Por Paulo Chico - paulochico@folhadirigida.com.br
Final de ano é um período de balanço, reflexões. Início é tempo de projetos, proposições. Sempre é assim e, apesar do impulso inicial por mudanças, quase nada é revertido em conquistas. Da viagem planejada à dieta prometida, pouca coisa sai do papel. É comum restarem quilos de sonhos não realizados a pesar sobre a balança. O que dizer, então, dos planos em relação à própria carreira? É para fazer deste encerramento de 2012 e saudação a 2013 mais que uma simples carta de intenções que a FOLHA DIRIGIDA apresenta nesta reportagem aquilo que atua sobre os humanos com força quase bíblica. Falamos de exemplo. Poucos resistem a ele. Menos pelo aspecto motivacional que dele pode florescer, e mais por ele trazer, em seu próprio cerne, um caminho que, trilhado, traduziu-se em sucesso. Isso vale para todos os aspectos da vida. Na área dos concursos, não haveria motivo algum para ser diferente...
A história de nosso personagem começa em 21 de julho de 1987. Dia de seu nascimento, em Teresina, capital do Piauí. Filho único de pais servidores públicos, Pedro Felipe de Oliveira Santos teve sua origem numa típica família de classe média. Não, quando criança, o garoto não passou necessidades. Sua história não é de superação da fome, como a de tantos outros brasileiros que, partindo da base da pirâmide social, galgaram postos de destaque. Nem por isso, sua curta experiência de vida deixa de ser relevante. E de ostentar a marca da determinação. Aos 25 anos, morando em Brasília e atualmente defensor público da União, ele foi recentemente aprovado no concurso para juiz do Tribunal Regional Federal da 1ª Região. Em primeiro lugar. Com significativa vantagem de pontuação em relação ao segundo colocado - 7.860 contra 7.575. Assim, Pedro Felipe habilitou-se para tornar-se o mais jovem juiz federal do Brasil. Feito que será efetivado em breve.
O resultado final do concurso saiu neste dezembro, e a posse dos classificados está prevista para fevereiro. “A aprovação em primeiro lugar foi uma grande surpresa. Mesmo após três semanas da divulgação do resultado, ainda não internalizei completamente essa ideia! Por outro lado, entendo se tratar de uma circunstância relativamente fortuita, na medida em que percebo que todos os aprovados nesta seleção encontram-se igualmente preparados. No contato com os colegas, tenho a percepção de que todos estamos no mesmo nível”, contou Pedro à FOLHA DIRIGIDA.
O excelentíssimo rapaz começa por contar como foi sua estratégia de preparação. Missão que teve início já há alguns anos. “Não me recordo de quantos concursos participei ao todo. E parte justamente dessa constatação a melhor contribuição que posso oferecer aos concurseiros: não há momento ideal para começar a se inscrever. Percebo que muitos colegas sempre falam: ‘Pretendo fazer concursos. Inicialmente, estudarei todos os editais por um prazo de tantos meses. Posteriormente, quando me sentir preparado, começarei a fazer as provas’. Por óbvio, cada pessoa encontrará o seu método ideal. Entretanto, se questionado o motivo pelo qual logrei tantas aprovações em um curto espaço de tempo, eu não titubearia: desde cedo, comecei a fazer muitas provas. Inscrever-se em concursos públicos e resolver, desde logo, as questões, é um excelente termômetro para detectar, concretamente, quais os pontos a melhorar e as disciplinas que demandam mais tempo de estudo. Além disso, perde-se paulatinamente o ‘medo’ de fazer provas, o que deixará o candidato mais tranquilo no tão esperado dia do teste”.
Em Brasília, a irresistível atração pelos concursos
Ainda durante a graduação em Direito na Universidade de Brasília (UnB), feita entre 2004 e 2009, e após uma experiência de mais de dois anos em um escritório de advocacia, este piauiense decidiu investir em concursos. “No Distrito Federal é raro não se contaminar pela atmosfera do serviço público”, diz. E seu currículo neste campo é extenso. Já foi aprovado nas seleções para técnico do Ministério Público da União, do Tribunal Superior Eleitoral e do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, para procurador do Estado de Alagoas, defensor público do Estado de Alagoas e procurador federal. Além desses, conquistou o primeiro lugar para defensor público do Estado do Piauí e para defensor público da União. Nada mau, não? Do alto de sua experiência, ele aborda um vilão que costuma derrubar muitos concurseiros, inclusive os tecnicamente bem preparados: o aspecto emocional.
