domingo, 11 de novembro de 2012

Com medo, morador se 'enclausura' na periferia

Quem costumava ficar até tarde na rua agora se recolhe mais cedo. Escolas fecham, e os pais ficam com medo de liberar os filhos para as aulas à noite. Comerciantes optam por não fazer entregas em determinados bairros e antecipam o fechamento de suas lojas.
A onda de violência que assola São Paulo desde o dia 24 de outubro levou moradores da periferia a mudar a rotina. "Nós estamos trancados", resume Katia Cilene, avó de criação de um menino de 13 anos morto em uma chacina na semana passada. "Quem está barbarizando está do lado de fora."

Laura (nome fictício) já se acostumou a ligar para uma colega que sai mais cedo do trabalho para saber se há ônibus circulando e checar como está o "clima". Um dia, a amiga avisou: "Vem logo, porque o ônibus não está passando".
Naquela noite, o filho de Laura foi baleado em um tiroteio na zona norte. Sobreviveu. Agora, conta, qualquer pessoa que bate na casa dela já a deixa apavorada.
Em bairros periféricos das zonas norte, leste e sul da capital paulista, escolas fecharam suas portas por ao menos um dia na semana passada. Em alguns casos, em todas as regiões da cidade, alunos do período noturno têm sido dispensados mais cedo.
Em Diadema (Grande São Paulo), onde um ônibus foi queimado no dia 27, a prefeitura alterou a rota de duas linhas.
"Tenho que andar quase dois quilômetros a mais para pegar o ônibus", disse um morador do bairro Conceição.
Na favela São Rafael, em Guarulhos, ocupada pela PM na semana passada, mães não têm deixado os filhos irem para a aula à noite.
Em Santos, uma vendedora de roupas em domicílio decidiu deixar de atender bairros de São Vicente e do Guarujá.
"Fazia umas oito ou dez entregas por semana nessas cidades. Agora, parei de ir em alguns bairros. O duro é que tem bandido que aproveita o clima de insegurança para assaltar e criar desordem."
A onda de violência tem assustado até policiais. Alguns PMs também mudaram suas rotinas após o assassinato de 92 colegas neste ano. "Deixei até de ir ao barzinho na esquina de casa, que frequento há mais de 20 anos", afirmou um cabo, morador de Osasco.
Em várias regiões, têm sido frequentes os boatos de toque de recolher. O governo e a Polícia Militar contestam -dizem que os toques são inverídicos.
Para combater a violência, os governos federal e estadual anunciaram uma parceria que inclui atuação integrada, ações para asfixiar as finanças do crime organizado e a transferência de presos para presídios federais.



AFONSO BENITES
CAROLINA LEAL
DE SÃO PAULO

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