quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Bullying ou Violência, afinal, qual a diferença?


Resumo: o presente artigo apresenta as várias faces de violência que existem no contexto escolar, às vezes não notada por sua sutileza, embora marcantes para muitos alunos que se sentem coagidos. O Bullying pode ser reflexos do poder disciplinar que as crianças sofrem na escola. Deve-se entender como um disciplinamento pode causar indisciplina, se são as regras para a "ordem geral". Assim, é importante observa o fator que estimula a oposição em relação de poder que causa descontentamento dos estudantes pela escola.
Palavras-chave: bullying, violência escolar, disciplinarização, poder.
Abstract: This article presents many faces of violence that exist in the school, sometimes is not noted for its subtlety, though remarkable for many students who feel coerced. The Bullying can be reflections of the disciplinary power that children suffer at school. It should be understood as a discipline can cause indiscipline, if they are the rules for the "general order". Thus, it is important to observe the factor that stimulates the opposition to power that causes discontent of the students by the school.
Key works: bullying, school violence, disciplining, power.
1. Introdução
Refletir sobre a educação escolar dentro do atual contexto no qual ela se encontra, mediada por uma série de contradições e conceitos sobre o que leva os jovens a tomarem determinadas atitudes que oprime e machuca os mais fracos e oprimidos, obrigando-os a viverem num mundo de medo, nos leva de encontro a uma realidade que vem se vivenciando ao longo do tempo, mas que agora chega a um estado mais aprofundado, levando em conta o comportamento dos jovens na instituição escolar.
A escola, como é de praxe, é um lugar de instruir e educar, e agora passa por um processo de transformação onde a própria educação sempre foi pensada como "educação para a ordem" ou "mudança de comportamento do sujeito" voltada para uma sociedade sem dominantes ou dominados, mas justa e igualitária, e encontra-se agora num grande dilema com essa nova situação que ora domina o cotidiano escolar1.
A possibilidade de perceber essa realidade, trazida pelos alunos, tem levado a discussão o modo de como tratar o aluno dentro e fora da instituição para se compreender o que leva-o a agir dessa forma, visto que a partir desse estágio e da análise de seu cotidiano é compreender a ação dos sujeitos que nela atuam para que o ensinar e aprender sejam determinados pelas relações que existem em sala de aula.
As condições sócio-econômicas e culturais também são responsáveis por muitas formas de violência apresentadas pelos jovens, por esta razão, não cabe a escola reconhecer e assumir o lugar privilegiado de violência uma vez que ela é lugar de transformação para a sociedade junto ao seu potencial que vai além da simples transmissão vertical hierarquizada de conhecimentos. Ou melhor, estimular a inter-relação entre professor/aluno, identificando o que seria melhor para o desempenho de ambos em sala de aula.
Porém o percentual de alunos autores e vítimas de bullying chegam a ser alarmante mediante poucas informações e conhecimento que são passados pela instituição escolar como forma de ajudar e reverter esse quadro. Uma vez conhecendo a realidade do bullying a escola parte para a melhoria do relacionamento de todos os envolvidos no contexto escolar, fazendo um reconhecimento das ações praticadas pelos alunos e professores para propiciar uma vivência prazerosa diminuindo assim a violência dentro do ambiente escolar. Visto que toda e qualquer forma de agressão na escola tem que haver com a intervenção (corpo da escola) desta no sentido de amenizar ou eliminar a situação indesejada2.
Logo se tem por objetivo deste artigo a explanação das situações que ocorrem no contexto escolar, como cada componente da escola percebe e se sente em suas dependências. Sendo que o bullying algumas vezes, ou muitas, são consequências das disciplinas escolares rígidas para esta sociedade em constante mudança.
No entanto as consequências da prática do bullying emergi não somente do contexto sócio-familiar, a própria escola torna-se a "vilão", algum tipo de cárcere educacional imposta as crianças. Tem-se essa noção por relatos de pessoas mais idosas, que nas escolas, eram castigadas duramente por seus atos de "rebeldia".
Felizmente as instituições escolares sofreram uma modelação quanto aos castigos, sendo banidos por lei, no entanto ainda configura, na escola, um ambiente de superioridade, mesmo implicitamente, na relação professor/aluno, sem que o docente ao menos manifeste tom de arrogância. É o duelo poder versus disciplina3.
Enfim, existe maneira de disciplinar sem gerar poder? E existe relação de poder (positivamente) no disciplinamento das crianças? Nas palavras de Guirado, o poder não é soberano a ninguém e não esta a "disposição" de um ou algum grupo. Deve-se entender que existe relação de poder entre estudantes e professores, pois cada indivíduo possui o seu próprio ponto de vista da sociedade.