“O candidato jamais se sentirá integralmente preparado. O conteúdo é vasto. Estuda-se Constitucional, esquecem-se alguns detalhes de Administrativo; volta-se para Administrativo, esquecem-se outros temas essenciais de Direito Penal, e assim por diante. Nunca me senti 100% em nenhuma prova. Não tenho dúvidas de que isso seria humanamente impossível. No meu caso, embora aprovado em primeiro lugar, fico tenso ao me recordar de uma série de conteúdos que ainda considero não ter aprendido a contento, e que certamente serão objeto de profunda revisão até a posse... Reitero: a meta do concurseiro não é gabaritar a prova, mas simplesmente alcançar um conhecimento geral das disciplinas e obter uma boa soma de pontos, que garanta a aprovação. Não devemos ter medo de ‘dar a cara a tapa’. É preciso perder o receio da reprovação, de ser zoado pelos colegas, de decepcionar os familiares ou a si”.
Enfrentar as provas suando frio com o exíguo tempo cronometrado e sendo perturbado pelo fiscal chato. Eis um passo fundamental para chegar à aprovação. A frustração é pedra inevitável no caminho dos vitoriosos. “Não há milagres, nem segredos. Não tenho constrangimento em declarar que, para alcançar suadas aprovações, vivenciei tristes reprovações. Hoje, deito o olhar sobre a minha trajetória de concursos, que ora finda, e não tenho dúvidas do quanto as derrotas me ajudaram a crescer. E não apenas por terem tornado mais saborosa a vitória, mas decerto porque me auxiliaram a obter diagnósticos precisos dos rumos que eu deveria dar aos meus estudos. Do ponto de vista emocional, cada reprovação demanda uma virada de página e a obtenção de forças para seguir adiante - desistir, nunca! É preciso aprender a analisar fria e objetivamente cada derrota, detectando os erros, os conteúdos que demandam mais atenção e as necessárias mudanças de enfoque”, ensina, dando mais detalhes de sua rotina de concurseiro.
“Minha metodologia para a prova objetiva, modelo cobrado em todos os concursos, sempre privilegiou a prática de exercícios e a análise de provas de certames anteriores, combinadas com estudos pontuais de doutrina e de jurisprudência. Somente a prática exaustiva de exercícios consolida em nossa mente o conhecimento obtido nas leituras. Diariamente, destinava pelo menos metade do meu tempo de estudos para responder às questões. Posteriormente, conferia as respostas e analisava, item por item, os meus erros e acertos, elencando pontos de conteúdo que exigiam maior aprofundamento”.
O concurso para juiz tem peculiaridades. Desafios particulares. “Para a fase subjetiva, com questões de análise e sentenças, realizei um estudo específico da banca examinadora, detectando posicionamentos e temas de maior predileção. Para a prova oral, aprofundei a revisão dos temas do edital e realizei várias simulações com outros colegas candidatos. Essa última etapa é bastante especial, pois o nosso estudo, tradicionalmente, baseia-se em leituras, e não em exposições orais. Nesse sentido, não estamos habituados a nos submeter a arguições orais, o que torna essa fase mais difícil e temerosa.”
Vitória numa disputa acirrada, movida por um ideal
Além do Distrito Federal, o TRF da 1ª Região abrange os estados do Acre, Amapá, Amazonas, Bahia, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Minas Gerais, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins e Piauí. O concurso em que Pedro conquistou o primeiro lugar teve seu edital divulgado em 2011, com oferta de 29 vagas, obtendo 8.374 inscrições. Certamente, atraídos pelo status do cargo, pela estabilidade e pelos vencimentos, que beiram os R$22 mil. Mas, ao menos no caso do calouro entre os juízes federais do país, há outro fator determinante para que tenha perseguido tal aprovação.
