sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Argentinos se mobilizam contra exploração sexual e tráfico de pessoas


Motivados por sequestro de jovem, deputados de situação e de oposição tentam tornar lei mais severa.


Argentinos se mobilizam contra exploração sexual e tráfico de pessoas Atilio Orellana/AP Photo
Susana Trimarco ao lado de uma foto de sua filha desaparecida durante o julgamento do suposto sequestro de Marita VeronFoto: Atilio Orellana / AP Photo








Um episódio que comove a Argentina conseguiu unir facções políticas antagônicas e deu à presidente Cristina Kirchner a oportunidade de colocar a opinião pública contra o Judiciário.
O "caso Marita Verón", a trama que une os argentinos, trata do episódio no qual María de los Ángeles Verón, a Marita, foi sequestrada aos 23 anos, em 3 de abril de 2002. As investigações levam a crer que foi levada de Tucumán para La Rioja, onde teria sido obrigada a se prostituir.
A Câmara dos Deputados se reuniu nesta quarta-feira em sessão extraordinária para votar projeto que pune com mais rigor o tráfico de pessoas e a exploração sexual, a "Lei Marita". Também nesta quarta-feira, o Judiciário saiu a público para explicar o porquê de ter inocentado os 13 suspeitos — alegou falhas nas investigações. Cristina, em meio ao embate com os juízes por conta da Lei da Mídia, acusou-os de estar "divorciados" da sociedade.
Todos os meios de comunicação acompanham a "novela" de Marita com grande interesse. Sobressai-se, no caso, a mãe de Marita, Susana Trimarco, que criou uma fundação (a Fundação María de los Ángeles) e se jogou à investigação sobre o caso — em uma estratégia cinematográfica, ela até se fez passar por cafetina para obter informações sobre a filha em prostíbulos. Sua fundação já produziu vídeos contra o tráfico de pessoas, um deles com o músico Fito Paez. Um dos aspectos mais pungentes do caso é o engajamento da filha de Marita, a adolescente Micaela Sol Trimarco, que tinha três anos quando a mãe desapareceu e que hoje vive com Susana em Tucumán. Micaela usa redes sociais para localizar a mãe. Pela conta @JusticiaPorMarita, no Twitter, convoca manifestações. Milhares de pessoas já foram às ruas de Buenos Aires e Tucumán para protestar contra a impunidade nos casos de tráfico de pessoas.
Susana já libertou 150 mulheres escravizadas sexualmente e as apoiou. Os EUA lhe concederam o prêmio Mulheres Valentes. Ela é cotada para o Nobel da Paz. Cristina lhe entregou um prêmio de direitos humanos. Confira sua entrevista para Zero Hora.
"Até que tenha minha filha nos braços, não vou parar", diz Susana Trimarco
Zero Hora — Como a senhora interpreta a absolvição dos suspeitos de sequestrar sua filha?
Susana Trimarco - É mais uma demonstração das injustiças que venho enfrentando desde mais de 10 anos na busca pare recuperar minha filha. Não me surpreendeu, dada a forma pela qual se desenvolveu o processo. Fizeram de tudo para proteger e amparar os acusados. Mas não vão me enfraquecer, não vão me dobrar. Até que tenha minha filha nos braços, não vou parar. É um absurdo dizerem que não têm provas, quando há testemunhas que foram ao tribunal para denunciar os crimes.
ZH — O que a senhora fará?
Susana - Em primeiro lugar, apelaremos assim que soubermos os fundamentos da decisão judicial. Mas também vamos promover um juízo político e estamos analisando um pedido de intervenção na Justiça da província de Tucumán. Além disso, continuarei lutando contra o tráfico de pessoas, até que a vida me diga "basta". Não vou parar até encontrar minha filha. Também vou continuar lutando na rua, nos meios de comunicação e onde quer que seja, pela minha filha e por todas as moças que passem pelo que ela está passando.
ZH — A senhora cuida da neta. Como se dá essa relação?
Susana - Micaela completou 14 anos e já se tornou uma militante contra a exploração sexual. Organiza campanhas, é muito ativa. As pessoas dizem que ela tem personalidade parecida com a minha. Ela me diz que não se lembra de nada sobre a mãe. Sabe o que eu e meu marido e os que a conheceram lhe contamos. Nós sempre lhe contamos a verdade, e ela, à medida que o tempo passa, vai entendendo melhor toda essa situação.
ZH — A senhora acredita que encontrará sua filha?
Susana — Sim, sinto que ela está viva, que um dia vou encontrá-la e abraçá-la bem forte. Peço que quem encontrá-la, seja onde for, avise a Interpol. Vai ser um momento de emoção muito intensa. Minha vida é triste, é voltada para encontrar minha filha. Evito chorar. Certa vez, me disseram que, se os exploradores da minha filha me vissem chorando, ririam de mim. Tenho de ser forte, fortalecer-me a cada dia.
Zero Hora.

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