Uma a cada quatro crianças ou adolescentes assassinadas no estado do Rio em 2017 foram mortas pela polícia. A conclusão é do Dossiê Criança e Adolescente 2018, elaborado pelo Instituto de Segurança Pública (ISP) e lançado nesta sexta-feira. Ao todo, a dupla de pesquisadores Luciano de Lima Gonçalves e Flávia Vastano concluiu que, naquele ano, 636 vítimas de até 18 anos foram vítimas de letalidade violenta — soma de homicídios dolosos, latrocínios (roubos seguido de mortes), lesões corporais seguidas de mortes e homicídios decorrentes de intervenção legal. Desse total, 174 vítimas foram mortas por policiais em serviço, que alegaram, na delegacia, que mataram em legítima defesa.
Para chegar a esses números, os pesquisadores compilaram dados da Polícia Civil e do Sistema Único de Saúde. Ao usar as duas bases, o estudo conseguiu recuperar, com precisão, a idade de cada uma das vítimas.
Os pesquisadores geolocalizaram cada um dos casos e concluíram que regiões próximas a grandes complexos de favelas na Região Metropolitana concentram a maior densidade de assassinatos de crianças e adolescentes. Os Complexos do Chapadão, da Pedreira, da Maré e do Alemão estão entre as áreas com mais casos.
Segundo o dossiê, “a letalidade violenta contra menores tende a se intensificar, na medida em que nos aproximamos de uma área sujeita ao controle ilegal do território” — ou seja, regiões dominadas pelo tráfico ou pela milícia. Mais de cem crianças e adolescentes foram mortas dentro dessas áreas, de acordo com a pesquisa.
Entre todas as mortes violentas de adolescentes, 90,5% são causadas por disparo de armas de fogo. Já entre crianças, esse percentual é 51,9%.
O estudo também comparou os locais dos crimes com os endereços de residência dos menores na época em que foram assassinados. Os pesquisadores concluíram que, na maior parte dos casos, crianças e adolescentes são mortos perto de suas casas: 50% das vítimas foram assassinadas a no máximo três quilômetros de suas casas. Em 20% dos casos, a vítima foi morta a apenas alguns quarteirões de distância de sua residência.
O dossiê analisou ainda outros crimes cometidos contra crianças e adolescentes, e concluiu que, em 59% dos casos de violência sexual, as vítimas são crianças ou adolescentes. Boa parte dos crimes teve como autor pessoas próximas às vítimas. Parentes ou conhecidos foram autores de 47% das agressões físicas e dos crimes de ameaça e constrangimento ilegal, de 40% dos crimes de violência sexual e de 38% dos crimes de violência moral.
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