“Assumir uma função pública, de menor ou maior graduação, é colocar-se no papel de servidor da sociedade. Lidar com a ‘coisa pública’ consiste em responsabilidade não apenas legal, mas também moral. Desde que iniciei o curso de Direito, já tinha como sonho assumir uma função de carreira de Estado, atividade para a qual me sentia vocacionado, por perceber que esse seria o modo pelo qual melhor poderia contribuir para a permanente construção democrática de nosso país. Secundariamente, é claro, contaram as vantagens de praxe do serviço público, como a estrutura das carreiras, o sistema de previdência social, a estabilidade e a independência funcional”.
Não foram poucas as vezes em que o repórter ouviu, durante a produção desta matéria, que o exercício pleno da função de juiz exigiria vivência e bagagem que, naturalmente, não se fazem presentes em quem tem apenas 25 anos vividos. Essa questão também é encarada por Pedro. “Não tenho dúvidas de que a idade é um fator de extrema relevância para aferir a experiência do profissional. No entanto, a maturidade também pode ser verificada por outros aspectos. Tem sido cada vez mais comum a aprovação de jovens candidatos para as funções de Estado, inclusive para a magistratura federal. Parte considerável dos meus futuros colegas encontra-se em uma faixa etária abaixo dos 30 anos. Trata-se de um desafio adicional alcançar tamanha responsabilidade ainda jovem. Por outro lado, idade e maturidade não são necessariamente coincidentes. Chegamos à magistratura trazendo, humildemente, as nossas experiências de mundo (profissionais e pessoais), além de muita disposição para a realização de um trabalho sério e transformador. Creio que não terei restrições dos futuros colegas de trabalho. Certamente, a avaliação a ser realizada sobre mim recairá sobre o meu trabalho, sobre a minha conduta e sobre a minha postura, e não unicamente sobre a minha idade.”
Pedro Felipe diz que o Poder Judiciário no Brasil vive um momento de profunda revisão de suas bases. Métodos de conciliação e de transação, arbitragem, justiça restaurativa e racionalização de recursos são temas em debate. Por outro lado, o alcance de processos políticos na agenda do Judiciário demanda sensibilidade e maior cautela do magistrado no trato com as questões que são levadas ao seu conhecimento. “Como juiz, anseio participar desse momento ímpar de reflexão e de construção dos novos rumos da Justiça brasileira, contribuindo concretamente, nos limites dos meus deveres constitucionais, para a consolidação da democracia e do regime republicano ético em nosso país”.
Exemplo de transformação pela ação da educação
O jovem faz questão de esclarecer um detalhe de sua vida acadêmica. Não é um superdotado. Portanto, seu desempenho acima da média é mesmo fruto de esforço. “Sempre procurei ser muito disciplinado nos estudos. Desde a época do colégio, já era alcunhado de ‘cdf’ ou ‘cabeção’. No entanto, sempre foram brincadeiras sadias. Nunca houve situação constrangedora ou traumatizante. Não sofri bullying. E não estava sozinho. Sempre convivi com excelentes colegas. Na verdade, éramos todos muito estudiosos. Estávamos no mesmo nível acadêmico. Não tenho dúvidas de que a convivência com alunos de excelência foi muito estimulante para mim. Guardo boas recordações desses períodos e fico extremamente feliz ao ver todos os meus amigos de infância obtendo considerável êxito profissional, em suas respectivas áreas”, festeja.
O juiz de 25 anos é mais um prova do poder de transformação pela educação. “Ao mesmo tempo em que acredito que cada jovem tem o direito de decidir livremente os rumos de sua trajetória, assumindo os riscos inerentes às próprias escolhas, percebo como essencial que todos tenham acesso igualitário às oportunidades de educação, de cultura e de lazer. Infelizmente, trata-se de uma projeção ainda utópica. Não tenho dúvidas de que o acesso a um ensino de boa qualidade, durante os anos de educação básica, consistiu em elemento necessário para o alcance das minhas vitórias posteriores.”
