terça-feira, 17 de abril de 2018

Escala verifica diferentes situações de “bullying” no ensino superior

Estudo apresenta uma lista de situações de violência interpessoal cuja frequência pode ser apontada pelos estudantes



Levantamento concluiu que graduandos e professores reconhecem a presença do fenômeno no cotidiano da graduação, em situações de bullying na relação veterano-calouro, na relação professor-aluno, por características pessoais, por orientação sexual e gênero, por desempenho acadêmico, por discriminação social e etnia – Foto: Marcos Santos / USP Imagens
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Na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, pesquisa desenvolveu uma escala para verificar a ocorrência de violência interpessoal (bullying) no ensino superior. Sua criação é baseada em um estudo no qual alunos e professores relataram situações de bullying e seus efeitos no ensino e na aprendizagem. A escala é uma lista com 56 situações que podem ser apontadas pelos estudantes, como discriminação social, por características pessoais e desempenho acadêmico, e que também permite identificar a frequência de cada episódio de violência interpessoal.
A criação da escala baseou-se em um estudo exploratório no qual foram entrevistados 187 estudantes de graduação e 32 professores dos cursos de Medicina, Ciências Biomédicas, Fonoaudiologia, Fisioterapia, Terapia Ocupacional, Nutrição e Metabolismo e Informática Biomédica da FMRP. “Foi aplicado um questionário com questões referentes à ocorrência de bullying no contexto da graduação, os tipos de situações e as possíveis consequências para o processo de ensino e aprendizagem”, relata o fonoaudiólogo Matheus Francoy Alpes, que realizou a pesquisa.
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Lista traz 56 situações que podem ser apontadas pelos estudantes para se identificar a frequência de cada episódio de violência interpessoal – Foto: Marcos Santos/USP Imagens
O levantamento concluiu que graduandos e professores reconhecem a presença do fenômeno no cotidiano da graduação em situações de bullying na relação veterano-calouro, na relação professor-aluno, por características pessoais, por orientação sexual e gênero, por desempenho acadêmico, por discriminação social e etnia. “Além disso, há a percepção de que estas situações podem interferir negativamente no processo de ensino-aprendizagem e na permanência estudantil”, conta o pesquisador, “com desgaste psíquico e emocional, desmotivação e desinteresse pela faculdade, isolamento social e repressão da expressão, afetando o bem-estar geral e o desempenho no cotidiano”.

Escala

A partir do estudo exploratório, foi montada uma escala com o objetivo de verificar a ocorrência de bullying na graduação. “Ela conta com 56 afirmativas referentes a diferentes tipos de situações – relação veterano-calouro, relação professor-aluno, por características pessoais, orientação sexual e de gênero, desempenho acadêmico – e discriminação social e etnia, com a opção de preenchimento de uma escala de quatro pontos – nunca, raramente, às vezes e sempre”, explica Alpes. “Foi realizada a validação de conteúdo do instrumento, que está pronta para a sua validação completa em campo.”
O pesquisador observa que a idade de ingresso no ensino superior coincide com o final da adolescência, período em que o estudante ainda se encontra em fase de desenvolvimento e pode, portanto, apresentar vulnerabilidade psicossocial. “Esta pode ainda aumentar ao longo da graduação, em que são identificados diferentes momentos críticos, principalmente relacionados à sua adaptação ao novo ambiente e a novos desafios”, destaca. “A ocorrência de bullying pode então interferir na adaptação, inserção e desempenho acadêmico do estudante.”
“A ampliação do conhecimento sobre as percepções e vivências da população universitária sobre o tema pode favorecer o desenvolvimento de estratégias pessoais de enfrentamento de situações desse tipo”, observa Alpes. “Ao mesmo tempo, auxilia na definição de ações institucionais preventivas no cotidiano acadêmico, de forma a neutralizar ou minimizar o impacto da vivência de situações de violência interpessoal no desempenho acadêmico dos estudantes.
O estudo exploratório foi realizado em 2014, com apoio dos programas Ensinar com Pesquisa e Programa Unificado de Bolsas, da Pró-Reitoria de Graduação da USP. A supervisão foi da professora Maria Paula Panúncio-Pinto, do Departamento de Neurociências e Ciências do Comportamento da FMRP. O desenvolvimento da escala aconteceu no projeto de mestrado Construção e validação de conteúdo de escala para estudantes de graduação sobre a ocorrência de violência interpessoal (‘bullying’), orientado pelos professores Luiz Ernesto de Almeida Troncon e Maria Paula Panúncio-Pinto. Produzido no Programa de Pós-Graduação em Clínica Médica da FMRP, o trabalho deverá ser apresentado até o mês de junho.

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