segunda-feira, 24 de julho de 2017

Trabalhar ou Ser? Ser ou trabalhar?

Wagner Dias Ferreira

A frase do Êxodo dita por Deus a Moisés – Eu Sou – inaugura, na Teologia Judaico Cristã, uma infinidade de probabilidades para o pensar humano e para o seu existir e fazer cotidiano. Questionamento também presente na pergunta de William Shakespeare – Ser ou não Ser? – palavras que convidam todos a sempre refletirem sobre sua própria imanência e sua essência, concatenada com suas ações práticas.

É muito comum que se escute pelos corredores do Fórum que a advocacia é um Sacerdócio em razão de uma série de peculiaridades que aproximam o fazer dos advogados daquele exercido pelos ministros religiosos. Inclusive, houve tempo no passado em que os julgamentos eram feitos por padres. Basta ver a história de Santo Ivo.

Há, hoje, os advogados que empresariam a atividade e prestam serviços de forma muitíssimo organizada a ponto de ganhar muito dinheiro. O que não é errado e também ajuda no progresso humano. Mas a regra, para os que observam o comportamento dos profissionais transitando os corredores dos prédios do judiciário são aqueles que no todo ou em parte estão a exercer um sacerdócio.

Sempre há aquela pessoa que para você para tirar uma dúvida. Ou, com a desculpa de perguntar onde fica tal lugar, aproveita para pedir uma explicação de algo que está escrito na informação processual que traz impressa ou na intimação que recebeu em casa. Pessoas que vão ao Fórum tentar a sorte para localizar um advogado, eis que o Fórum é onde estes profissionais em regra estão.

E, se não a totalidade, a imensa maioria dos profissionais acode a situação com algum consolo para a pessoa que precisa de acolhimento, amparo e orientação.

Isso é fácil quando a pessoa já se apresenta com trajes alardeando sua condição de vulnerabilidade e até com dificuldade para se expressar. Muitas vezes a matéria da dúvida é um direito familiar, ou cível, ou do consumidor e, porque não, trabalhista. A essas pessoas não são raros os que acodem para conversar e orientar.

Difícil é ver a pessoa acudir aquele que praticou um crime. Mesmo entre os criminalistas, há os que, por questões de foro íntimo, não atuam em causas específicas. Os que não fazem júri, seja por inibição ou por convicção moral, os que não fazem defesa em crimes contra a mulher por convicção moral, há os que não defendem traficantes pelo dano que provocam à sociedade e às famílias.

Assim, há entre os advogados aqueles que marginalizam determinado tipo de clientela em potencial.

Mas há aqueles advogados que atuam sem reservas. Que pegam aquelas causas perdidas dos clientes impossíveis. Aqueles clientes que mesmo a Defensoria Pública recusaria se pudesse. Não é raro ver manifestações da defensoria se recusando a atuar em processos em que o acusado aparenta pela natureza do crime possuir condições econômicas, obrigando os juízes a nomear defensores dativos que vão se recusando sucessivamente até que algum advogado, desses, sem reservas, aceita o múnus.

Trabalhando com um desses advogados, os sem reservas, ficou registrada em minha alma imortal uma frase que não se pode esquecer : “Os colegas, na sua maioria, trabalham como advogados. Eu sou advogado”.

Registro neste artigo minha homenagem ao colega e amigo GILBERTO LUIZ ZWETSCH, OABMG 35.187, que faleceu no ultimo dia 17 de julho de 2017, que me ajudou a deixar o degrau dos que trabalham como advogados e subir ao patamar dos que são advogados.

*Advogado e Membro da Comissão de Direitos Humanos da OAB/MG

Artigo enviado pelo autor. O blog não se responsabiliza pelo conteúdo do mesmo

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