quinta-feira, 11 de junho de 2015

Relatório Europeu sobre Drogas 2015: tendências e evoluções

Seringa
O declínio da heroína, as melhorias no tratamento da hepatite, menos casos de sida, a “elevada prevalência” dacannabis e o aumento de drogas sintéticas caracterizam o panorama europeu das drogas segundo um relatório apresentado hoje.
Da responsabilidade da agência da União Europeia (UE) de informação sobre droga (European Monitoring Centre for Drugs and Drug Addiction – EMCDDA), com sede em Lisboa, o “Relatório Europeu sobre Drogas 2015: Tendências e evoluções” analisa a situação nesta matéria, numa altura em que completa 20 anos de monitorização do fenómeno.
No documento hoje apresentado em Lisboa, o EMCDDA assinala desde logo uma “estagnação geral” da procura da heroína, diz que o número de pessoas que iniciam um tratamento para problemas associados ao consumo diminuiu 23 mil em 2013, em relação a 2007, e estima que mais de metade dos 1,3 milhões de consumidores crónicos dependentes esteja actualmente num tratamento de substituição.
Tal como o consumo, também diminuíram as apreensões – 5,6 toneladas apreendidas em 2013, na UE, um dos mais baixos números dos últimos 10 anos, e metade do que foi apreendido em 2002 (10 toneladas).
De acordo com o documento, optimistas são igualmente outros números. “Os dados mais recentes revelam que o número de novos casos de VIH atribuídos ao consumo de droga injectada, que tinha aumentado devido aos surtos ocorridos na Grécia e na Roménia em 2011/2012, estabilizou e que o total de casos da UE diminuiu para os níveis anteriores a esses surtos”, diz uma síntese do relatório.
Dados provisórios relativos a 2013, acrescenta, dão conta de 1.458 novos casos de infecções por VIH, em comparação com os 1.974 registados em 2012, invertendo a tendência crescente que se observava desde 2010.
Com menos viciados em heroína, menos hepatite C e menos VIH, subsiste o “desafio” de combater as overdoses(6.100 na UE, em 2013), diz-se no documento, que salienta também a crescente importância da cannabis nos sistemas de tratamento da toxicodependência na Europa.
cannabis (haxixe ou marijuana) continua a ser a droga ilícita mais consumida na UE, estimando a agência que 19,3 milhões de adultos a consumiram no último ano e que um por cento da população adulta é consumidora diária ou quase diária.
Na Europa, o número de utentes que iniciaram o tratamento pela primeira vez devido a problemas de consumo decannabis subiu de 45.000 em 2006 para 61.000, em 2013. O número de emergências médicas devido ao consumo também aumentou nalguns países.
Duas novas substâncias psicoactivas por semana na Europa
Em 2014 foram detectadas na UE duas “novas drogas” por semana, substâncias psicoactivas que normalmente provocam euforia.
A um ritmo que está a preocupar as autoridades europeias, só no ano passado foram detectadas 101 novas substâncias, quando em 2013 tinham sido notificadas 81. Ao todo, diz o relatório, estão a ser monitorizadas 450 substâncias psicoactivas (ou “novas drogas”), mais de metade delas identificadas nos últimos três anos.
Estas novas drogas sintéticas são essencialmente canabinóides (substitutos da cannabis) e catinonas (estimulante parecido com a anfetamina), e só em 2013 foram notificadas 35 mil apreensões destes produtos psicoactivos, embora o relatório diga que o número é uma “estimativa mínima”.
“Na maior parte dos países da EU, o consumo destas substâncias parece ter uma prevalência baixa. Mas, apesar do consumo limitado destas substâncias este pode ser preocupante devido à elevada toxicidade que algumas apresentam”, alerta o relatório.
Quanto ao “aumento acentuado” da potência e pureza das drogas ilícitas consumidas na Europa diz a Agência que tal suscita preocupação com a saúde dos consumidores, que mesmo inconscientemente podem estar a usar produtos mais fortes. A inovação técnica e a concorrência do mercado são dois dos factores que estarão a impulsionar esta tendência, justifica-se no documento.
Depois, acrescenta-se ainda, a Europa está confrontada com um mercado sobrelotado de estimulantes, no qual a cocaína, as anfetaminas, o ecstasy e um crescente número de drogas sintéticas têm como alvo grupos de consumidores semelhantes.
A cocaína continua a ser a droga estimulante mais consumida na Europa, ainda que o uso esteja em queda.
No ano passado, cerca de 3,4 milhões de adultos consumiram, enquanto 1,6 milhões consumiram anfetaminas, com um “aumento acentuado” de consumo de alto risco (injectado).
Quanto ao ecstasy, a agência estima que, no último ano, 2,1 milhões de adultos o tenham consumido
Portugal abaixo da média europeia no consumo e tráfico
Portugal tem baixos índices de consumo e de tráfico de drogas em relação à média da União Europeia.
Em todo o documento, de 82 páginas, Portugal tem uma presença discreta, com excepção no número de diagnósticos de VIH atribuídos ao consumo de droga injectada – 7,4 casos por milhão de habitantes –, quando a média europeia é de 2,9 casos. Apenas cinco países estão acima de Portugal.
Nos restantes indicadores, os índices estão sempre abaixo da média europeia. No consumo de cocaína, por exemplo, a percentagem de consumidores adultos (15 a 64 anos) está em 1,2, quando a média da UE é de 4,6 por cento. Já a percentagem dos jovens que dizem ter consumido nos últimos doze meses é, em Portugal, de 0,4 e na Europa de 1,9.
Quanto ao consumo de anfetaminas, a prevalência em Portugal é de 0,5 por cento, bastante menos do que a média da UE, 3,5 por cento. Na Dinamarca, a prevalência em adultos, ao longo da vida, é de 6,6 por cento e, no Reino Unido, chega-se aos 11,1 por cento.
No ecstasy, a tendência é a mesma: Portugal com uma prevalência (adultos, ao longo da vida) de 1,3 por cento, contra os 3,6 por cento da média europeia. Abaixo de Portugal, apenas estão a Grécia, o Chipre, Malta, Polónia e Roménia. Os índices mais altos pertencem à Irlanda (6,9) e ao Reino Unido (9,3).
Quanto à cannabis (não há dados de Portugal quanto aos opiáceos), Portugal tem uma estimativa de prevalência de 9,4 por cento (adultos, ao longo da vida) e a UE chega aos 23,3 por cento. Os romenos são os que menos usaram cannabis (1,6) e os que apresentam maiores consumos são os franceses (40,9), seguidos dos dinamarqueses (35,6) e dos espanhóis (30,4).
Segundo o relatório, em termos gerais as estatísticas referem-se a 2013 mas, por vezes, variam consoante o país, sendo sempre os mais actualizados. Nele compara-se ainda o número de mortes devido à droga por milhão de habitantes, tendo Portugal contabilizado 21 casos, o que dá três mortos por milhão, quando a média na UE é de 17,3 por milhão. A Estónia destaca-se com os seus 126,8 mortos por milhão de habitantes.

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