sexta-feira, 13 de março de 2015

Tráfico humano: familiares ou amigos podem ser «perigosos»

Investigação conclui que tráfico não é feito só por grupos organizados.


Um grupo de investigadores responsáveis por dois projetos em Portugal contra o tráfico de seres humanos, alertou esta quinta-feira para o facto de este crime não ser só cometido por redes internacionais, mas também por pessoas próximas da vítima. 

O alerta foi feito, em Lisboa, na sessão de apresentação dos resultados e impactos do projeto «Comunidades Ativas contra o Tráfico», desenvolvido por dois investigadores da Associação de Estudos Estratégicos e Internacionais (NSIS). 

Nesse âmbito, a equipa do NSIS dinamizou, durante um ano, um projeto-piloto na área da cidadania ativa na freguesia de São Teotónio, concelho de Odemira (distrito de Beja), e outro na União das Freguesias de Pontinha e Famões, em Odivelas (Lisboa).
«Uma das perceções que desmistificámos com estes projetos é que as vítimas de tráfico seriam só cidadãos estrangeiros e que as redes seriam necessariamente organizadas e sofisticadas, mas isso não corresponde à verdade», explicou à agência Lusa o investigador do NSIS Miguel Santos Neves.

O investigador referiu que, em muitos casos, o traficante é alguém «muito próximo da vítima» ou do potencial alvo, podendo ser um amigo ou até mesmo um familiar. 

A esse respeito, Miguel Santos Neves exemplificou com um caso detetado numa escola de Odivelas – na qual está em funcionamento o projeto-piloto - onde uma professora descobriu que o pai de uma aluna se preparava para a vender.
«A professora percebeu pelo comportamento da rapariga que algo se passava e conseguiu descobrir que o pai a iria vender. Imediatamente acionou os meios legais para salvar a menina e o caso está a ser investigado», contou.

O investigador referiu igualmente a existência de esquemas para aliciar vítimas que pode passar, no caso das raparigas, por promessas de virem a ser modelos e, no dos rapazes, de serem jogadores de futebol. 

«A sensibilização junto das escolas foi muito importante para que os próprios alunos tomassem consciência desta realidade e relatassem casos que se passaram com eles ou com amigos», apontou. 

Nesse sentido, o investigador sublinhou que as escolas assumem um «papel fundamental» no desenvolvimento dos projetos de combate ao tráfico e referiu que alguns dos estabelecimentos escolares das freguesias trabalhadas introduziram nos seus programas conteúdos dedicados a esta temática. 

«A comunidade educativa está mais consciente dos riscos que muitas vezes estão mais próximos do que se pensa. É aí que estão os grupos de maior risco», disse à Lusa. 

Miguel Santos Neves disse ainda que o projeto nos dois municípios permitiu aferir que o tráfico de pessoas destina-se sobretudo a fins sexuais e laborais, com maior incidência do primeiro caso no concelho de Odivelas e do segundo no de Odemira. 

Relativamente ao futuro, o investigador manifestou vontade de replicar o projeto «Comunidades Ativas Contra o Tráfico» noutros municípios, mas escusou-se a adiantar em quais.

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