O bullying é apenas um dos tipos de violência constatado. Cerca de 720 milhões de crianças em idade escolar vivem em países onde não estão totalmente protegidas por lei do castigo corporal na escola
Para milhões de estudantes em todo o mundo, a escola não é um espaço seguro para estudar e crescer, mas sim uma zona de risco, onde aprendem com medo. A afirmação faz parte do novo relatório sobre a violência nas escolas feito pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância, divulgado na semana passada. Professores ameaçadores, bullying, cyberbullying e agressão sexual foram os tipos de violência analisados. Globalmente, metade dos estudantes com idades entre 13 e 15 anos, cerca de 150 milhões de estudantes, relataram que experimentam o bullying no ambiente escolar. Em 39 países industrializados que foram analisados pelo relatório, 17 milhões de adolescentes admitiram intimidar os amigos na escola. Apesar do estudo ser focado em adolescentes, o bullying é uma prática que começa ainda na infância.
As consequências
O relatório aponta para as consequências desse comportamento de violência: crianças que sofrem bullying são frequentemente marginalizadas e mais propensas a sofrerem de solidão. Diariamente os estudantes lidam com outras formas degradantes de punição, que vão desde a física até os ataques sexuais e a violência baseada em gênero. E o pior: cerca de 720 milhões de crianças em idade escolar vivem em países onde não estão totalmente protegidas por lei do castigo corporal na escola.
O relatório afirma que “De fato, a violência nas escolas coloca corpos, mentes e vidas em risco. Causa ferimentos físicos e pode levar à depressão, ansiedade e suicídio.” Em curto prazo os efeitos sobre o desempenho educacional dos alunos dão uma ideia do que será deles no futuro. Em El Salvador, por exemplo, 23% dos estudantes entre 13 e 15 anos disseram que não tinham frequentado a escola em um ou mais dias no mês anterior devido a preocupações de segurança.
O impacto da violência nas escolas acarreta carga para a sociedade. Estima-se que os custos globais das consequências da violência contra as crianças chegam a US$ 7 trilhões por ano.
O Unicef lançou a campanha “ENDviolence (fim da violência) por acreditar que as escolas devem ser ambientes monitorados, onde estudantes e adultos se reúnam para um único propósito: ensinar e aprender. “A própria educação pode desempenhar um papel poderoso, transformar crenças e comportamentos que levam à violência. Pode envolver crianças e adolescentes em autorreflexão crítica e ajudar professores, pais e as comunidades a trabalharem juntas para promover coesão, igualdade de gênero e paz”, aponta o relatório. Segundo a organização, esforços estão em andamento em todo o mundo para acabar com a violência dentro e ao redor das escolas. “A resposta para algumas escolas é investir em atividades supervisionadas e instalações ordenadas, banheiros limpos e protegidos, e rotas seguras para a escola. Em outras, o foco é treinar professores e envolver pais e comunidades na criação de uma aprendizagem segura”, diz o documento.
A seguir, confira dicas do psiquiatra Gustavo Teixeira, fundador do Child Behavior Institute of Miami (EUA), autor do livro Manual Antibullying - Para Alunos, Pais e Professores (Ed. Best Seller), para identificar o risco precocemente e ajudar a criança.
– As escolas não podem ignorar a existência do bullying. É fundamental que se criem políticas públicas para tornar o assunto presente em todas as escolas, de maneira permanente, por meio de programas anti-bullying. A direção escolar precisa encarar o assunto com seriedade e trabalhar o tema com os alunos desde cedo, para conscientizar as crianças sobre o respeito às diferenças e à individualidade.
– Os professores e funcionários da escola devem estar preparados para identificar o bullying e dar a devida orientação ao alunos envolvidos, levando o caso à direção, que irá comunicar as famílias para trabalhar a questão em conjunto.
– Os pais e professores devem estar especialmente atentos às crianças mais fechadas, tímidas e com dificuldade para fazer amigos. Elas tendem a ser o alvo do bullying com maior frequência. Essas crianças costumam ter dificuldade para pedir ajuda aos adultos e acabam não conseguindo se livrar das situações incômodas.
– Repare se o seu filho reclama muito para ir à escola e se queixa sobre como é tratado. Se ele conta que não tem amigos, nunca é convidado para festinhas e diz que não quer fazer aniversário porque não tem quem chamar, fique de olho. Ele pode estar sofrendo com o bullying e talvez nem consiga se manifestar. Nesse caso, entre em contato com a escola para investigar a situação e entender o que se passa. No geral, a terapia cognitivo-comportamental somada ao trabalho da escola junto aos agressores costuma dar bons resultados.
Fonte: Crescer. 12.09.2018.
Nenhum comentário:
Postar um comentário