TROPA DE ELITE
Na ultima quarta feira, com grande esforço, consegui ir até o cinema para assistir o tão polêmico e falado filme Tropa de Elite. O maior mérito do filme é ter suscitado um forte e candente debate.
O filme dirigido por José Padilha retrata o dia-a-dia do grupo de policiais e de um capitão do BOPE (Batalhão de Operações Policiais Especiais), que quer deixar a corporação e tenta encontrar um substituto para seu posto. Paralelamente dois amigos de infância se tornam policiais e se destacam pela honestidade e honra ao realizar suas funções, se indignando com a corrupção existente no batalhão em que atuam.
O filme tem cenas de ação, tiroteios, corrupção, torturas e tal, mas no geral o filme é bem realista, que tem como proposta trazer a visão dos policiais (os do BOPE), coisa inédita no Brasil, já que PM não tem voz nesse país, não poderia faltar uma boa dose de crítica social. Aliás, o filme traz apenas duas categorias de policiais: os corruptos e os do BOPE. Já que, como esta dito no filme, o policial tem três escolhas: ou ele se corrompe, ou se omite ou vai para a guerra. Ou derrota o crime ou é derrotado por ele.
Segundo a Revista Veja (17/10), em uma pesquisa encomendada ao Instituto Vox Populi, dos entrevistados, 94% gostaram do filme; 79% dizem que o filme mostra a policia como ela é; 72% consideram que, em tropa de elite, os traficantes são tratados como merecem; 51% acham que a tortura não é um meio aceitável para obter a confissão de um bandido; 53% julgam o capitão nascimento um herói e 85% dos entrevistados afirmam que o Capitão Nascimento tem razão ao dizer que a culpa pela existência dos traficantes é dos usuários de drogas.
O que me chamou a atenção é a cena que desmascara a nossa hipocrisia quando o Capitão Nascimento atribui a culpa (ou parte dela) pelo tráfico de drogas e pela violência, a elite, aliás, são estes que fazem passeatas pela paz, cobram providências e compactuam com a bandidagem para abrir ONGs em favelas. Se existem traficantes de drogas, é porque há milhares de consumidores que os bancam.
Pelo menos nessa área a solução é simples: só deixar de comprar. Se a sociedade ou esses metidos a intelectuais, que acham bonito curtir um baseado, se conscientizassem das conseqüências que um gesto dessa natureza pode gerar, certamente seria mais eficaz do que qualquer lei, qualquer medida punitiva.
Os traficantes aparecem sem romantismo, terrivelmente violentos e dispostos a semear o terror e a morte para manter o controle do mercado. Infelizmente só a parte dos traficantes que estão no morro que a PM combate, enquanto muitos dos chefões transitam engravatados por ai em seus carros importados, fazendo parte da alta sociedade, taxados como “homens de bem” etc.
Outro ponto provocativo é que, como os policiais do BOPE são os mocinhos do filme, e torturam todo mundo para obter informações, dá a impressão de que o filme quer fazer o espectador aceitar a tortura como meio legítimo (ou inevitável) de se combater o tráfico, aliás, o que já é aceito por muita gente no Brasil. Desde que o torturado não seja seu amigo, parente ou conhecido, é claro.
Em suma, o filme é excelente. Obrigatório assistir para quem é policial e para quem quer entender um pouco mais como funciona a polícia. Quem quer somente diversão, vai se surpreender e vai sair achando que valeu muito a pena ter ido ao cinema.
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