Cultura de paz: restaurando relações e curando feridas
Queridos leitores, ao inicio de outro ano florescem idéias, projetos e renascem desejos e sentimentos. Em determinadas circunstâncias, tratando-se de relações interpessoais, nenhum de nós está livre de ofender alguém ou ser ofendido por outrem, causando uma ferida na relação com nosso semelhante e com nosso criador.
Isto se dá porque, por mais virtudes que a pessoa tenha, ela está sujeita ao erro, e, quando este mostra seus defeitos, vem o sentimento de desilusão, decepção, raiva, cólera, mágoa em nosso coração.
Mas a paz pode ser reencontrada, sendo necessário que coloquemos em prática a nossa reforma íntima, ou seja, a renovação de nossas atitudes, do coração e pensamento.
Uma das maiores virtudes através da qual alcançamos à paz é o perdão. O perdão como um processo mental ou espiritual de esquecimento completo e absoluto das ofensas vindas de forma sincera e generosa, do coração.
Cristo recomendou e viveu o perdão. Mesmo quando perseguido e açoitado, não esboçou qualquer gesto de reação e no auge do seu martírio ainda foi capaz de pedir perdão ao Pai, para que perdoasse os seus algozes (Lc. 23:34). A palavra Bíblia, muitas vezes, nos ensina a perdoarmos uns aos outros (Mt. 6:14-15; Ef. 4:32; Cl. 3:13).
Quando perdoamos rompe-se um círculo de dor e culpa, advindo seu poder curativo. Ao desprender-se do ressentimento resultante da dor que lhe foi causada, a pessoa que perdoa cicatriza suas feridas.
O perdão deve vir acompanhado de arrependimento, de mudança de pensamento, por parte do agressor, de reparar os males praticados, por seus atos, palavras e pensamentos, reabilitando-se perante si mesmo e perante aqueles a que haja prejudicado.
Nem sempre quem é perdoado consegue se livrar da sua consciência, mas precisa reconhecer os seus erros e encontrar forças para reformular atitudes e recomeçar novamente. O perdão propicia clara visão da responsabilidade, leva o indivíduo a cuidadosas reflexões, antes de tomar atitudes agressivas ou negligentes, precipitadas ou contraditórias no futuro.
Para que haja a reconciliação, deve haver perdão por parte da vítima e arrependimento por parte do agressor. Só o perdão pode apagar a sede de vingança e abrir o coração a uma reconciliação autêntica e durável entre os povos.
É importante ressaltar que o perdão não absolve uma pessoa de seus erros, não remove as conseqüências advindas da ofensa, que podem permanecer por toda a vida. O homem que ofende o seu semelhante pode arrepender-se e procurar o perdão, mas ainda assim sofrerá o castigo temporal da lei humana. Também quando perdoamos estamos transferindo para Deus a responsabilidade de lhe impor qualquer punição que ele julgar necessária (Rm. 12:17-21).
Iniciando este novo ano, sustentados na esperança de que será melhor, sentimo-nos impulsionados a rever, a romper, a retomar, a caminhar, a trabalhar com todo nosso ser, dia e noite, na conquista da paz, pois esta só é possível quando se torna um profundo desejo de todos. Espero que a semente da paz, do arrependimento e do perdão, que ainda existe em muitos corações, renasça. Libertemo-nos do ódio, expulsemos a mágoa, perdoemos os nossos ofensores e a nós mesmos, pois todos nós necessitamos do perdão.
FONTE: PRUDENTE, Neemias Moretti. Cultura de paz: restaurando relações e curando feridas.
O Diário do Norte do Paraná, Maringá, 5 jan. 2008. Opinião, A2.
OU
PRUDENTE, Neemias Moretti. Perdão, Arrependimento e Paz. Portal Maringaense.com, Maringá, 6 jan. 2008. Colunas Direito e Justiça. Disponível em: <
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