sexta-feira, 13 de março de 2009

Ações contra as drogas esbarram em falta de informações

Qual o perfil dos usuários de drogas? As informações que as autoridades maringaenses dispõem são as fichas de presos. Não há estudos aprofundados sobre o tema



Apesar das notícias diárias da violência causada pelo uso de drogas em Maringá, ninguém sabe informar, com base em números ou algum estudo, qual a dimensão do problema em Maringá e região.

As autoridades admitem que não existe sequer um número aproximado de quantas pessoas são usuárias de drogas na cidade, a quantidade consumida de cada substância, o perfil e o histórico das famílias dos usuários e sua situação socioeconômico.

De acordo com a presidente do Conselho Municipal Antidrogas, Maricelma Brégola, cada órgão público possui dados isolados, que não são reunidos, comparados e organizados de forma sistemática.

A falta de troca de informações resulta em um mosaico de dados que não contribui para o combate ao tráfico. Apenas serve como termômetro de suas conseqüências: “Tudo o que temos são números de prisões, apreensões e atendimentos na rede pública”, explica Maricelma, psicóloga do Departamento de Psicologia da Universidade Estadual de Maringá (UEM), mestra em Ciências da Educação. “Estamos falando de pessoas, que possuem uma complexidade muito grande, não de estatísticas”, acrescenta.

Para ela, sem informações aprofundadas sobre os usuários, sua situação social, educacional e familiar, fica impossível ter resultados eficazes no processo de recuperação. Desde 2008 à frente do Conselho, Maricelma criou uma equipe para superar a falta de informação sobre o uso de drogas em Maringá. “Estamos montando um núcleo, com profissionais qualificados no assunto, da UEM, do Centro Universitário de Maringá (Cesumar) e da Uningá, que podem colaborar neste trabalho”, comenta Maricelma.

“Solicitamos que órgãos como a Polícia Civil, a Polícia Federal, Secretaria de Saúde, de Educação e entidades assistenciais nos enviem informações sobre prisões, apreensões, pessoas atendidas ou com problemas relacionados às drogas para poder capitalizar esses dados”, acrescenta.

Dado o grande número de ocorrências envolvendo entorpecentes no município, Maricelma acredita que Maringá precise de uma secretaria municipal antidrogas. “Esse assunto já foi tratado com a prefeitura, mas considerando as limitações no orçamento e a necessidade do assunto ser tratado por um órgão do Executivo, a solução encontrada foi a criação de uma diretoria dentro da Secretaria de Assistência Social (Sasc)”, explica Maricelma.



Escalada

Uma das referências para a escalada do uso de drogas no município são os dados de internamentos de dependentes químicos. No Hospital Psiquiátrico de Maringá, a média de internações de pacientes dependentes de drogas cresceu 650% em cinco anos, conforme dados da diretoria da instituição. Quase todos foram internados para tratamento da dependência de crack.

De acordo com a diretora geral, Maria Emília Parisoto de Mendonça, a média de pacientes adultos internados passou de quatro por mês, em 2003, para 30 internamentos no ano passado. “Desses pacientes internados em 2008, 99% são dependentes de crack”, afirma Maria Emília.
O número de usuários de crack que se internam no local está prestes a se igualar ao índice de pacientes que chegam às portas do hospital vítimas do alcoolismo, em média 32 pacientes por mês.

Além dos pacientes com mais de 18 anos, o Hospital Psiquiátrico conta com 12 leitos destinado a adolescentes – somente do sexo masculino. Todas as vagas estão preenchidas. “Houve um aumento muito grande do consumo de crack em Maringá, hoje os dependentes dessa substância são 12% dos atendidos na unidade”, diz Maria Emília.

Apesar do aumento de dependentes químicos internados a maior parte dos pacientes levados ao Hospital Psiquiátrico é de pessoas com transtornos mentais e comportamentais, que respondem por uma média de 179 atendimentos por mês.


O Diário do Norte do Paraná.

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