segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Exaltação dos Avós


          A velhice quase sempre se associa a decrepitude, perdas, inferioridade. Num tipo de sociedade que se ergue sobre valores materiais, não poderia ser diferente: o desprezo pelo idoso está na raiz desse tipo de estrutura social.
Neste mundo em que se exalta a juventude como um estado eterno, o vigor e a beleza como referências existenciais, a pouca idade como síntese de todos os valores, nesta época, neste mundo de hoje, algum papel existe para ser desempenhado pelo avô?
Num tempo que se alicerça no materialismo, terá sentido cultuar essa figura que, antigamente, era mítica?
Dentro de uma economia de mercado, que tem no pragmatismo sua diretriz, é cabível consumir recursos públicos com um grupo etário que pouco produz?
Numa quadra da história em que se fala, de peito aberto e sem qualquer pudor, em reduzir direitos dos aposentados, numa quadra como esta, avô não é reminiscência de uma tábua moral ultrapassada?
Suponho que somente uma resposta afirmativa (para o último quesito) será dada, quase que mecanicamente, por inúmeras pessoas, mesmo pessoas bem intencionadas e de caráter. Isto porque a ideologia dominante inoculou, no subsconsciente coletivo, as respostas equivocadas que supomos serão oferecidas. Essa ideologia despreza a Ética. Quer resultados e não reflexão. Mas devemos remar contra a maré.
Os avós têm um duplo papel: na família e na sociedade. Na família os avós são conselheiros dos pais e dos netos. Podem transmitir ao vivo a experiência que nenhum livro, ou programa radiofônico, ou televisivo, é capaz de traduzir. Os avós são apoio em inúmeras situações e emergências. Integram a família. Feliz da família na qual comparecem os avós.

Na sociedade, os avós transmitem ao presente a herança do passado. São depositários da sabedoria acumulada através de milênios.

A Bíblia aponta horizontes que merecem ser seguidos por crentes e não crentes. Esse Livro Sagrado exalta a missão dos avós.
“O cabelo grisalho é uma coroa de esplendor, e obtém-se mediante uma vida justa.” (Provérbios 13, 31).
“Eu tenho a mesma capacidade
de pensar que vocês têm. Não sou inferior a vocês.
Tornei-me objeto de riso
para os meus amigos,
logo eu, que clamava a Deus
e ele me respondia;
eu, íntegro e irrepreensível,
um mero objeto de riso!” (Livro de Jó, 12, 12).
Lóide converteu-se ao Cristianismo durante a primeira viagem missionária de Paulo. Graças ao ensino e ao exemplo de Lóide tivemos, no seu neto Timóteo, um dos maiores apóstolos dos primeiros tempos.
Até os pequenos gestos revelam a atitude respeitosa ou desrespeitosa para com os idosos. Ceder o lugar ou a passagem ao idoso, mostrar-se disponível para ajudar nas mais comezinhas situações, tudo isso demonstra o nível de educação de uma comunidade no relacionamento com os avós.
 Precisam todos, mas principalmente os jovens, de orientação para escolher caminhos que contrastam com o modelo social imperante, vazio, sem alma, desumano.
Um dos pesos da idade provecta para muitos idosos é a viuvez. Se o casal desfrutou, em plenitude feliz, de longa vida em comum, aquele cônjuge que fica sofre muito a ausência daquele que partiu. A  respeito deste fato, que belo o exemplo do grande pensador Alceu de Amoroso Lima. Viúvo, Alceu lia toda manhã uma das cartas de sua mulher. Somente uma. Nunca mais de uma. Era a fruta saborosa daquele dia, segundo suas palavras.
 
João Baptista Herkenhoff, 79 anos, é juiz de Direito aposentado, professor e escritor. E-mail: jbpherkenhoff@gmail.com
 
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