Por Neemias Moretti Prudente, Editor do #Factótum Cultural
“Sou a favor da tortura.
Através do voto, você não muda nada no país.
Tem que matar 30 mil“
Jair Bolsonaro
Segundo Bolsonaro, Brilhante Ustra é um “herói nacional”.
Mas quem é Ustra? Simplesmente uma das pessoas responsáveis pela prática de torturas, perseguições, sequestros e assassinatos durante a ditadura militar (1964-1985).
Carlos Alberto Brilhante Ustra (1932-2015), também conhecido como Dr. Tibiriçá, foi um coronel do Exército Brasileiro, ex-chefe do DOI-CODI (Destacamento de Operações de Informação – Centro de Operações de Defesa Interna) em São Paulo, um dos órgãos encarregados da repressão a grupos de oposição a ditadura militar, especialmente “terroristas e esquerdopatas” (no qual me enquadraria na época).
Em 2008, Ustra tornou-se o primeiro militar condenado pela Justiça Brasileira pela prática de tortura durante a ditadura militar.
Dos mais de 20 mil brasileiros torturados durante o período ditatorial, pelo menos 500 pessoas foram mortas dentro do DOI-CODI em São Paulo no período em que foi comandado por Ustra.
Sob o comando de Ustra, a tortura não poupava nem as crianças. Ustra torturava mães e as exibia para seus filhos.
Na época era considerado o “senhor da vida e da morte” e “escolhia quem ia viver e ia morrer”, de acordo com o ex-sargento do Exército Marival Fernantes, que trabalhou por quatro meses sob o comando de Ustra na época.
Entre os instrumentos de tortura, preferenciais utilizados por Ustra, está a “cadeira do dragão”, o “pau de arara” e a “geladeira”.
A Cadeira do Dragão, conhecida também por “pimentinha”, era uma espécie de cadeira elétrica, onde os presos sentavam pelados numa cadeira revestida de zinco ligada a terminais elétricos. Quando o aparelho era ligado na eletricidade, o zinco transmitia choques a todo o corpo. Muitas vezes, os torturadores enfiavam na cabeça da vítima um balde de metal, onde também eram aplicados choques.
Outro método de tortura muito utilizado era o Pau de Arara, que consistia numa barra de ferro que era atravessada entre os punhos amarrados e a dobra do joelho, sendo o conjunto colocado entre duas mesas, ficando o corpo do torturado pendurado a cerca de 20 ou 30 centímetros do solo. Esse método nunca era utilizado isoladamente, seus complementos normais eram eletrochoques, a palmatória e o afogamento.
Assim, utilizando-se de uma barra, atravessa-se por entre as dobras dos joelhos, por entre seus braços, amarre os seus punhos e leve-os para frente dos joelhos. Pronto, agora você está preso em um legítimo Pau de Arara.
Já na Geladeira, os torturados ficavam pelados numa cela baixa e pequena, que os impedia de ficar de pé. Depois, os torturadores alternavam um sistema de refrigeração superfrio e um sistema de aquecimento que produzia calor insuportável, enquanto alto-falantes emitiam sons irritantes. Os presos ficavam na “geladeira” por vários dias, sem água ou comida.
Além dos métodos elencados acima, são citadas técnicas como queimar com cigarros alguma região do corpo; arrancar com alicate pelos, dentes ou unhas; deixar o torturado com sede; amarrar fio de náilon entre os testículos e os dedos dos pés e obrigar a vítima a caminhar; palmatória; afogamento e o espancamento.
Era comum também a violência sexual, o estupro era mais uma das armas utilizadas para torturar as mulheres consideradas “inimigas do estado“.
Amelinha, uma das torturadas na época, relatou que: “Eu estava sentada em uma cadeira do dragão, nua, amarrada, levando choque no corpo inteiro, ânus, vagina. Enquanto isso, o Gaeta, que era um torturador, estava se masturbando e jogando esperma em cima de mim” […] “A hora que eu caio no chão, ele me põe em uma cama de lona que tinha ali do lado e começa a esfregar meus seios, apertar minha bunda. Isso é uma violência. E assim foram várias vezes, com vários outros torturadores. Mas existem os casos de ter penetração vaginal que as mulheres contam. E são muitos casos, não um ou dois”, completa.
Através desses e outros métodos de tortura, muitas das vítimas (se não foram mortas) ficaram mutiladas, cegas, surdas, estéreis, com danos cerebrais ou paralisias, entre outras, além de sequelas psíquicas, como paranoia e depressão, que levaram alguns torturados a cometer suicídio.
Sem embargo, além de defender seu herói Ustra, Bolsonaro sempre defendeu a tortura.
Um exemplo recente disso se deu com a publicação do decreto nº 9.831/2019, onde Bolsonaro exonerou todos os peritos do Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura (MNPCT), órgão responsável por investigar violações de direitos humanos em locais como penitenciárias, hospitais psiquiátricos, abrigos de idosos, entre outros. E além de exonerar os peritos, cortou recursos (administrativos e financeiros) de mecanismo de combate à tortura.
A ideia é legitimar (ou ocultar) a tortura cometida pelo Estado (e seus agentes).
Mas o que podemos esperar de um autocrata autoritário?
… estocar alimentos? fugir para os montes? se preparar para a grande tribulação? subir num pé de goiaba?
É o começo do fim de … “como as democracias morrem”. Alias, esse é o título de um ótimo livro para você ler (esquerdopata ou não), enquanto caminhamos rumo a uma nova ditadura.
Fontes: Sites: arquivosdaditadura.com.br, bnmdigital.mpf.mp.br, cnv.memoriasreveladas.gov.br, mdh.gov.br, operaamundi.uol.com.br; Livro: Como as democracias morrem, de Steven Levitsky e Daniel Ziblatt (Zahar, 2018).
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