quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Bullying nas escolas e Casa dos Segredos: uma cultura de violência para as nossas crianças?

O que ocorreu em Braga é verdadeiramente dramático: um jovem abdicou de viver, muito provavelmente devido à violência, psicológica e física, perpetrada por seus colegas. Sim, seus colegas: jovens, entre os 13 e os 15 anos, que revelam uma total insensibilidade, um monstruoso desprezo pelos sentimentos e pelo bem-estar de alguém com quem conviviam diariamente. O fenómeno do bullying não é de agora: não surgiu de repente, sendo um problema pontual, apenas de uma geração malfadada. No entanto, tem-se vindo a agravar de forma preocupante. Não por acaso, o antigo Procurador-Geral da República, Pinto Monteiro (numa iniciativa muito meritória) promoveu uma alteração legislativa no sentido da classificação deste crime como crime de natureza pública (o que significa, em traços gerais, que a denúncia pode ser feita por qualquer um de nós e a acusação deduzida exclusivamente pelo Ministério Público).
Julgo que se impõe uma reflexão sobre as potenciais causas deste crime, sabendo de antemão que a mente humana é algo muito complexo de perscrutar. No caso, tratando-se de menores, ainda mais complexo se torna: urge, pois, promover a discussão entre os especialistas na matéria, incluindo psicólogos, psiquiatras, especialistas em ciências da educação, para podermos (nós, comunidade politicamente organizada) actuar com sucesso na prevenção deste crime. Aproveito, no entanto, com a humildade própria de quem não é especialista, tecer algumas considerações políticas e sociológicas sobre o bullying:
Poderá ser uma manifestação da falta de autoridade nas escolas. Os professores hoje estão "reféns" dos alunos e dos encarregados de educação - estes amiúde ameaçam os docentes, até prometendo retaliações físicas, caso o filho não tenha uma determinada nota (mesmo sem a merecer). Em caso de desrespeito ou comportamento inadequado do aluno, o professor não pode recorrer a nenhuma medida de correcção, pois correm o sério risco de ser alvo de um processo disciplinar, atribuindo a legislação vigente ao aluno uma posição claramente mais favorável. A estrutura familiar hoje é cada vez mais ténue - os pais, com a ssuas obrigações profissionais, não conseguem acompanhar diariamente o percurso escolar do seu filho. Se a escola não o pode fazer, se os pais não têm disponibilidade, quem é que educa as nossas crianças e os nossos adolescentes? Mentalizemo-nos: a falta de autoridade tem consequências perniciosas para a sociedade;
Com não há uma figura referencial, na escola ou na família, as crianças e os adolescentes tendem a adoptar como modelos as figuras da TV. E os novos heróis da televisão portuguesa são pessoas que surgem com a sua identidade real, mas constroem uma personalidade distinta, teatral, direi até novelesca, para ter a oportunidade de participar numa reality show! Será que é aconselhável uma estação de televisão, de sinal aberto, colocar às sete da tarde, imagens de uma discussão violenta entre duas concorrentes de um reality show actualmente no ar? A cultura de violência que transmitimos só pode gerar mais violência.
Eis as minhas reflexões para debate. É o interesse das crianças e adolescentes portugueses que está em jogo.

Expresso. 16.01.2014.

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