sexta-feira, 16 de março de 2012

Criminologia: Nova área, novos profissionais

Criminologia: Nova área, novos profissionais
Criminologia continua a ser uma das áreas com maior procura no acesso ao ensino superior
Foto: Ian Britton/Flickr


Criminologia: Nova área, novos profissionais

Chamam-lhe "o curso da moda" ou o "curso CSI", mas Criminologia foi o curso mais procurado em 2010 no ensino superior público. Após saída dos primeiros licenciados para o mercado de trabalho, o JPN foi saber que futuro têm os jovens criminólogos. 

As saídas profissionais dos licenciados em Criminologia prendem-se com as forças policiais e autoridades, mas não só [PDF]. Os criminólogos poderão prestar serviços na Polícia Judiciária (PJ), Polícia de Segurança Pública (PSP), Guarda Nacional Republicana (GNR), Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), Polícia Marítima ou outras forças de segurança, mas também podem fazer consultadoria.
"A criminolgia como serviço de consultadoria é bastante utilizado nos EUA. Os advogados podem recorrer a criminologistas para os ajudarem nos casos", explica o diretor da licenciatura no Instituto Superior da Maia (ISMAI). Simas Santos revela que a Criminologia também pode intervir no urbanismo, nomeadamente em casos de bairros sociais ou grandes bairros existentes nas cidades.
Simas Santos diz que criminologia "é uma área nova, com muita procura e muito interesse", daí a necessidade que o ISMAI sentiu em abrir a licenciatura. O docente lembra que quando começou a estudar não havia Psicologia, já que esta área do saber era dada na Filosofia. "A própria existência do curso é que tornou possíveis saídas profissionais", defende. O curso de Criminologia trata de "compreender o crime, intervir nos fatores, agentes e vítimas do crime", afirma.
Pinto da Costa, especialista na área e docente universitário, defende que o mercado português tem necessidade de criminologistas. Pinto da Costa lembra a instabilidade emocional que advém das dificuldades financeiras que irão, tendencialmente, aumentar o crime.
Ainda assim, a capacidade de absorção do mercado de trabalho "vai depender dos serviços estaduais ou, então, da iniciativa privada, como acontece lá fora, a nível de instituições de detetives privados, não previstos na nossa legislação atual", ressalva. Quanto aos planos de estudo do curso de Criminologia, o médico apenas fala daquele que leciona, os quais considera "bem estruturados".
A Sociedade Portuguesa de Criminologia foi constituída no dia 24 de março de 2005 e está sedeada na Escola de Criminologia da Faculdade de Direito da Universidade do Porto (FDUP) e está em processo de criação a Associação de Criminologistas Portugueses. A licenciatura em Criminolgia da FDUP conta com cadeiras como Direito Penal, Vitimologia, Delinquência Juvenil e Justiça de Menores, entre outras áreas do saber ligadas às ciências do crime. Em 2010 a FDUP abriu 50 vagas, mas para essas candidataram-se 302 jovens saídos do ensino secundário. É na UP que a maioria dos jovens procura licenciar-se nesta área, apesar da média de entrada ser alta.

Ser criminólogo estagiário

Núcleo de Investigação e de Apoio a Vitimas Específicas (NIAVE) é um projeto desenvolvido pela GNR. O NIAVE do Porto atua principalmente em casos de vítimas de violência doméstica e este ano recebeu duas estagiárias de Criminologia.
Sara Mendanha é uma delas. "Queria entrar na Academia Militar, mas não consegui, então decidi ingressar em Criminologia", conta. A jovem diz que se fascina com a vida militar e policial e que sempre se interessou pela área do crime. "Todos os dias há crimes novos, coisas diferentes para fazer, não fico sentada atrás de uma secretária", explica Sara Mendanha.
A criminóloga diz que no estágio já aprendeu muito de leis, já fez várias saídas para o exterior para ouvir testemunhas e arguidos e balanços estatísticos. Queixa-se de falta de meios e diz que "não tem nada a ver com o que se vê nas séries de televisão, muitas vezes as pessoas têm que se desdobrar porque não há meios". "É preciso investir no curso e na área, há muita falta de verbas e de apoio monetários", refere.
Sara Bessa licenciou-se na Universidade Fernando Pessoa (UFP), tal como a colega estagiária. A jovem explica ao JPN que quem está a estagiar na GNR está mais direccionado para um âmbito específico, enquanto que quem escolheu a PSP se encontra distribuído pelos vários tipos de crime. "Há pouca ajuda e pouca resposta para este tipo de crime", diz a estagiária do NIAVE. Sara Bessa acredita que, neste momento, os recém-licenciados em Criminologia não vão ter um bom futuro no nosso país, porque "não é dada credibilidade a quem tira este curso".
O estigma das séries criminais existe, segundo Sara. "Ainda há muito essa ideia, mas não tem nada a ver. As séries como o CSI são mais ligadas às ciências forenses, mas nós estudamos o fenómeno criminal em si", esclarece.

Por Luís Mendes - jpn@icicom.up.pt 
Publicado: 15.03.2012 | 20:01 (GMT) 

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