Por um grande esforço dos seus pais, Pedro teve a oportunidade de estudar no Instituto Dom Barreto, em Teresina. “Trata-se de uma das melhores escolas do país, conforme atesta anualmente o ranking das instituições com maiores notas no Enem. Nos 15 anos em que lá estive, recebi uma formação interdisciplinar fantástica. Além das disciplinas curriculares comuns, tive aulas de Xadrez, Latim, Empreendedorismo, Filosofia e Sociologia. Mais do que ensinamentos curriculares, o grande trunfo da instituição é o estímulo permanente à leitura e à formação de cidadãos pensantes e autônomos. Recordo-me que, ainda nos primeiros anos do ensino fundamental, lemos quase toda a coleção de livros infantis de Monteiro Lobato. O currículo da UnB também tem enfoques interdisciplinar e filosófico muito fortes. Esses aspectos foram fundamentais para a formação de minhas bases profissional e pessoal, inclusive sob um viés humanista.”
A pedido da FOLHA DIRIGIDA, Pedro dá mais algumas dicas àqueles que, neste 2013, têm como meta o ingresso no serviço público. “Recorro ao velho ditado do senso comum: ‘não há vitória sem luta’. O método dos aprovados é a dedicação, a disciplina, a renúncia, a perseverança e o treino exaustivo. É preciso abandonar a zona de conforto, ousar e assumir riscos. Por outro lado, deixo uma advertência: há vida fora dos estudos. Para suportar bem os anos contínuos de preparação para as provas, é fundamental manter uma boa higiene mental. Preservar programas de lazer lights, leituras paralelas extrajurídicas, atividades físicas regulares, viagens curtas entre um edital e outro... Mas, sem perder o foco nos livros. É temerária a situação do concurseiro que se aliena em relação ao que acontece fora da sua baia de estudos”, aconselha ele, que conclui.
“Em termos de concursos, o nosso pior inimigo somos nós mesmos e os nossos medos bobos. Desde cedo, devemos internalizar: não há sonhos, e sim metas. Para o espírito crítico, livre e empreendedor, não há distâncias inalcançáveis, desafios intransponíveis ou metas insuperáveis. Das inquietações, façamos surgir os sonhos; dos sonhos, os planos; dos planos, as concretizações. Qualquer aprovação, ainda que pareça distante, é perfeitamente alcançável. Afinal, se vários estudantes conseguiram, por que também não poderemos lograr êxito? Trata-se de uma questão de tempo. E este é o nosso tempo!”, sentencia o jovem, com a autoridade de quem, até aqui, soube fazer-se senhor da própria história. E segue juiz de seu destino.
A história de nosso personagem começa em 21 de julho de 1987. Dia de seu nascimento, em Teresina, capital do Piauí. Filho único de pais servidores públicos, Pedro Felipe de Oliveira Santos teve sua origem numa típica família de classe média. Não, quando criança, o garoto não passou necessidades. Sua história não é de superação da fome, como a de tantos outros brasileiros que, partindo da base da pirâmide social, galgaram postos de destaque. Nem por isso, sua curta experiência de vida deixa de ser relevante. E de ostentar a marca da determinação. Aos 25 anos, morando em Brasília e atualmente defensor público da União, ele foi recentemente aprovado no concurso para juiz do Tribunal Regional Federal da 1ª Região. Em primeiro lugar. Com significativa vantagem de pontuação em relação ao segundo colocado - 7.860 contra 7.575. Assim, Pedro Felipe habilitou-se para tornar-se o mais jovem juiz federal do Brasil. Feito que será efetivado em breve.
O resultado final do concurso saiu neste dezembro, e a posse dos classificados está prevista para fevereiro. “A aprovação em primeiro lugar foi uma grande surpresa. Mesmo após três semanas da divulgação do resultado, ainda não internalizei completamente essa ideia! Por outro lado, entendo se tratar de uma circunstância relativamente fortuita, na medida em que percebo que todos os aprovados nesta seleção encontram-se igualmente preparados. No contato com os colegas, tenho a percepção de que todos estamos no mesmo nível”, contou Pedro à FOLHA DIRIGIDA.
