quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Mulher recebe menos em todos os países




Índice mostra que, no Brasil, mulheres recebem pouco mais da metade do salário dos homens, apesar de terem maior escolarização.

Não importa quão alto é o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano): na Islândia (país de maior IDH) ou em Serra Leoa (país de pior IDH do ranking de 179 nações), as mulheres têm salários menores do que os homens. É isso que diz a edição de 2008 da MPG (Medida de Participação Segundo o Gênero) , indicador que mede a participação feminina em cargos legislativos, de alto escalão e de gerência, e calcula a diferença entre o salário dos homens e das mulheres. Há países em que a diferença de renda entre gêneros é bem menor do que em outros, mas em todos os homens ganham mais.

O Brasil, com índice de 0,498 (quanto mais perto do 1, melhor), é o 81º em um ranking de 108 países para o indicador, que usa dados de 2006. O levantamento mostra que apesar de as brasileiras apresentarem maior esperança de vida ao nascer (75,8 anos, contra 68,4 dos homens), maior taxa de alfabetização (89,9% das mulheres com mais de 15 anos estavam alfabetizadas em 2006, contra 89,4% dos homens), e maior taxa bruta de frequencia à escola (89,4% das mulheres para 85,1% dos homens), o rendimento feminino, no Brasil é, em média, 56% do rendimento masculino. Isso significa que se os homens recebem R$ 1.000, as mulheres ganham apenas R$ 560.

Isso se dá por conta de antigas convenções sociais de gênero, de acordo com Ana Carolina Querino, assistente técnica do UNIFEM (Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher), que atua na implementação das atividades do Programa Regional de Gênero, Raça, Etnia e Pobreza do fundo. “Pelas convenções, a mulher ocupa o espaço privado e o homem o espaço público, de provedor da casa. Com o tempo a mulher vem ganhando espaço, mas isso não se reflete no mercado de trabalho, onde há o que chamamos de teto de vidro: quanto mais alto o posto nas empresas, menor o número de mulheres”, explica. Ana acrescenta que a falta de mulheres em cargos de chefia não acontece somente por culpa das empresas. “O UNIFEM tem um programa de promoção da igualdade de gêneros nas companhias, que promove cursos de capacitação para que as mulheres estejam aptas a ocupar cargos de gerência. E muitas empresas dizem que é difícil preencher as vagas dos cursos, pois não há procura das próprias mulheres”, afirma.

Ranking

O país com melhor índice (que indica menor desigualdade de gêneros) é a Suécia (MDG de 0,925), que também conta com a menor diferença entre rendimento (a mulher ganha 84% do salário do homem). Apesar disso, as mulheres ocupam apenas 32% dos cargos legislativos, 47% dos de alto escalão. Na ponta de baixo está o Iêmen (MDG de 0,136), onde as mulheres ganham apenas 30% do salário dos homens, ocupam 0,7% dos cargos legislativos e têm 4% das posições de alto escalão. No Brasil, elas ocupam 9,4% dos cargos legislativos, 35% dos de alto escalão, e 53% dos postos de gestão.

Nas estatísticas do índice de 2008, a baixa presença das mulheres em cargos legislativos (os menos ocupados por mulheres), de alto escalão e de gerência acontece até mesmo nos países que têm as menores diferenças entre o rendimento das mulheres e dos homens.

Uma das formas de reverter a situação brasileira é “investir numa educação que valorize o papel da mulher no trabalho e encoraje as meninas para áreas mais técnicas”, afirma o consultor do PNUD na área de desenvolvimento humano, Flávio Comim. “Esses dados mostram que o problema brasileiro é no mercado de trabalho, e por isso, as políticas devem ir além de uma universalização da educação, visar valores e qualidade. Devemos traduzir o avanço educacional que tivemos para o mercado de trabalho”.

“As mulheres dedicam 27 horas semanais para os trabalhos domésticos, enquanto os homens dedicam dez, independentemente de trabalharem fora ou não”, acrescenta a assistente do UNIFEM. Ana lembra que um fator importante para a diferença de renda é o tipo de carreira escolhido por cada sexo. Segundo ela, as mulheres procuram cursos como Assistência Social, Enfermagem e Letras, menos valorizados, enquanto os homens, associados a características como objetividade e racionalidade, buscam Engenharia, Direito e Medicina. Para que essa mudança de mentalidade aconteça, Ana acredita na importância da divulgação de dados como o MPG, revelando desigualdade existente entre os gêneros. “É preciso mostrar que este não é um quadro natural”, afirma.

Africanos estão entre os menos desiguais

Os países escandinavos, primeiros no ranking do IDH, disputam os primeiros lugares da lista de países com menor diferença de renda entre homens e mulheres com países africanos, que figuram no final do ranking do IDH. O Quênia, 144º no ranking do IDH, está em segundo lugar em igualdade de rendimento entre os sexos (as mulheres ganham 82% dos homens). Moçambique, 175º no IDH, é o terceiro de menor desigualdade de renda (mulheres ganham 81% do salário masculino). Na lista dos dez primeiros colocados ainda estão duas naçõses africanas — Burundi e Malawi —, com baixo IDH.

A explicação para isso, segundo Comim, está no fato de que ter um desenvolvimento mais baixo não significa que a discriminação contra as mulheres seja maior. A mesma lógica vale pra os países desenvolvidos que, independentemente do alto IDH, apresentam grandes diferenças nos rendimentos feminino e masculino — como é o caso da Áustria (que está em 19º lugar no ranking do IDH e é o 144º na comparação entre rendimentos de homens e de mulheres), do Japão (8º no IDH e 126º na comparação dos rendimentos) e da Itália (19º no primeiro ranking e 117º no segundo) . Comim afirma ainda que os casos específicos do Quênia e de Moçambique podem refletir uma tradição desses países de ter um papel das mulheres forte.

Se um número considerável de países africanos está entre os de menor diferença entre o rendimento das mulheres e dos homens, no final da lista há uma outra constante: os países islâmicos. Os dez últimos lugares são todos de religião muçulmana. A assistente da UNIFEM explica: “Essas desigualdades são convenções sociais, e nos países muçulmanos o papel da mulher é mais subordinado.”

Questão Antiga

A igualdade de gêneros foi tema do RDH (Relatório de Desenvolvimento Humano) de 1995, quando, pela primeira, vez foram calculados a MPG e o IDG (Índice de Desenvolvimento Humano Ajustado ao Gênero). Sobre a importância do assunto, o relatório diz: “O reconhecimento de direitos iguais para mulheres e homens, e a determinação em combater a discriminação de gênero, são conquistas iguais em importância à abolição da escravidão, à eliminação do colonialismo e ao estabelecimento de direitos iguais para minorias étnicas e raciais.” Segundo o relatório, desenvolvimento humano significa o aumento das escolhas para todas as pessoas, não só para uma parte da sociedade. “Este processo torna-se injusto e discriminatório se a maioria das mulheres são excluídas de seus benefícios. A contínua exclusão das mulheres de muitas oportunidades econômicas e políticas é uma contínua acusação ao progresso moderno”, afirma o texto.

Já nessa época, o estudo constatou que as maiores barreiras para a mulher eram a econômica e a política. “A participação da força de trabalho feminina [no total] cresceu somente quatro pontos percentuais em 20 anos — de 36%, em 1970, para 40%, em 1990. Em comparação com dois terços de crescimento no número de mulheres adultas alfabetizadas e nas matrículas escolares.”

PNUD.

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