2. Bullying e violência escolar
As dependências das instituições escolares brasileiras têm testemunhado uma sequência de atitudes, éticas e politicamente não permitidas em qualquer sociedade, de injurias aos colegas de classes. A violência existente no setor educacional denominada de bullying é um fato tão antigo que em alguns casos são consideradas normais, indiferente aos que observam. Porém o que dizer sobre este termo? Qual a sua real definição? Na concepção de Lopes Neto (2005, S165) diz que:
[...] bullying compreende todas as atitudes agressivas, intencionais e repetidas, que ocorrem sem motivação evidente, adotadas por um ou mais estudante contra outro(s), causando dor e angústia, sendo executadas dentro de uma relação desigual de poder.
Se bullying é a inter-relação maléfica que alguns alunos praticam sobre outro(s), seja de forma direta ou indireta, o que diríamos da violência escolar? Por que cada vez mais tantas situações presenciadas na sociedade são reproduzidas no âmbito educacional? O mesmo autor, Lopes Neto (2005, S165), define que este termo "diz respeito a todos os comportamentos agressivos e anti-sociais, incluindo os conflitos interpessoais, danos ao patrimônio, atos criminosos, etc.", e ainda acrescenta que são os fatores externos (família, amigos, comunidade etc.) que incitam a violência nas dependências escolares como destacado, e Aquino (1998, p. 8) reforça que:
Em termos especificamente institucionais, a ação escolar seria marcada por uma espécie de "reprodução" difusa de efeitos oriundos de outros contextos institucionais molares (a política, a economia, a família, a mídia etc.), que se fariam refletir no interior das relações escolares.
Atente-se nos fatores externos que o autor destaca, mais precisamente a mídia, que a cada época torna-se um produto de consumo, muitas vezes, desenfreado com certas restrições de idade, porém numa sociedade capitalista em que vivemos acaba virando modismo.
A autora Belloni ressalta em seu artigo que esta mídia acaba criando um imaginário tendencioso e precoce, quando não, explicita a morte, as brigas, ou seja, a violência em geral mostrando as crianças que estas situações são comuns dando-lhes uma aparência de espetáculo. O certo é que criou-se a banalização da violência entre as crianças e os adolescentes, confundindo o que real do que não é, Belloni (2004, p. 587) acrescenta:
As crianças e os adolescentes constituem a infância, categoria socialmente construída, sendo sujeitos do processo de socialização e, como tais, objetos da ação de várias instituições sociais, entre as quais os sistemas de mídias, especialmente a televisão, vêm ganhando maior importância. A infância tornou-se o mais novo público-alvo da indústria, as crianças e os jovens são atingidos por uma quantidade muito grande de apelos publicitários. A influência de conglomerados de mídias é enorme, mesmo entre os adultos, tendendo a ser muito maior entre as crianças e os adolescentes, mais curiosos e mais familiarizados com a mensagem audiovisuais e mais suscetíveis de influência porque inexperientes.
Estes reflexos acabam entrando na escola, onde deveria ser o lugar de aprendizado, de socialização, de segurança em relação ao outro, acaba se transformando num ambiente que causa baixa auto-estima, sofrimento, desinteresse e demais problemas ao aluno. O que mais chama a atenção do autor Lopes Neto (2005, S166) é a maneira como essa prática perdura e como "a aparente aceitação dos adultos e a consequente sensação de impunidade favorecem a perpetuação do comportamento agressivo".
Ao analisar estas práticas abusivas nas escolas, nos indagamos, o que leva o(s) aluno(s) a estes atos tão inconsequentes? Porém deixemos claro que não queremos de forma alguma atribuir culpa ou estigmatizar os alunos, muito menos os professores, mas há um "motor", não somente a mídia, que faz com que esta relação, professor/aluno e bullying/violência escolar, tende a propelir com ímpeto nas escolas.
Não somente os fatores destacados são as causas, outros autores destacam a escola como "reprodutora" destes atos, dentre eles Aquino (1998, p. 10) menciona que:
A instituição escolar não pode ser vista apenas como reprodutora das experiências de opressão, de violência, de conflitos, advindas do plano macroestrutural. É importante argumentar que, apesar dos mecanismos de reprodução social e cultural, as escolas também produzem sua própria violência e sua própria indisciplina.
Destaca-se a seguir como a violência é gerada no seio educacional que ao invés de educar acaba deseducando este aluno. Que os fatores citados, principalmente a mídia não chegam a estimular o processo psicossocial em todos esses espectadores – alunos, mas tem uma grande parcela de culpa. Então, como é gerada essa atitude indisciplinar na escola? Quem é o responsável? Existem?