O excelentíssimo rapaz começa por contar como foi sua estratégia de preparação. Missão que teve início já há alguns anos. “Não me recordo de quantos concursos participei ao todo. E parte justamente dessa constatação a melhor contribuição que posso oferecer aos concurseiros: não há momento ideal para começar a se inscrever. Percebo que muitos colegas sempre falam: ‘Pretendo fazer concursos. Inicialmente, estudarei todos os editais por um prazo de tantos meses. Posteriormente, quando me sentir preparado, começarei a fazer as provas’. Por óbvio, cada pessoa encontrará o seu método ideal. Entretanto, se questionado o motivo pelo qual logrei tantas aprovações em um curto espaço de tempo, eu não titubearia: desde cedo, comecei a fazer muitas provas. Inscrever-se em concursos públicos e resolver, desde logo, as questões, é um excelente termômetro para detectar, concretamente, quais os pontos a melhorar e as disciplinas que demandam mais tempo de estudo. Além disso, perde-se paulatinamente o ‘medo’ de fazer provas, o que deixará o candidato mais tranquilo no tão esperado dia do teste”.
Em Brasília, a irresistível atração pelos concursos
Ainda durante a graduação em Direito na Universidade de Brasília (UnB), feita entre 2004 e 2009, e após uma experiência de mais de dois anos em um escritório de advocacia, este piauiense decidiu investir em concursos. “No Distrito Federal é raro não se contaminar pela atmosfera do serviço público”, diz. E seu currículo neste campo é extenso. Já foi aprovado nas seleções para técnico do Ministério Público da União, do Tribunal Superior Eleitoral e do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, para procurador do Estado de Alagoas, defensor público do Estado de Alagoas e procurador federal. Além desses, conquistou o primeiro lugar para defensor público do Estado do Piauí e para defensor público da União. Nada mau, não? Do alto de sua experiência, ele aborda um vilão que costuma derrubar muitos concurseiros, inclusive os tecnicamente bem preparados: o aspecto emocional.
“O candidato jamais se sentirá integralmente preparado. O conteúdo é vasto. Estuda-se Constitucional, esquecem-se alguns detalhes de Administrativo; volta-se para Administrativo, esquecem-se outros temas essenciais de Direito Penal, e assim por diante. Nunca me senti 100% em nenhuma prova. Não tenho dúvidas de que isso seria humanamente impossível. No meu caso, embora aprovado em primeiro lugar, fico tenso ao me recordar de uma série de conteúdos que ainda considero não ter aprendido a contento, e que certamente serão objeto de profunda revisão até a posse... Reitero: a meta do concurseiro não é gabaritar a prova, mas simplesmente alcançar um conhecimento geral das disciplinas e obter uma boa soma de pontos, que garanta a aprovação. Não devemos ter medo de ‘dar a cara a tapa’. É preciso perder o receio da reprovação, de ser zoado pelos colegas, de decepcionar os familiares ou a si”.
Enfrentar as provas suando frio com o exíguo tempo cronometrado e sendo perturbado pelo fiscal chato. Eis um passo fundamental para chegar à aprovação. A frustração é pedra inevitável no caminho dos vitoriosos. “Não há milagres, nem segredos. Não tenho constrangimento em declarar que, para alcançar suadas aprovações, vivenciei tristes reprovações. Hoje, deito o olhar sobre a minha trajetória de concursos, que ora finda, e não tenho dúvidas do quanto as derrotas me ajudaram a crescer. E não apenas por terem tornado mais saborosa a vitória, mas decerto porque me auxiliaram a obter diagnósticos precisos dos rumos que eu deveria dar aos meus estudos. Do ponto de vista emocional, cada reprovação demanda uma virada de página e a obtenção de forças para seguir adiante - desistir, nunca! É preciso aprender a analisar fria e objetivamente cada derrota, detectando os erros, os conteúdos que demandam mais atenção e as necessárias mudanças de enfoque”, ensina, dando mais detalhes de sua rotina de concurseiro.
