segunda-feira, 11 de julho de 2016

UNIDADE HUMANITÁRIA

Um deputado estadual foi agredido com spray de pimenta por policiais militares no 21 de abril, quando adentrava à praça Tiradentes acompanhado de sindicalistas policiais para manifestarem contra o parcelamento de salários. Ao falar em audiências públicas da Assembleia Legislativa sobre o assunto, enfatizei a importância da luta sindical ser colocada em um contexto maior, unida a outras lutas sociais: sindicalistas policiais deveriam ficar com outros sindicalistas que os policiais já reprimiram com força, spray de pimenta e gás lacrimogênio.

O Brasil, desde o início do século 20, presencia a força de manifestações. Em semelhança àquelas de 1917 onde movimentos de trabalhadores de orientação anarquista que aportaram no Brasil com a chegada de imigrantes europeus para substituir a mão de obra escrava adquiriram visibilidade. Depois movimentos de orientação comunista mostraram resistência à ditadura de Vargas. Fase em que o movimento sindical para ser acalmado foi cooptado, o que se chamou de “peleguismo”. Momento em que surgiu a CLT, agora combatida para levar trabalhadores de volta ao mais próximo da escravidão.

Na ditadura ocorreram eventos, fruto de segmentos populares de resistência pela luta armada, que sofreram forte repressão policial e tempos depois o movimento da anistia, também reprimido. Estas mobilizações promoveram conquistas importantes e fizeram registros históricos dos quais até hoje colhemos frutos. Seguida pela mobilização que proporcionou grande participação na elaboração constitucional com contribuições populares, que levaram a uma Constituição plural. Com a ressalva que após a promulgação da Carta Magna ela já foi atacada por emendas que com o argumento do aperfeiçoamento modificaram o que era a vontade popular.

Recentemente, as mobilizações que têm ido para a rua, dispersas, radiais (apontam em direções diversas - gente querendo democracia, outros a volta de militares ao poder ditatorial) têm produzido ambiente político caótico. De forma que não emerge a direção para a qual todos caminhem. Uma porque os personagens políticos são incapazes de exercer liderança a apontar direções e duas porque os manifestantes não se vêem representados nos políticos, tanto que não aceitam bandeiras de partidos nas manifestações.

Assim, a ausência de uma fraternidade entre as mobilizações sindicais faz com que percam força e emergem isoladas. Como pareceu na mídia o evento envolvendo o deputado vitimado por spray de pimenta. Este isolamento torna visível o risco de negar a construção histórica dos movimentos unificados e de não alcançar vitórias e conquistas.

Por isso a importância das entidades de classe de policiais dialogarem com professores, servidores da saúde, sindicatos de trabalhadores da iniciativa privada de modo que ao levantar a voz e serem resistidos pela força pública sejam irmanados com segmentos para que não corram o risco de dispersão.

*Advogado e Membro da Comissão de Direitos Humanos da OAB/MG

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