um pouco mais cedo, uma jovem de 20 anos foi mantida refém por quase 7 horas pelo padrastro quando chegava para trabalhar em uma loja no Brooklin. O homem queria chamar a atenção da ex-mulher para que pudesse ver os filhos.
Mas não é preciso ter sido vítima da agressão para desenvolver a síndrome. Há casos em que a pessoa presenciou a cena de violência e isso teve um impacto tão forte que ela acabou sofrendo a síndrome, segundo o pesquisador Sérgio Andreoli, da Unifesp. Os sintomas podem surgir nos primeiros 15 dias após o evento violento e se estender por anos a fio, caso não haja tratamento.
- E não é raro que as pessoas não procurem o tratamento e acabem mudando a vida e se privando de coisas por causa da doença - conclui.
Segundo dados da pesquisa, as mulheres respondem por 60% dos casos. Andreolli afirma que como essa foi a primeira pesquisa do tipo no país, ainda não é possível precisar os motivos disso.
- Mas sabemos que os homens se envolvem em episódios mais violentos e acabam morrendo. Isso pode ser uma causa - diz o pesquisador.
O Globo.
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