sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

CNJ aprova política judiciária de atenção a egressos do sistema prisional

O Plenário do Conselho Nacional de Justiça aprovou nesta terça-feira (17/12) resolução que institui a Política de Atenção a Pessoas Egressas do Sistema Prisional no âmbito do Poder Judiciário. Os Escritórios Sociais, estruturas impulsionadas pelo CNJ desde 2016 que apostam na articulação entre Judiciário e Executivo, passam a centralizar as ações do Judiciário na atenção às pessoas egressas e seus familiares. A resolução entra em vigor após 90 dias de sua publicação.
Escritórios Sociais passam a centralizar as ações do Judiciário na atenção às pessoas egressas e seus familiares 
Marcello Casal Jr./Agenciabrasil
Além de incentivar o trabalho conjunto entre Judiciário e Executivo em escala local, a resolução também prevê que os Escritórios Sociais poderão fazer parcerias e outras formas de cooperação entre entes públicos, privados e sociedade civil para potencializar os atendimentos e garantir um retorno mais qualificado à liberdade. Lançado pelo CNJ em 2009 com o objetivo de fazer a ponte entre egressos e empregadores, o programa Começar de Novo ganhará novo impulso com os Escritórios Sociais, o que inclui a atualização de diretrizes e fluxos para otimizar o serviço.
A política judiciária de atenção a egressos pretende suprir a ausência de ações de Estado articuladas nacionalmente voltadas a esse público com base em boas práticas e evidências. Além da coordenação compartilhada entre poderes, os Escritores Sociais têm como princípios a singularização do atendimento para facilitar o acesso a serviços públicos de assistência, saúde, educação, renda, trabalho, habitação, lazer e cultura, a adesão voluntária, a privacidade e sigilo no atendimento, a promoção da igualdade racial e de gênero e o acolhimento por equipes multidisciplinares, responsáveis também pela articulação de redes de atendimento.
Os Escritórios Sociais irão trabalhar pela inclusão das pessoas egressas em políticas que incluem a emissão de documentação civil e oferta de insumos para a volta à liberdade, como vale-transporte, alimentação e água, assim como roupas que não exponham a condição de pessoa egressa. Em 90 dias a partir da publicação da resolução, o Departamento de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário e do Sistema de Execução de Medidas Socioeducativas do CNJ publicará manual com informações sobre estratégias de implantação e fluxos de funcionamento dos Escritórios Sociais em consonância com as realidades locais.
Os Grupos de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário (GMF) dos Tribunais de Justiça ficarão responsáveis pelo fomento e apoio à sustentabilidade dos Escritórios Sociais, garantindo, entre outros pontos, o primeiro atendimento à pessoa egressa no fórum e encaminhamento aos serviços. Os GMFs também ficarão responsáveis por estimular a inserção da política de atenção a egressos em Planos Plurianuais, Lei de Diretrizes Orçamentárias e Lei Orçamentária Anual, além de prever sua institucionalização na estrutura do órgão gestor da administração penitenciária.
A resolução ainda prevê a implantação de sistemas de informações para fluxos contínuos de dados entre Judiciário e Executivo, racionalizando a execução penal e permitindo mais qualidade na produção de dados. O Judiciário, por exemplo, ficará responsável por informar aos gestores prisionais a relação de pessoas privadas de liberdade que estiverem próximas de serem soltas — o alerta será feito por meio do Sistema Eletrônico de Execução Unificado, ferramenta de controle da gestão penal que já está em 28 tribunais e possui 1 milhão de processos em tramitação.
Ações afirmativas
Buscando garantir a efetividade das políticas de atenção à pessoa egressa, a resolução prevê que contratações feitas pelo Poder Judiciário deverão observar o emprego de mão de obra formada por pessoas egressas do sistema prisional pela empresa prestadora de serviços, em quantidade que vão de 4% a 6% das vagas. Também estão previstos projetos junto à sociedade civil relativas a políticas de equidade racial e de gênero, bem como para erradicar violências, processos de marginalização e de criminalização das pessoas egressas, difundindo práticas democráticas de prevenção e de administração de conflitos.

Os Escritórios Sociais também deverão identificar e acolher demandas específicas em temáticas relacionadas às mulheres egressas, população LGBTQ, situações de discriminação racial, de gênero ou orientação sexual, estrangeiros e indígenas, pessoas com deficiências ou com transtornos mentais e pessoas que fazem uso abusivo de álcool ou outras substâncias psicoativas.
Justiça Presente
O fortalecimento de uma política judiciária de atenção a egressos é prioridade na gestão do ministro Dias Toffoli no CNJ. As ações estão sendo executadas por meio do programa Justiça Presente, parceria iniciada em janeiro de 2019 com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e apoio do Ministério da Justiça e Segurança Pública para enfrentamento de problemas estruturais no sistema prisional e socioeducativo.

Principal política do CNJ de atenção ao egresso, o Escritório Social funciona no Espírito Santo desde 2016 e foi expandido para seis unidades da federação na gestão do ministro Dias Toffoli: Roraima, Paraíba, Alagoas, Piauí, Rio de Janeiro (Maricá e Niterói) e Bahia. Há previsão de funcionamento de 15 unidades do Escritório Social até março de 2020.
Para o presidente do CNJ, a definição de práticas a esta população visa à inclusão social e à minimização da estigmatização que decorre do cárcere. “É, ao mesmo tempo, medida que protege e assegura direitos individuais e promove, em última análise, a melhoria na segurança pública. De fato, se obtivermos sucesso na inclusão social dessas pessoas, estaremos contribuindo para a quebra do ciclo de violência, evitando-lhes, possivelmente, a reincidência”, afirmou Dias Toffoli durante lançamento do Escritório Social na Bahia. Com informações da assessoria de imprensa do Conselho Nacional de Justiça.
Revista Consultor Jurídico, 19 de dezembro de 2019.

Nenhum comentário:

Pesquisar este blog