terça-feira, 24 de março de 2015

Livreiros e Bibliotecários

João Baptista Herkenhoff
 
          Não será por falta de datas comemorativas que         o livro será esquecido. Quatro lhe são dedicadas: 2 de abril, Dia Mundial do Livro Infanto-Juvenil; 18 de abril, Dia Nacional do Livro Infantil; 23 de abril, Dia Mundial do Livro; 29 de outubro, Dia Nacional do Livro.
Além disso, dois profissionais que levam os livros às mãos dos leitores são lembrados em datas específicas: 12 de março, Dia do Bibliotecário; 14 de março, Dia do Livreiro.
          Devo a uma bibliotecária grande parte do amor que adquiri pelos livros. Era a responsável pela Biblioteca Municipal de Cachoeiro de Itapemirim. Transmitia aos frequentadores o gosto que ela própria tinha pela leitura. 
          Dona Telma, a bibliotecária de minha infância, faleceu subitamente, junto a seus filhos, na Praia de Piúma. Hoje está em outras paragens, cercada de livros azuis.
          Assisti certa vez a uma entrevista do Ziraldo, na televisão, a respeito do livro. Ziraldo dizia que o livro nunca será substituído. Não há avanço da informática que o torne dispensável porque o livro tem mistério, um especial poder de comunicação.
          O livro tem alma.  Acho que foi isso que Ziraldo quis dizer. Uma coisa é ler um livro na internet. Outra coisa é ler um livro impresso da forma tradicional. Há livros que leio, e releio, e releio. Tenho a sensação de estar conversando com o autor. Escrevo notas à margem das páginas e nessas notas registro impressões: concordo; discordo; magnífico; esse Rubem Braga é mesmo um cachoeirense do barulho; esse Papa Francisco vai virar o mundo pelo avesso.
          Neste final de página registro um fato ocorrido com Nestor Cinelli, o maior livreiro que o Espírito Santo teve em toda a sua história.
          Entrou Cinelli numa livraria do Rio de Janeiro e ficou a manusear os volumes que estavam na prateleira. Uma determinada obra despertou seu especial interesse. Viu o preço anotado a lápis. Não dava para comprar. Nisto um senhor que parecia ser o gerente, indagou:
“Por que você recolocou na prateleira aquele livro que você estava lendo?”
 “Deixei onde estava, senhor. Meu dinheiro não é suficiente.”
“Deixe-me ver essas notas que você contou e recontou. Veja só. Contou errado. Esse dinheiro basta. Vá lá e pegue o livro.”
“Senhor, já que vai me vender o livro por menos da metade do preço peço-lhe que o autografe. Nunca tive um livro autografado por um livreiro.”
          E o livreiro então lançou o autógrafo:
“A este menino curioso, que será um grande escritor, ou um grande livreiro, com um abraço do
Monteiro Lobato.”
 
João Baptista Herkenhoff, magistrado aposentado,  Livre-Docente da Universidade Federal do Espírito Santo, escritor e palestrante. Autor de: Dilemas de um juiz: a aventura obrigatória (Rio, GZ Editora).
 
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