terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Mundo tem 2 bilhões de pessoas em países sem lei contra tráfico humano

Dado faz parte do Relatório Global 2014, lançado nesta quinta em Brasília.
Tráfico para trabalhos forçados teve aumento, aponta documento da ONU.


Pelo menos 2 bilhões de pessoas – quase 30% da população mundial – vivem em países sem a devida proteção legal contra tráfico de pessoas, informou nesta quinta-feira (4) o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC). O dado faz parte do Relatório Global 2014 sobre tráfico humano, lançado nesta quinta em Brasília.
Se tem uma coisa que aprendemos sobre esse delito é que é preciso um engajamento muito forte da sociedade"
Jorge Chediek, coordenador Residente do Sistema Nações Unidas no Brasil
De acordo com o documento, o número decrianças vítimas do crime cresceu 5% entre 2011 e 2014 em comparação ao período entre 2007 e 2010. Elas representam um terço das vítimas do tráfico de pessoas. O relatório aponta ainda que 70% de todas as vítimas são do sexo feminino.
A organização afirma que nenhum país está imune à questão: há casos registrados de vítimas de 152 nações, levadas à força para outras 124. O tráfico ocorre principalmente dentro das fronteiras nacionais ou dentro de uma mesma região. Segundo o estudo, o tráfico transcontinental afeta principalmente nações ricas.
Embaixadora da Boa Vontade da campanha Coração Azul, contra o tráfico humano, a cantora Ivete Sangalo disse ser necessário estimular na sociedade a importância de combater a prática. Ela classificou a situação como "crime odioso".
"Essas pessoas temem por suas vidas e pelas vidas dos seus familiares", disse. "Uma das maneiras mais eficazes de combater esse crime é pela denúncia. Eu, por meio da minha música e da minha popularidade, sou instrumento dessa divulgação."
Entre as modalidades em que houve crescimento nos últimos cinco anos está otráfico para trabalhos forçados – incluindo os setores industrial e da construção, a produção têxtil e atividades domésticas, que teve aumento de oito pontos percentuais em relação a 2007 – de 32% das ocorrências para 40%. As mulheres são 35% das vítimas desses casos.
O crime encontra, no entanto, variações nos continentes. Enquanto na Europa e na Ásia Central o tráfico ocorre, na maioria dos casos, para exploração sexual, na Ásia Oriental e no Pacífico a motivação mais frequente é o trabalho forçado. Na América, há um equilíbrio entre ambos os tipos.
O relatório aponta ainda alta taxa de impunidade: 40% dos países relatou apenas algumas ou nenhuma condenação, e ao longo dos últimos anos não houve "aumento perceptível" na resposta ao crime, segundo a ONU.
Coordenador Residente do Sistema Nações Unidas no Brasil, Jorge Chediek afirmou ser necessário que todos os setores se mobilizem para diminuir o tráfico de pessoas. "Se tem uma coisa que aprendemos sobre esse delito é que é preciso um engajamento muito forte da sociedade."
Realidade brasileira
Dados do UNODC mostram que, com o crescimento econômico, o Brasil passou a ser também um país de destino de pessoas traficadas. Em geral, as vítimas estão em vulnerabilidade social, econômica e cultural. Entre 2010 e 2012, 41 pessoas foram indiciadas pelo crime. No mesmo período, 97 foram processadas e 33 condenadas.

Ivete Sangalo afirmou ser positivo ter havido punição. "Eu acho que isso é uma vitória, apesar de nos deprimir, porque existe esse crime, há pessoas que praticam esse crime, mas eu acho que é o começo de uma nova postura", disse. "É tão subterrâneo, é um submundo tão desgraçado."
No período de 2005 a 2012, a Polícia Federal registrou 222 ocorrências de tráfico de pessoas – incluindo o nacional e o internacional. Já a Divisão de Assistência Consular do Ministério das Relações Exteriores identificou, nos mesmos sete anos, 483 vítimas do crime para exploração sexual e de trabalho.

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