Mulheres e meninas são as mais vulneráveis, correspondendo a 71% das vítimas
A sul-africana Grizelda Grootboom durante discurso na ONU
PUBLICADO EM 27/09/17 - 15h31
O plenário da Assembleia Geral da ONU, em Nova York, reunia representantes de dezenas de países, na manhã desta quarta-feira (27), quando a sul-africana Grizelda Grootboom se aproximou do microfone. Por alguns instantes, ela encarou o público em silêncio. A emoção transbordava em sua respiração nervosa. "Não falo porque querer ser uma ativista, mas porque entendo e sinto a dor de cada menina que sofre exploração sexual", afirmou.
Traída por uma amiga e forçada a trabalhar como escrava sexual dos 18 aos 26 anos em Joanesburgo, na África do Sul, Grizelda dá vida à estatística de dezenas de milhões de pessoas vítimas de tráfico humano no mundo. Segundo o último Relatório Global sobre Tráfico de Pessoas, lançado em 2016 pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime, os crimes com fins de exploração sexual e trabalho forçado continuam sendo as modalidades mais detectadas do tráfico de pessas. Conforme o estudo, mulheres e meninas são as mais vulneráveis, correspondendo a 71% das vítimas em todo o mundo.
Para enfrentar essa realidade, a ONU lançou nesta quarta-feira a Declaração Política sobre a Implementação do Plano de Ação Global para Combater o Tráfico de Pessoas. A iniciativa tem o objetivo de reforçar as ações de prevenção ao crime, proteção às vítimas e criminalização dos traficantes pelos Estados-membros.
"O tráfico de pessoas está em todo o nosso redor, em todas as regiões do mundo", disse o secretário geral das Nações Unidas, António Guterres, em discurso no evento. Guterres ressaltou o problema da impunidade aos traficantes, que ainda persiste em muitos países. "Traficantes de pessoas recebem muito menos atenção do que, por exemplo, traficantes de drogas. Isso precisa mudar", afirmou. "Já vi muitos chefes das drogas na cadeia - e justamente. Mas nunca vi um comandante do tráfico de pessoas na cadeia".
A ONU define o tráfico de pessoas como o crime caracterizado pelo "recrutamento, transporte, transferência, abrigo ou recebimento de pessoas, por meio de ameaça ou uso da força ou outras formas de coerção, de rapto, de fraude, de engano, do abuso de poder ou de uma posição de vulnerabilidade ou de dar ou receber pagamentos ou benefícios para obter o consentimento para uma pessoa ter controle sobre outra pessoa, para o propósito de exploração".
Entre as possíveis formas de exploração estão a prostituição, a exploração sexual, trabalhos forçados, escravidão, remoção de órgãos e outras práticas. Segundo a ONU, o crime movimenta anualmente 32 bilhões de dólares em todo o mundo.
Para o secretário geral das Nações Unidas, a cooperação internacional, incluindo compartilhamento de informações, garantia da aplicação de leis e fornecimento de assistência legal são fundamentais para superação do problema, bem como o fortalecimento do apoio às vítimas. "Ninguém deveria ter que enfrentar o trauma de suas experiências sozinho", disse Guterres.
Sobrevivente do crime, Grizelda relatou sua história e quer continuar dando voz ao tema, para que as vítimas que ainda se encontram em situação de abuso e exploração encontrem alguma esperança de retomar suas vidas. "Espero que esse plano não fique apenas no papel. Mas que as ações se tornem realidade em cada país e cada cidade, garantindo a dignidade das pessoas".
* A repórter viajou a convite da ONU.
Fonte: O Tempo.
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