quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Eficácia no combate ao crime passa por boa gestão


País dobrou investimentos em segurança, mas índices não tiveram melhoras acentuadas. Em Canoas (RS), programa integrado reduziu indicadores de violência


De 2003 e 2009, o Brasil dobrou os investimentos públicos em segurança, informa o 4º Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, lançado recentemente. No entanto, mais verbas no combate ao crime não levaram a melhoras significativas nas estatísticas da violência: o país ainda tem uma média de 26 mortes violentas (um dos principais indicadores de criminalidade) em cada grupo de 100 mil habitantes. Não é a maior taxa do mundo, mas é alta para um país em que, no mesmo período, a economia cresceu e os indicadores sociais, de maneira geral, melhoraram. Para a ONU, é aceitável uma relação até 10/100 mil. Acima disso, o organismo considera os índices epidêmicos.
É uma contradição que, analisada apenas pelos números, parece indicar que o país está condenado a conviver com violência fora do controle. Falso. Para o secretário-geral do Fórum, Renato Sérgio de Lima, a equação não fecha devido a problemas de gestão. Gastam-se mal os recursos destinados à rubrica, e não há otimização dos instrumentos institucionais de combate ao crime. Se, de um modo geral, União, estados e municípios investiram mais, não foram capazes de desenvolver programas integrados de planejamento e ação prática, com exceções.
Há exemplos de como o planejamento e gerenciamento bem feito de recursos levam a bons resultados. Em Canoas (RS), município da região metropolitana de Porto Alegre, a combinação entre ação social e vigilância reforçada mudou drasticamente o sentido da curva da violência, revelou O GLOBO. Em três anos, os homicídios caíram em 19% (no bairro de Guajuviras, a queda foi de 46%, graças, entre outras providências, à instalação de um sistema de alto-falantes comprado nos EUA, capaz de detectar sons de disparos, o que permite a imediata mobilização das forças de segurança).
Para mudar o perfil da criminalidade (até 2010, Canoas era conhecida como “Bagdá gaúcha”, devido a altas taxas de homicídios), o município juntou iniciativas diretas na área de segurança a programas integrando os setores de habitação, saúde, assistência social, esportes, educação e saneamento básico.
Rio de Janeiro e São Paulo também contabilizam bons resultados. O Rio saiu da 2ª para a 17ª colocação em homicídios entre os estados, graças, entre outras iniciativas, à implantação das UPPs, um novo patamar nas ações de combate ao crime organizado, por enquanto na cidade do Rio. Em São Paulo, iniciativas implementadas na última década levaram o estado, em 2011, a completar o primeiro ano da sua história recente com a taxa de dez homicídios por cem mil habitantes.
São exemplos concretos de que o combate ao crime se dá com intervenções diretas para garantir a segurança pública, programas integrados de recuperação da cidadania e verbas, numa combinação que depende, essencialmente, de vontade política.

O Globo. Opinião. 26.09.2012. 

Nenhum comentário:

Pesquisar este blog