O polêmico documentário Tiros em Columbine (2002), do cineasta Michael Moore, e o bem-sucedido filme Senhor das Armas (2005), dirigido por Andrew Niccol, procuraram retratar o quanto as empresas privadas nos EUA lucram com as guerras. E a questão permanece.
Recentemente, os jornais noticiaram um ataque com foguete contra a Zona Verde de Bagdá (Iraque), no qual dois ugandenses e um peruano, que trabalhavam para uma empresa privada contratada para fazer a segurança de instalações americanas no Iraque, foram mortos. Para o professor de Relações Internacionais da PUC/SP, Reginaldo Nasser: “... a presença desses agentes de segurança não é um fenômeno novo, mas o que é novo é a dimensão desses fornecedores internacionais de segurança privada, cujo tamanho e especialização são equivalentes, e por vezes superiores, às forças armadas de vários Estados”.
Também recentemente foram descobertos relatórios sobre a guerra do Afeganistão, que revelam mortes de civis e desrespeito a direitos humanos.
É lugar-comum dizer que são as empresas privadas que mais lucram com as guerras encabeçadas pelos EUA. No entanto, é uma verdade que se refaz. Todos os anos, os EUA investem milhões em empresas privadas de segurança como Northrop Grumman e Boeing. O Congresso americano, por sua vez, continua aumentando o substantivo do número de empresas de segurança privada no país, o número de helicópteros Black Hawk, veículos à prova de minas, sistemas de vigilância de alta tecnologia e outros equipamentos militares.
Relata o Professor Nasser que “No dia 22 de Julho o Washington Post divulgou produto de uma investigação de dois anos, realizada pelos jornalistas Dana Priest e William Arkin, mostrando em detalhes como as empresas privadas atuam em todos os setores que cuidam da segurança nacional dos serviços de inteligência dos EUA (cerca 70% do orçamento)”.
Estima-se que o mercado das empresas privadas que cuidam da segurança pública geram receita anual global de mais de 100 bilhões de dólares e são frequentemente utilizadas pelos mais diferentes atores em conflitos: grandes potências, ditadores em países da periferia, paramilitares, cartéis de drogas e até mesmo as missões de paz. Tais empresas privadas muitas vezes não possuem o compromisso de respeitar as leis ou acordos internacionais, ensejando inúmeras dificuldades. Como serão responsabilizadas? Os relatórios das ações que promovem não deveriam ser públicos? Qual seria o limite dos investimentos ou ações para financiar essas empresas?
Outro ponto ressaltado por Nasser foi sobre as “pequenas guerras” (small wars), as quais não necessariamente precisam de uma declaração de guerra por parte dos EUA. “Nesse sentido, especialistas militares e funcionários do governo passaram a valorizar cada vez mais as experiências históricas em que os EUA exercitaram um tipo de operação militar freqüentemente ignorada pela maioria dos lideres políticos que preferem “glamourisar” as grandes guerras (1ª e 2ª guerras mundiais). (...) A grande maioria dessas pequenas guerras foi empreendida pelas mais diferentes razões (morais, estratégicas ou econômicas) – e não foi necessário ter um significativo apoio popular. Na verdade a opinião pública, freqüentemente, simplesmente nunca soube o que estava acontecendo a respeito, e as tropas fizeram seu trabalho mesmo quando havia oposição”.
O tema, assim, enseja uma maior reflexão da comunidade internacional.
Fonte: Porta de Notícias Carta Maior; OESP.
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