“Minha metodologia para a prova objetiva, modelo cobrado em todos os concursos, sempre privilegiou a prática de exercícios e a análise de provas de certames anteriores, combinadas com estudos pontuais de doutrina e de jurisprudência. Somente a prática exaustiva de exercícios consolida em nossa mente o conhecimento obtido nas leituras. Diariamente, destinava pelo menos metade do meu tempo de estudos para responder às questões. Posteriormente, conferia as respostas e analisava, item por item, os meus erros e acertos, elencando pontos de conteúdo que exigiam maior aprofundamento”.
O concurso para juiz tem peculiaridades. Desafios particulares. “Para a fase subjetiva, com questões de análise e sentenças, realizei um estudo específico da banca examinadora, detectando posicionamentos e temas de maior predileção. Para a prova oral, aprofundei a revisão dos temas do edital e realizei várias simulações com outros colegas candidatos. Essa última etapa é bastante especial, pois o nosso estudo, tradicionalmente, baseia-se em leituras, e não em exposições orais. Nesse sentido, não estamos habituados a nos submeter a arguições orais, o que torna essa fase mais difícil e temerosa.”
Vitória numa disputa acirrada, movida por um ideal
Além do Distrito Federal, o TRF da 1ª Região abrange os estados do Acre, Amapá, Amazonas, Bahia, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Minas Gerais, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins e Piauí. O concurso em que Pedro conquistou o primeiro lugar teve seu edital divulgado em 2011, com oferta de 29 vagas, obtendo 8.374 inscrições. Certamente, atraídos pelo status do cargo, pela estabilidade e pelos vencimentos, que beiram os R$22 mil. Mas, ao menos no caso do calouro entre os juízes federais do país, há outro fator determinante para que tenha perseguido tal aprovação.
“Assumir uma função pública, de menor ou maior graduação, é colocar-se no papel de servidor da sociedade. Lidar com a ‘coisa pública’ consiste em responsabilidade não apenas legal, mas também moral. Desde que iniciei o curso de Direito, já tinha como sonho assumir uma função de carreira de Estado, atividade para a qual me sentia vocacionado, por perceber que esse seria o modo pelo qual melhor poderia contribuir para a permanente construção democrática de nosso país. Secundariamente, é claro, contaram as vantagens de praxe do serviço público, como a estrutura das carreiras, o sistema de previdência social, a estabilidade e a independência funcional”.
Não foram poucas as vezes em que o repórter ouviu, durante a produção desta matéria, que o exercício pleno da função de juiz exigiria vivência e bagagem que, naturalmente, não se fazem presentes em quem tem apenas 25 anos vividos. Essa questão também é encarada por Pedro. “Não tenho dúvidas de que a idade é um fator de extrema relevância para aferir a experiência do profissional. No entanto, a maturidade também pode ser verificada por outros aspectos. Tem sido cada vez mais comum a aprovação de jovens candidatos para as funções de Estado, inclusive para a magistratura federal. Parte considerável dos meus futuros colegas encontra-se em uma faixa etária abaixo dos 30 anos. Trata-se de um desafio adicional alcançar tamanha responsabilidade ainda jovem. Por outro lado, idade e maturidade não são necessariamente coincidentes. Chegamos à magistratura trazendo, humildemente, as nossas experiências de mundo (profissionais e pessoais), além de muita disposição para a realização de um trabalho sério e transformador. Creio que não terei restrições dos futuros colegas de trabalho. Certamente, a avaliação a ser realizada sobre mim recairá sobre o meu trabalho, sobre a minha conduta e sobre a minha postura, e não unicamente sobre a minha idade.”
Pedro Felipe diz que o Poder Judiciário no Brasil vive um momento de profunda revisão de suas bases. Métodos de conciliação e de transação, arbitragem, justiça restaurativa e racionalização de recursos são temas em debate. Por outro lado, o alcance de processos políticos na agenda do Judiciário demanda sensibilidade e maior cautela do magistrado no trato com as questões que são levadas ao seu conhecimento. “Como juiz, anseio participar desse momento ímpar de reflexão e de construção dos novos rumos da Justiça brasileira, contribuindo concretamente, nos limites dos meus deveres constitucionais, para a consolidação da democracia e do regime republicano ético em nosso país”.
