segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Praia das Virtudes

João Baptista Herkenhoff
 
Se Pedro Caetano teve razão quando celebrou Guarapari como “um recanto que os poetas não conseguem descrever nas mais lindas canções”, um recanto onde “a lua serena vem brindar os namorados na areia morena”, isso fica ainda mais evidente quando contemplamos a beleza singular da Praia das Virtudes.
Conta-se que, em tempos pretéritos, como essa praia ficasse numa localização discreta, era a preferida de freiras que vinham veranear no balneário. O povo ligou a condição de ser freira à condição de pessoa virtuosa e, então, a praia foi batizada com o nome que conserva até hoje: Praia das Virtudes.
Comecemos pela água. Como é possível uma água tão cristalina! Há algum tempo, quando eu dava um mergulho, a aliança caiu do meu dedo. Fiquei nervoso. Afinal, a aliança já fez bodas de ouro. No dia seguinte, bem cedo, minha mulher sugeriu que eu fosse à praia para ver se, por acaso, a aliança estava dentro da água. Atendi. Fui ao mesmo local onde a aliança tinha tombado e mergulhei. Nem precisei procurar, tão transparente é a água. Lá estava a aliança, quietinha, esperando que eu a colhesse.
Além da beleza física, a Praia das Virtudes é dotada de beleza espiritual. Uma grande fraternidade une os moradores. Quando faleceu Andreia, filha do casal José Azeredo Filho e Dona Maria José, todos choramos.
A Praia das Virtudes conta com a presença de frequentadores de diversos municípios do Estado e de todas as regiões do país. Daqui onde me encontro a escrever este texto, consigo divisar: Renato Conde e Elisabeth, de Guarapari (são residentes); senhora Deuzeny da Silva Lopes, de Cachoeiro; Paulo Roberto Vaz de Menezes e Maria José, também de Cachoeiro; Devacir Mário Zaché e Tânia, de Colatina; Luís Carlos Nemer, de Castelo; Lineu Gama, Soeli e Taísa, de Alegre. De Vitória identifico muita gente: Andreia Lopes e Sérgio Egito; Marcos Abaurre e Élvia; Gilberto Abaurre e Iná; Ângela Celestino e o Coronel Bilonga; Getúlio Azevedo, Denise, Ana Luísa e Márcia; Moacir e Maura; Carlos de França e Margareth; Getúlio Camporez e Eliane; Jovair Voelzke e Vera Lúcia; Neliomar José Pezzin; Maria da Penha Dantas Demoner; Orli, Aristides, Arlindo Sasso. Há pessoas de outros Estados: Francisco Nogueira Fontenelle e Vera Maria (Belo Horizonte); Ney Fernandes Lopes e Marlene (Pelotas).
Figura lendária da Praia das Virtudes é o senhor Tatão, que faleceu com quase 100 anos, testemunhando uma das características de Guarapari que são as pessoas centenárias.
A Praia das Virtudes perderia muito de sua magia sem a presença de Dona Ana, vendedora de picolé, Alemão, vendedor de água de coco, e sem o quiosque do Juca.
Deixei para registrar, como fecho desta página, o traço mais surpreendente da Praia das Virtudes. Temos um músico, que é também médico: José Anselmo Lofêgo. Ele toca bandolim, violão e cavaquinho. Seu repertório são os clássicos da música popular brasileira.
O Lofêgo toca para todo mundo ouvir. O público bate palmas. É um show gratuito de alguém que sabe que a arte é um bem de todos, passaporte para a construção de um mundo novo.
 
João Baptista Herkenhoff é professor pesquisador da Faculdade Estácio de Sá de Vila Velha (ES), conferencista e escritor. Autor de Dilemas de um juiz – a aventura obrigatória (Editora GZ, Rio de Janeiro). E- mail: jbherkenhoff@uol.com.br Homepage: www.jbherkenhoff@uol.com.br

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