ete entre cada dez jovens assassinados no Brasil são negros, de acordo com dados apresentados ontem em audiência na Comissão de Direitos Humanos. Violência permeada pelo racismo é apontada até em ações do Estado, como na truculência verificada em abordagens policiais a jovens negros
Metade das vítimas de homicídios no Brasil tem entre 15 e 29 anos, e sete de cada dez jovens assassinados são negros, sendo mais de 90% do sexo masculino. O Mapa da Violência 2012, divulgado pelo Instituto Sangari em parceria com o Ministério da Justiça, revela a desproteção da juventude negra. Para especialistas que ontem participaram de audiência na Comissão de Direitos Humanos (CDH), trata-se de uma tragédia nacional.
Presidente da comissão, Paulo Paim (C) ouve o professor Antônio Flávio Testa opinar que os avanços no combate à mortalidade infantil se perdem na morte de jovens |
— É como se a cada mês caíssem oito aviões lotados de jovens, a maioria negros — comparou Severine Macedo, secretária nacional de Juventude da Presidência da República.
A morte de tantos jovens revela a inexistência de políticas para formação, profissionalização e inclusão social, segundo o professor Antônio Flávio Testa, da Universidade de Brasília.
— O país avançou no combate à mortalidade infantil, mas todo o investimento que foi feito para garantir a vida no nascedouro se perde no momento em que o jovem começaria a se tornar um cidadão capaz de contribuir com a sociedade — disse.
Dados apresentados por Mário Theodoro, secretário-executivo da Secretaria de Promoção de Políticas da Igualdade Racial (Seppir), confirmam que a violência contra negros se agrava nas Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, onde ocorre um aumento acentuado de homicídios de jovens negros.
— Esse contexto de violência no Brasil é permeado pelo racismo, inclusive por parte do Estado — frisou Theodoro, citando truculência em abordagens policiais a jovens negros.
A preocupação foi compartilhada por Marivaldo de Castro, secretário de Assuntos Legislativos do Ministério da Justiça. Conforme informou, são os negros as maiores vítimas da ação policial que resulta em lesão corporal grave e morte.
Penas mais severas
Na percepção da psicanalista Maria de Lourdes Teodoro, da Sociedade de Psicanálise de Brasília, que trabalhou no atendimento a jovens em conflito com a lei, o preconceito também permearia os órgãos responsáveis pela definição de penas a esses jovens infratores. Para ela, a punição de adolescentes negros é mais severa que a estabelecida para jovens infratores brancos.
Maria de Lourdes observou que a sociedade brasileira é despreparada para lidar com o processo de transformação que marca a adolescência, o que agrava situações de conflito envolvendo jovens, conforme revelado nos números sobre a mortalidade nessa faixa etária no país.
Para o filósofo Ruy dos Santos Siqueira, os governos precisariam ampliar os esforços para eliminar o racismo entre os agentes públicos, com medidas como, por exemplo, a inclusão de conteúdos sobre a diversidade étnica e cultural nos concursos públicos.
Jornal do Senado
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