3. A escola, criadora da disciplinarização
Piletti (1997, p. 146) "a escola, ao invés de adaptar-se aos alunos, faz de tudo para que os alunos se adaptem a ela". Percebe-se perfeitamente nas palavras do autor que uma instituição, como a escola, que para inúmeros alunos é à base de sua formação ética e social, não consegue atender a flexibilização de uma sociedade em constantes modificações.
O fato é que a escola, ao longo dos tempos, de uma ritualização de costumes e tradições "imutáveis", não sujeitos as transformações da sociedade, principalmente aos jovens. Tem-se ainda um paradigma, mentalmente, que coage os alunos que sempre é visto como um "depositório" de informações, meros sujeitos destituídos de qualquer individualismo ou de expressão livre e criativa, nas palavras de Prata (1977 apud FOUCAULT, 2005, p. 110) esta disciplinarização trata-se de uma "ortopedia social", ou seja,
[...] de produzir corpos dóceis, tornando o exercício do poder economicamente menos custoso possível, estendendo os efeitos do poder social ao máximo de intensidade e tão longe quanto possível, e ainda ligando o crescimento econômico do poder ao rendimento dos aparelhos pelos quais se exerce, sejam pedagógicos, militares, industriais, médicos.
Passos (200-, p. 119) ainda assinala:
As tão conhecidas relações entre autoridade e hierarquia, em que são inseridos os alunos nas instituições escolares, vão criando uma educação para a docilidade, desenvolvendo nos indivíduos uma dependência quase infantil, que os impede de crescer como sujeitos auto-suficientes e automotivados – condições estas favoráveis para o exercício da criatividade, do raciocínio e para o amadurecimento das relações.
Muitas vezes tratam as crianças de um modo geral, desconsiderando suas próprias formas de ver, sentir, reagir individualmente. Uma "automatização pedagógica" é criada, ou seja, não existe uma inter-relação professor/aluno para cada indivíduo, o que consequentemente, refletirá negativamente na escola.
Como foi destacado anteriormente, não queremos culpabilizar o professor muito menos o corpo docente, mas expor que certas atitudes fazem com que os alunos se sintam "ameaçados" em um ambiente que seria favorável a eles. Na argumentação de Piletti (1997, p. 146), ele ostenta que "sem dúvida, o que mais prejudica a aprendizagem livre e criativa é a própria escola e o sistema social do qual a escola faz parte".
Vejamos a contribuição de Aquino (1996 apud GUIMARÃES, 1998, p. 12-13):
A escola, como qualquer outra situação, está planificada para que as pessoas sejam todas iguais. Há quem afirme: quanto mais igual, mais fácil de dirigir. A homogeneização é exercida através de mecanismos disciplinares, ou seja, de atividades que esquadrinhem o tempo, o espaço, o movimento, gestos e atitudes dos alunos, dos professores, dos diretores, impondo aos seus corpos uma atitude de submissão e docilidade. Assim como a escola tem esse poder de dominação que não tolera as diferenças, ela também é recortada por formas de resistência que não se submetem as imposições das normas do dever-ser. Compreender essa situação implica aceitar a escola como um lugar que se expressa numa extrema tensão entre forças antagônicas. [...] O professor imagina que a garantia do seu lugar se dá pela manutenção da ordem, mas a diversidade dos elementos que compõem a sala de aula impede a tranquilidade da permanência nesse lugar. Ao mesmo tempo que a ordem é necessária, o professor desempenha um papel violento e ambíguo, pois se, de um lado, ele tem a função de estabelecer os limites da realidade, das obrigações e das normas, de outro, ele desencadeia novos dispositivos para que o aluno, ao se diferenciar dele, tenha autonomia sobre o seu próprio aprendizado e sobre sua própria vida.
E Morita (1991, p. 78) assevera que "- contribui para formar força de trabalho; - contribui para inculcar a ideologia hegemônica...; - contribui para manter as condições ideológicas das relações de dominação".
Nestes sentidos (dos três últimos autores citados) a escola que não evoluiu na perspectiva da sociedade, o aluno tende a encontrar resistências as suas normas disciplinadoras, mesmo estas sendo legalmente legitimadas. Vejamos um exemplo, assim como o modelo de consumo no mercado tende a evoluir (inovar) para não perder seus clientes e consumidores, as escolas deveriam se adequar a esses "novos" jovens. Caso contrário, no exemplo exposto, a satisfação não é realizada, a empresa no mercado perde o seu espaço e os concorrentes atualizados ganham; já no caso da escola que são para muitos desses jovens todas iguais eles acabam criando uma aversão ao estudo, ao professor e consequentemente a escola.
O que acontece é que vivemos (os estudantes) numa sociedade multicultural, tecnologicamente avançada e repleta de informações com o estresse urbano cada vez mais precoce sendo disciplinado por uma ideologia ultrapassada de um outro momento de nossa história, onde se retirou a palmatória, mas o poder de repreender continua o mesmo.
4. Conclusão
A violência escolar existente no âmbito escolar denominada de bullying é tão antiga que chega a tornar em alguns casos como situações normais por parte dos observadores que sem sentirem nenhum impacto às vezes nada o fazem para reverter essa situação embaraçadora deixando toda responsabilidade para a escola que é vista como um local de "cura de todos os males" da sociedade na missão de mudar a violência, que é oriunda da própria família e "termina" (ou recomeça um novo ciclo) no interior escolar.
O termo bullying traz a tona situações vivenciadas por muitos professores em sala de aula ou em outras dependências da escola ocasionando medo ansiedade ou mudando o comportamento de alunos meramente calmos em pessoas agressivas, perversas e que satisfazem o seu ego pelo simples prazer de machucar ou ferir o outro.
Percebe-se que o prazer em praticar a violência é mais forte e dominadora que chega a deixar as amizades de lado para manter em torno de si pessoas submissas e obrigada a fazer o que o agressor quer sem se importar com o outro ou com o lugar onde está é praticada colocando em risco a sua própria situação na escola, ocasionando maus tratos aos companheiros uma vez que esta não quer ou não sabem como reagir.
Tratou-se neste arquivo um outro fator que motiva a indisciplina, por isso não se prendeu a descrição do bullying em si e suas variações, mas a escola como indiferente aos alunos que se sentem forçadamente calados e impotentes numa estrutura para poucos.
E esta violência é gerada pela própria escola através de suas normas disciplinadoras que dominam todo o movimento do aluno gerando desconforto e até rebeldia contra colegas de sala, professores e a escola (corpo docente).
Deve-se levar em conta num ambiente escolar a liberdade de expressão da criança que não é ouvida e se sente excluída e tende a encontrar outras maneiras de "chamar a atenção". É entender como a criança se sente em relação aos colegas de turma, a escola e, principalmente, ao professor.
A falta de uma política pedagógica heterogênea nas escolas é o fator determinante que contribui para a violência que classifica todos como um único ser e aplicáveis de conduta ética universal e a escola acaba refletindo a sua superioridade indiscutível.
Portanto o poder disciplinar deve possuir políticas mais harmônicas com o quadro sócio-familiar das crianças, a escola transpassando "os muros" e trazendo para si a realidade de seus alunos que desta forma irão construir ações pedagógicas preventivas que será constituída pelos pais, alunos e educadores.
REFERÊNCIAS
AQUINO, Júlio Groppa. A violência escolar e a crise da autoridade docente. Cadernos Cedes, ano XIX, n. 47, p. 7-19, dez. 1998.
BELLONI, Maria Luiza. Infância, máquinas e violência. Educ. Soc. Campinas, vol. 25, n. 87, p. 575-598, maio/ago. 2004.
LOPES NETO, Aramis A. Bullying – comportamento agressivo entre estudantes. Jornal da Pediatria, Rio de Janeiro, 2005. Supl. S164-S172.
MORITA, Sonia Maria Lara. Mau rendimento escolar – um enfoque do serviço social. Serviço Social & Sociedade, São Paulo, ano XII, n. 37, dez. 1991.
PASSOS, Laurizete Ferragut. A Indisciplina e o cotidiano escolar: novas abordagens, novos significados. [s.l.;s.n.].
PILETTI, Nelson. Psicologia Educacional. São Paulo: Atlas, 1997.
PRATA, Maria Regina dos Santos. A produção da subjetividade e as relações de poder na escola: uma reflexão sobre a sociedade disciplinar na configuração social da atualidade. Revista Brasileira de Educação, n. 28, jan./fev./mar./abr. 2005. 

1 Embasado no artigo de Sonia Maria Lara Morita. Mau rendimento escolar – um enfoque do serviço social.
2 Embasado na pesquisa do artigo de Aramis A. Lopes Neto. Bullying – comportamento agressivo entre estudantes.
3 Discussão na concepção de Foucault do livro Indisciplina na escola: alternativas teóricas e práticas, Julio Groppa Aquino (Org.).
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Artigo apresentado ao curso de Pós-graduação em Educação no ano de 2009 na Universidade Federal do Maranhão - UFMA. 
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Administradores.Com. 18.09.2012. 

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