Exemplo de transformação pela ação da educação
O jovem faz questão de esclarecer um detalhe de sua vida acadêmica. Não é um superdotado. Portanto, seu desempenho acima da média é mesmo fruto de esforço. “Sempre procurei ser muito disciplinado nos estudos. Desde a época do colégio, já era alcunhado de ‘cdf’ ou ‘cabeção’. No entanto, sempre foram brincadeiras sadias. Nunca houve situação constrangedora ou traumatizante. Não sofri bullying. E não estava sozinho. Sempre convivi com excelentes colegas. Na verdade, éramos todos muito estudiosos. Estávamos no mesmo nível acadêmico. Não tenho dúvidas de que a convivência com alunos de excelência foi muito estimulante para mim. Guardo boas recordações desses períodos e fico extremamente feliz ao ver todos os meus amigos de infância obtendo considerável êxito profissional, em suas respectivas áreas”, festeja.
O juiz de 25 anos é mais um prova do poder de transformação pela educação. “Ao mesmo tempo em que acredito que cada jovem tem o direito de decidir livremente os rumos de sua trajetória, assumindo os riscos inerentes às próprias escolhas, percebo como essencial que todos tenham acesso igualitário às oportunidades de educação, de cultura e de lazer. Infelizmente, trata-se de uma projeção ainda utópica. Não tenho dúvidas de que o acesso a um ensino de boa qualidade, durante os anos de educação básica, consistiu em elemento necessário para o alcance das minhas vitórias posteriores.”
Por um grande esforço dos seus pais, Pedro teve a oportunidade de estudar no Instituto Dom Barreto, em Teresina. “Trata-se de uma das melhores escolas do país, conforme atesta anualmente o ranking das instituições com maiores notas no Enem. Nos 15 anos em que lá estive, recebi uma formação interdisciplinar fantástica. Além das disciplinas curriculares comuns, tive aulas de Xadrez, Latim, Empreendedorismo, Filosofia e Sociologia. Mais do que ensinamentos curriculares, o grande trunfo da instituição é o estímulo permanente à leitura e à formação de cidadãos pensantes e autônomos. Recordo-me que, ainda nos primeiros anos do ensino fundamental, lemos quase toda a coleção de livros infantis de Monteiro Lobato. O currículo da UnB também tem enfoques interdisciplinar e filosófico muito fortes. Esses aspectos foram fundamentais para a formação de minhas bases profissional e pessoal, inclusive sob um viés humanista.”
A pedido da FOLHA DIRIGIDA, Pedro dá mais algumas dicas àqueles que, neste 2013, têm como meta o ingresso no serviço público. “Recorro ao velho ditado do senso comum: ‘não há vitória sem luta’. O método dos aprovados é a dedicação, a disciplina, a renúncia, a perseverança e o treino exaustivo. É preciso abandonar a zona de conforto, ousar e assumir riscos. Por outro lado, deixo uma advertência: há vida fora dos estudos. Para suportar bem os anos contínuos de preparação para as provas, é fundamental manter uma boa higiene mental. Preservar programas de lazer lights, leituras paralelas extrajurídicas, atividades físicas regulares, viagens curtas entre um edital e outro... Mas, sem perder o foco nos livros. É temerária a situação do concurseiro que se aliena em relação ao que acontece fora da sua baia de estudos”, aconselha ele, que conclui.
“Em termos de concursos, o nosso pior inimigo somos nós mesmos e os nossos medos bobos. Desde cedo, devemos internalizar: não há sonhos, e sim metas. Para o espírito crítico, livre e empreendedor, não há distâncias inalcançáveis, desafios intransponíveis ou metas insuperáveis. Das inquietações, façamos surgir os sonhos; dos sonhos, os planos; dos planos, as concretizações. Qualquer aprovação, ainda que pareça distante, é perfeitamente alcançável. Afinal, se vários estudantes conseguiram, por que também não poderemos lograr êxito? Trata-se de uma questão de tempo. E este é o nosso tempo!”, sentencia o jovem, com a autoridade de quem, até aqui, soube fazer-se senhor da própria história. E segue juiz de seu destino.
Folha Dirigida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário